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Poder do prāṇa

Quando vivemos buscando a essência do equilíbrio no misticismo do espaço mítico

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Autor/Imagem:
Carlos Eduardo G. Barbosa - Foto Produção Divisão de Arte/IA

A vida transcorre em pelo menos dois espaços distintos: um espaço material; e um espaço mítico. Os dois são reais, mas um é objetivo e o outro é subjetivo. As culturas contemporâneas costumam desdenhar o subjetivo e o mítico como se fossem falsos, sem fundamentos, mentirosos. Mas, talvez não seja bem assim. Nossa vida transcorre inteira dentro do universo subjetivo, no qual se consolidam nossas opiniões, crenças, valores e outras significações que damos aos componentes do mundo objetivo.

Sem o mundo subjetivo, a vida é impossível. Todo poder que consumimos ou conquistamos vem apenas do mundo subjetivo. Esse mundo interno, onde reside o EU que cada um de nós somos, é povoado e preenchido pelos mitos. Os mitos são as narrativas com as quais construímos a imagem que temos de nós mesmos, seja como indivíduos, seja como coletividade.

Os objetos do mundo material têm qualidades objetivas: propriedades químicas; propriedades físicas; medidas; duração. Todos eles são fontes de estímulos sensoriais, direta ou indiretamente. Mas nenhum deles tem significado próprio, pois isso lhes é dado pela ação subjetiva do observador.

O espaço subjetivo também tem qualidades, que são integradas entre si para dar força e sentido ao mundo externo. As maiores forças naturais parecem ser também as mais sutis e subjetivas. De acordo com a tradição hindu, todas elas se resolvem no prāṇa, a força do movimento puro. Essas forças operam como vetores matemáticos no desenho do espaço mítico, dando dinâmica a ele. O prāṇa tem o poder de dar corpo e expressão ao divino que habita dentro de nós.

A presença dos elementos geométricos nas construções pré-históricas, assim como sua orientação baseada no Sol, na Lua, em Vênus ou Júpiter, sugere que nossos ancestrais sentiam a necessidade de geometrizar o espaço interno da mente em harmonia com a ordenação do espaço externo. Essa ação levaria o mundo externo a também se ajustar e revelar a sua forma natural, da maneira mais adequada para cada indivíduo.

As principais referências que qualificam o espaço mítico são as direções naturais, o horizonte, o zênite e nadir. Nos mitos da Índia, cada um desses marcos espaciais está associado a um deus protetor (dikpāla). Isto significa que cada um deles tem um significado específico e uma força correspondente, parte da qual necessitamos para manter íntegra a nossa existência, e outra parte precisamos para aplicar em tarefas condizentes com o nosso dharma, a nossa vocação.

O centro do espaço é o assento do EU eterno e infinito, o Puruṣa ou Brahma, de onde vêm todas as coisas e todas as criaturas. O marco referencial do espaço sagrado deve ser interiorizado, ou seja, focado no centro, no coração, para que a morte seja vencida e a imortalidade do espírito se torne uma experiência vivencial para a pessoa.

Essa interiorização da metageografia se faz com mais facilidade por meio da percepção vivencial dos mitos. Essa era a experiência central nos ritos iniciáticos da Antiguidade. Ela é, também, a origem do próprio ritual, por meio do qual se organiza o aspecto sagrado da natureza externa, e se evoca o aspecto divino da natureza interior.

O cimento para a construção desse espaço subjetivo é a fé. As pedras e os glifos com os quais se constrói o espaço-templo, ou sobre os quais ele se sustenta, são palavras. Palavras mágicas, ou seja, palavras divinas pois expressam somente a verdade. Constrói-se dessa maneira um templo discursivo, por meio do qual a mente se acalma e se ilumina, preenchida pelo entusiasmo do dharma.

Esse é o caminho proposto pelo Hinduísmo para alcançar o equilíbrio da mente. Uma via pavimentada pelo poder das palavras, que conduz o meditador ao centro do universo, oculto dentro de seu coração.

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Carlos Eduardo G. Barbosa é Membro Colaborador do Colégio dos Magos e Sacerdotisas – @carloseduardogozalesbarbosa/@colegiodosmagosesacerdotisas

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