“Se alguém cometer um crime, a regra é que essa pessoa tem de ser punida. Não pode ser colocado um sistema de faz de conta “, afirmou o juiz Sérgio Moto na noite desta segunda, 26, em entrevista ao programa Roda Viva, da TV Cultura. O magistrado manifestou esperança de que o Supremo Tribunal Federal tome a melhor decisão no caso do habeas corpus para o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Condenação em segunda instância, disse, é para ser cumprida.
Na opinião de Moro, caso o tribunal reveja seu atual entendimento, os brasileiros devem cobrar de seus candidatos a possibilidade de reinstituir a prisão provisória por meio de uma proposta de emenda à Constituição (PEC).
“Tenho esperança de que o precedente não vá ser alterado. Se o STF rever esse antecedente, temos de pensar em uma opção. Pode-se cobrar dos candidatos a presidente uma posição sobre corrupção. Pode-se restabelecer a execução de pena por emenda constitucional”, afirmou.
O juiz da Lava Jato alegou ainda que apenas cumpriria as ordens do Tribunal Regional Federal da 4ª Região (TRF4) caso venha a determinar a prisão do ex-presidente. Condenado a 12 anos e um mês de prisão, Lula pode ser preso a qualquer momento caso o Supremo rejeite seu habeas corpus preventivo, cuja discussão será retomada no próximo dia 4 de abril.
Durante o Roda Viva, Sérgio Moro citou elogiosamente três ministros do Supremo. Celso de Mello, Edson Facchin e Rosa Weber. E caprichou no elogio à última. Mas também pôs pressão com sutileza, uma vez que Rosa Weber é considerada um dos votos que poderá ser o fiel da balança no julgamento do mérito do habeas corpus de Lula.
Para o juiz Sérgio Moro, o brasileiro não é um povo mais corrupto do que os outros. “O brasileiro, pelo que vejo, quer um País mais íntegro”, disse. “A corrupção existe em qualquer lugar do mundo. Um detalhe que pode fazer a diferença é a impunidade. Precisamos reduzir essa impunidade. Reduzindo isso, certamente reduziremos o nível de corrupção”, acrescentou.
Perguntado sobre um eventual futuro político, o juiz evitou tocar no assunto, mas falou sobre as eleições, dizendo que “há bons candidatos nas eleições, mas há também políticos não tão bons. Há outros políticos que merecem juízo maior de censura. Mas, nós brasileiros, não podemos chegar cabisbaixos nas eleições”, avaliou.
Na sua entrevista ao programa Roda Viva, da Cultura, o juiz Sérgio Moro disse que um “sistema judicial engessado leva à impunidade dos poderosos”.
Para o juiz Sérgio Moro, a decisão de liberar o conteúdo dos áudios das conversas entre Lula e Dilma Rousseff não foi um erro. Moro também acrescentou que não viu problema na decisão do então ministro Teori Zavascki, já falecido, de rever a liberação dos áudios. Sobre isso, ele foi categórico: “Agi com a pretensão de fazer a coisa certa. A revisão de decisões de um juiz por outro faz parte da natureza do Judiciário. O ministro Teori achou diferente, eu respeito”, sublinhou.