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Vaivém retal

Quem experimenta o Novembro Azul normalmente exige reconstituição

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Autor/Imagem:
Wenceslau Araújo* - Foto de Arquivo

No balancê dos prazeres incontidos e inconfessáveis, o Novembro Azul ainda vai pela metade, mas, por conta das dores sentidas, já ultrapassou os sussurros, os murmúrios e as lamúrias do Outubro Rosa. A expectativa da repetição será longa, mas a realidade é que, conforme estimativas extraoficiais, foram-se muitos anéis e ficaram alguns dedos. Na verdade, ficou o dedo médio na memória de muitos machos alfas inveterados, do tipo cafajestes de periferia dominada pelas meretrizes. As histórias ouvidas em consultórios urológicos dariam um compêndio. Como preciso de autorização prévia para contá-las, meu limite são as que me foram contadas. Mesmo assim com ressalvas.

Conheço alguns que foram tocados, reagiram com algumas mordidas no canto da boca, mas, em nome do sucesso do exame, tiveram de desgrampear o DNA nadegal. Ou seja, supostamente sob protesto, perderam a decantada virgindade medial. Outros sofrem silenciosamente e, durante as noites chuvosas, choram às escondidas só de lembrar da mordida na fronha segundos após a fricção dos dedos indicador e anular do médico urologista. Portador de miopia e astigmatismo em último grau, consequentemente usuário de bifocal duplo, soube que costumeiramente o profissional se confundia com os dedos.

Não tenho informações a respeito das repetições do troca-troca. Independentemente disso, desde a notícia torço para que o doutor não tenha ultrapassado o sinal vermelho e tocado no semáforo cookie pisca do coitado com os dois dedos juntos. Aí seria caso de indenização judicial ou, na pior das hipóteses, um habeas corpus nabudonosonico exigindo a imediata reconstituição do culposo crime. É o que tem feito a maioria dos usuários do Novembro Azul. Esse tipo de recurso judicial dispensa a figura de advogados e normalmente qualquer juiz decide em questão de minutos. É só o tempo de sua excelência avaliar diâmetro e circunferência.

Problemas e sensações impertinentes à parte, a agenda do médico Léo Fizza Now está lotada. Particular ou no plano sem carência, a disponibilidade de vaga é só para o Novembro Azul de 2030, coincidentemente o ano da redenção do ex-presidente Jair Bolsonaro. Até lá, os interessados podem procurar o assistente de Fizza Now. Nissei, o doutor auxiliar atende pelo pouco chamativo nome de Kotoba Nokano. Caso haja necessidade, Rogério H Romeu é o anestesista dos anais. Nada de estremecer masmorras intocáveis, principalmente porque, ao contrário do titular, Kotoba Nokano costuma examinar os pacientes que sobram a quatro mãos.

Não sei se me entendem, mas o que quero dizer é que o toque retal acaba sendo um vaivém de dedos para lá, dedos para cá. Digo isso com base na informação de que, diante da pergunta sobre onde colocar a roupa, o doente urológico sempre ouve a mesma resposta: Em cima da minha. O feedback pode ser pouco republicano, mas, como recomenda a medicina de família, importante é o resultado. É emoção que não se acaba. Dizem até que, de tão feliz, o sujeito sai do consultório anexo ao de Fizza Now igual a um carrinho comprado na Feira do Paraguai. Em outras palavras, é só começar a brincar que ele solta a rodinha. Mais uma piada de radicais, aqueles que esquecem que ninguém sai vivo dessa vida.

Para os poetas de padaria, melhor do que a saudade do pássaro que pousou no seu dedo é o frescor do dedo que picou seu ninho. Já os repentistas do Nordeste acham que o catuque do médio no afolozado dói tanto quanto trancar o dedo numa porta ou quanto bater a cabeça na quina da mesa. Não tive o prazer de conhecer os médicos citados. Que eles permaneçam somente no meu imaginário. Fico com o que já tenho. Sem medos, entro com meus fundos em uma sala onde a maca é cor de rosa e a médica tem os dedos de veludo, apesar do nome adotado depois da cirurgia para mudança de sexo: Ana Konda. Para esse período de descobertas golpistas diárias, nada melhor do que, após o colóquio com o urologista, me recolher ao aconchego unitário do lar, onde me espera a doce Tâmara, aquela que só dá uma vez por ano.

………….

*Wenceslau Araújo é Editor-Chefe de Notibras

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