Notibras

Quarta dose de Russel Roniquito, atropelando Geisel e sendo atropelado

Uma noite no bar. O garçom Marcos Vasconcellos, Roniquito Chevalier, Nelson Motta, Chico Buarque e Lucio Rangel. Foto/Arquivo Notibras

José Escarlate

Um dos grandes amigos que tive na mocidade foi Ronald Russel Wallace Chevalier, o Roniquito. Conhecemo-nos na TV Rio. Era um economista brilhante. Ex-aluno de Octávio Gouveia de Bulhões, Roberto Campos e Mario Henrique Simonsen. Na graduação, foi o orador da sua turma, onde estava Maria da Conceição Tavares. Simonsen – derrotado por ele no xadrez – e Walter Clark, tinham adoração pelo Roniquito. Era uma dama.

Bem-nascido, bem vestido, bem-falante e economista de linhagem, que recitava Shakespeare ou Baudelaire. Dali a três ou quatro uísques ele se transformava. Em 1967, o marechal Costa e Silva, já presidente, foi almoçar no Museu de Arte Moderna, no Rio. Por coincidência, Roniquito também estava lá ciceroneando um americano, a pedido de Simonsen. Antes, os dois passaram no bar para alguns uísques. O americano era bom de copo.

Com segurança relaxada, o presidente cruzou com Roniquito no momento em que ele procurava no bolso o isqueiro. Com o cigarro no canto da boca, Roniquito viu o presidente. Avançou e perguntou: “O senhor tem fogo?”. Os seguranças pularam sobre ele. O americano, já tocado, não entendia nada. E misturava as estações. Sem entender o que se passava, disse algo como “What the god dam fuck do you think you’re doing”. Foi também abotoado.

Foram levados para o distrito, por desacato à autoridade. Ao delegado, o americano reclamava:”I’m an American citizen! Call the embassy!”. De olho arregalado, o delegado perguntou: “Quê que o gringo tá falando?”. “Ele tá dizendo que a polícia no Brasil é uma merda”- traduziu Roniquito. Foi uma luta para Simonsen livrar o Roniquito dessa.

Conta o jornalista Ruy Castro, também seu amigo, que certa noite, no restaurante Antônio, no Leblon, berço de endinheirados da época, Roniquito esbarrou em um cidadão fino, bem postado. Não gostou e xingou o homem. Surpreso, o senhor soltou o clássico “sabe com quem está falando?” E arrematou: “Eu sou o Nascimento e Silva” – à época, ministro de Estado. O Roniquito, sem perder o rebolado, indagou: “Esquina com que rua?”

Para quem não sabe, Nascimento e Silva é uma das principais ruas de Ipanema, que atravessa todo o bairro.

Roniquito, que era irmão da saudosa jornalista e escritora Scarlet Moon de Chevalier, minha colega n’O Globo, embriagado, foi atropelado em frente ao Antônio por um carro em alta velocidade. Levado para o hospital Miguel Couto foi operado. Contam que, na maca, ainda pediu uma vodka à enfermeira. Morreu aos 45 anos de idade.

Sair da versão mobile