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Que os bons ventos do Pacífico cheguem ao Brasil do capitão

O despreparo, as más companhias, as bravatas, as ordens estapafúrdias, a força que supunha ter e, principalmente, o descrédito do semelhante, são os maiores inimigos da perfeição humana. Imagina tudo isso junto em um governo que prometeu mundos e fundos ao eleitorado e que não cumprirá sequer o golpe acertado com os antidemocratas fanáticos. Dos gritos iniciais para calar as instituições que prezam a democracia e na direção dos que desacreditavam dos seus discursos restaram alguns ruídos dirigidos à imprensa amaldiçoada exclusivamente por reportar a sequência de mal feitos. Nada além de ruídos. Primeiro ano da década, 2021 só não terminará pior do que começou porque, mesmo contra a vontade do mandatário, os homens de bem conseguiram controlar a pandemia que transformou em número pelo menos 635 mil brasileiros.

Seriam muito mais não fosse a intervenção dos demais poderes, sobretudo dos governadores e prefeitos preocupados com a vida. O negacionismo a partir do Palácio do Planalto ainda não acabou. Ele tomou conta de boa parte da Esplanada dos Ministérios, mas, graças aos céus, foi contido antes que o povo, a exemplo da Amazônia, virasse cinzas. Os negacionistas são similares ao mais agressivo dos carcinomas. Entretanto, como se fossem doses cavalares de quimioterapia, o descontrole nacional acabou contribuindo para evitar a contaminação generalizada do eleitorado. Inflação nas alturas, fome, desemprego, dívida crescente, ideologia descapitalizada e denúncias diárias de corrupção ajudaram a por os pingos nos is das mentirinhas inventadas pelo mito e sustentadas pelos apoiadores cada vez mais perdidos no rami rami amadorístico do falso líder.

A verdade é que 2021 está se esvaindo e não temos nada para comemorar. Econômica, política e socialmente foi o ano que não existiu para os brasileiros. E não há milagre imediato capaz de inverter a ordem. O milagre mais próximo só em outubro de 2022, quando voltaremos às seções eleitorais para tentar eleger um presidente comprometido com o país e com o povo. É apenas disso que precisamos. O problema é que milagres acontecem todos os dias, mas só quem caminha de olhos e coração abertos conseguem vê-los. Será que até lá alcançamos esse estágio? Tomara. O fato é que estamos todos com os nervos à flor da pele. Qual o caminho a seguir? Só temos um, o caminho da liberdade, da paz e da união. Sem esse tripé, estaremos fadados a novos e angustiantes fracassos políticos.

Como disse recentemente o presidente de uma legenda dissidente do governo, é mais fácil unir pessoas em torno do objetivo de afastar alguém. É a mais pura verdade. Gera tranquilidade partidária e até interpessoal unir eleitores, partidos e projetos quando a maioria do eleitorado sabe o que não quer. E, baseado nos resultados das últimas pesquisas de intenção de votos, está claro que o povo não quer mais aqueles que dormem e acordam tentando acabar com a democracia, com a liberdade de imprensa, com as instituições. Fazendo minhas quaisquer palavras contra o arbítrio, lembro a manifestação do presidente eleito do Chile, o democrata e progressista Gabriel Boric, logo após a vitória de virada sobre José Antônio Kast, representante da extrema-direita.

Pinçada do discurso, a frase “nunca, por nenhum motivo, poderemos voltar a ter um presidente que declare guerra a seu próprio povo” parece que foi redigida a pedido de milhões de brasileiros. Obviamente não foi, mas poderia ter sido. O que o novo presidente chileno também disse é que “não se governa para o povo sem o povo”. Que os bons ventos do Oceano Pacífico cheguem até nós do Atlântico, e alcancem o capitão. Que esses ventos se consolidem com o novo ano que se avizinha. Que, como Boric, sejamos herdeiros da trajetória daqueles que, mesmo com posições diferentes, lutaram incansavelmente pela justiça social, pela igualdade entre os cidadãos. Que em outubro de 2022 consigamos eleger alguém com discurso pelo menos parecido. Como disse o mestre Tiririca, pior do que tá não fica.

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