Quem avisa amigo é, diz general. E tudo ficou calmo

José Escarlate

No Congresso, quando se decretava o AI-5, o gabinete do presidente da Câmara, deputado José Bonifácio de Andrada e Silva, estava lotado de parlamentares que acompanhavam pelo radio as informações sobre a reunião do Conselho de Segurança Nacional, no Rio, e o anúncio dos deputados cassados.

Como até momentos antes a Casa estava em sessão plenária, o deputado federal Celso Passos exigiu de José Bonifácio que reabrisse os trabalhos, que haviam sido encerrados. Não foi atendido e Celso Passos, filho do falecido ministro Gabriel Passos, argumentou de forma ofensiva: “Seja mais Andrada e menos Zezinho”. Surpreso com a atitude insólita e agressiva do conterrâneo, José Bonifácio fez o tradicional gesto com os dois braços e disse “toma !”, dando-lhe uma sonora banana.

Mas isso ainda não era tudo. Logo após o presidente da Câmara deixar a Casa, Luciano Brandão, Diretor-Geral, e Paulo Affonso Martins de Oliveira, Secretário da Mesa, foram procurados por um emissário do Comandante Militar do Planalto, general Antônio Bandeira, da extrema linha dura, que desejava ter uma conversa reservada com ambos, em seu gabinete, no Ministério do Exército, que funcionava ainda na Esplanada dos Ministérios.

Segundo Paulo Affonso, os dois foram recebidos pelo militar, que trajava uniforme de campanha e portava pistola calibre 45, no coldre. Acompanhado de membros do seu Estado-Maior, o general Bandeira foi curto e grosso no seu comunicado:

“A informação que temos é a de que os senhores são dedicados à instituição, e não são políticos”. E acrescentou solenemente: “A partir de hoje ambos serão responsáveis pelo prédio da Câmara dos Deputados. Se houver alguma reunião ou alguma manifestação política em qualquer dependência do edifício, nós o invadiremos e vamos ocupar militarmente o prédio”. Agradeceu a presença de Luciano Brandão e de Paulo Affonso, virou as costas, e retirou-se, com seus auxiliares.