Bye, reacionário
Queda de Ernesto acaba com a diplomacia da vergonha
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emNotibras antecipou às 21h19 do domingo, 28, o que foi confirmado no final da manhã desta segunda, 29: a demissão do chanceler falastrão Ernesto Araújo. Maioria representativa no governo federal, o grupo de ultradireita ligado ao encantador de serpentes e reprodutor ideológico Olavo de Carvalho parece que já não está acima do bem e do mal. Pior do que isso, se achava poderoso, indemissível. Após uma semana de protagonismos absolutamente nocivos à imagem (?) do presidente da República, o ministro Ernesto Araújo e o assessor internacional Filipe Martins permaneceram nos cargos por poucos dias. Ambos tiveram a cabeça sonhada por pelo menos dois terços da Esplanada dos Ministérios, mas, apesar dos estragos causados às relações com nações parceiras, à diplomacia, ao Congresso Nacional e ao Judiciário continuaram merecendo o beneplácito do apoplético Jair Bolsonaro, até que veio a gota d’água. O Brasil está isolado do mundo moderno, mas isso é apenas um detalhe para o reacionarismo rabugento desse povo.
Pode não ser – tomara que não seja -, mas a impressão que fica é que a turma da ideologia, incluindo 01, 02, 03 e 04 tem o controle absoluto do Palácio do Planalto. Apaixonado pelo amarelão Donald Trump, Ernesto Araújo levou o Brasil a se indispor com os Estados Unidos de Joe Biden e com a China de Xi Jinping, produtora mundial da CoronaVac. Não fosse a iniciativa da direção do Instituto Butantan, ligado ao governo de São Paulo, certamente até hoje estaríamos mendigando imunizantes de terceiros, quartos e quintos, como ocorreu com o recebimento gratuito de oxigênio de Nicolás Maduro, líder esquerdopata da Venezuela. Aliás, ninguém foi informado se o presidente Maduro recebeu algum agradecimento público pelo menos de nossa Chancelaria.
De péssima lembrança para o Brasil e para o mundo, notadamente para o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (DEM-MG), o assessor especial Filipe Martins ainda sobrevive, mas por pouco tempo. É aquele cidadão que, imaginando estar na sala de estar de sua casa ou despachando com companheiros da Presidência, proferiu gestos obscenos e racistas contra Pacheco. A ignorância do rapaz foi filmada durante uma sessão em que os senadores cobravam de Ernesto Araújo sobre sua atuação à frente do Ministério das Relações Exteriores, consequentemente a respeito dos atrasos na compra de vacinas. Araújo nada tinha para explicar, mas, junto com o discípulo número 1 olavismo, saiu do Congresso pela porta dos fundos. E de lá deverá sair escoltado quando tiver seu nome apreciado para qualquer outro cargo que exija aval dos senadores.
Digo outro cargo porque o presidente da República não costuma deixar ao léu seus parceiros de ódio. Lembram do ex-ministro da Educação, Abraham Weintraub, outro filhote de Olavo de Carvalho? Depois de esculhambar seu berço, destilar veneno por onde passou, ferir de morte o vernáculo e “desmilinguir” o MEC, fugiu e acabou indicado por Bolsonaro para a graciosa função comissionada de diretor do Banco Mundial, onde, recebendo em dólar, ri dos brasileiros que odeia. Também não devemos esquecer que por pouco não se configurou a indicação do deputado federal Eduardo Bolsonaro, o 03, para o disputado posto de embaixador brasileiro em Washington, por onde já passaram nomes como Amaral Peixoto, Walther Moreira Salles, Marcílio Marques Moreira, Paulo Tarso Flecha de Lima e Sérgio Amaral, todos com vasto conhecimento de política externa.
E, sejamos justos, o nome de 03 não surgiu do nada. Como ele mesmo disse à época, tinha “vivência pelo mundo”, pois, além de alguns intercâmbios, havia fritado hamburguer nos Estados Unidos. Nada muito diferente de Ernesto Araújo, que sentou até agora na cadeira ocupada por Celso Lafer, Celso Amorim, Rubens Ricupero, Fernando Henrique Cardoso, Francisco Rezek, Felipe Lampreia, Roberto de Abreu Sodré e Saraiva Guerreiro, entre outros craques preocupados com a “diplomacia da vergonha”. A última de Araújo foi acusar a presidente da Comissão de Relações Exteriores do Senado, Kátia Abreu (PP-TO), de pressão pelo 5G chinês. Ainda que seja verdadeiro o pedido da senadora, o chanceler, na tentativa de desqualificar a parlamentar, mostrou absoluto despreparo ao fofocar o que não devia. Resultado: conquistou a ira até daqueles que ainda tentavam segurá-lo na Esplanada. Escolhe-se, agora, o número do jazigo.
Não deve ser considerado exagero afirmar ser inconcebível para um país mundialmente conhecido pela alegria e musicalidade de seu povo, pela molecagem do futebol (hoje nem tanto), pela grandeza e beleza natural de seu território e pela naturalidade (às vezes até demais) do carnaval ter como responsáveis pela política externa duas destemidas personagens, cujas trajetórias no governo se resumem a alcunhar de comunistas os que não concordam com suas ideias, a atacar a imprensa, desnudar as mazelas nacionais e a odiar os que amam o Brasil livre. São porta-vozes do mais primitivo sentimento do ser humano. Por tudo isso, me permito sugerir aos críticos daqueles que, em nome da vida, defendem o lockdown, o uso da máscara e o recolhimento social que cobrem do sucessor de Ernesto Araújo e de quem venha para a vaga a ser aberta com a também saída de Filipe Martins, urgência na compra de imunizantes. Os dois saírão do Brasil. Muito provavelmente apoiados pelo presidente, que deve jogá-los num carguinho dolarizado na terra de Tio Sam.
*Wenceslau Araújo é jornalista