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Rollemberg pisou na bola

‘Quem não gosta de samba, bom sujeito não é…’

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Autor/Imagem:
Paulo Victor Chagas

Diante de um público tímido e em uma noite de temperatura amena após um dia chuvoso, as seis escolas de samba do grupo especial do DF iniciaram nesta sexta-feira (2) as apresentações deste ano no complexo cultural da Funarte, no centro de Brasília. Pelo quarto ano consecutivo, o carnaval da capital do país não terá um desfile formal, com competições entre as escolas, mas o chamado Brasília Samba Show. O evento, que ocorre com a presença de artistas de expressão nacional, tem como objetivo manter as agremiações em evidência enquanto não voltam à programação tradicional da folia.

O Brasília Samba Show é uma forma paliativa de dar visibilidade às escolas de samba do Distrito Federal, que não desfilam em uma competição oficial carnavalesca desde 2014. O motivo é a falta de dinheiro. Segundo o governo do Distrito Federal, o orçamento destinado nos anos anteriores ao desfile era de R$ 6 milhões. Atualmente, estão previstos gastos de apenas R$ 5 milhões para todo o carnaval, incluindo o financiamento de bloquinhos de rua, as escolas e os demais custos com a estrutura.

“Infelizmente não tivemos o carnaval por mais um ano, mas estamos tentando manter a cultura do samba e dos desfiles ainda viva”, afirma o diretor da União das Escolas de Samba e Blocos de Enredo do Distrito Federal (Uniesbe), Adriano Gardini.

Presidente da primeira escola a se apresentar ao público, a Império do Guará, Edvaldo Lucas reclama da falta de tempo para organizar as escolas. Segundo ele, somente em janeiro o governo confirmou as atrações e, até o dia de hoje, o financiamento não havia sido liberado. “Isso aqui, eu estou fazendo do meu bolso, para depois entrar o recurso e eu cobrir cheques meus. Um monte de coisa que a gente fica até com medo”, afirmou.

O gestor da escola defende que haja um trabalho contínuo de preparação para o Carnaval, com, pelo menos, seis meses de antecedência, mas como se considera um amante do samba, diz ainda ter esperanças de que o carnaval brasiliense melhore.

“É como se você torcesse para um time de futebol, e você tem paixão. Quem gosta de samba, de escola de samba, tem essa visão. Cuidar. E isso, a gente cuida, porque a gente sabe que a comunidade e muitas vezes até com salário a gente ajuda. Tem uma série de coisa por trás que, quem não conhece, não sabe. Mas a gente espera que o governo venha, abrace as escolas, porque isso atinge totalmente a comunidade, a família mesmo”, afirma.

Em 2017, apenas as seis escolas do grupo especial desfilaram, em proporções menores, e saíram separadas, com blocos carnavalescos ao longo da cidade. Neste ano, a ideia foi reunir as escolas em um mesmo dia, mas com o dobro de recursos: de acordo com a Secretaria de Cultura do DF, R$ 600 mil serão distribuídos igualmente entre elas. Ao todo, a festa de hoje custará R$ 955 mil, incluindo as contratações de dois shows, que vão ocorrer até a madrugada deste sábado (3).

De acordo com Edvaldo Lucas, diferentemente das 800 pessoas que em geral compõem uma escola de samba de grupo especial, cada agremiação deve contar com cerca de 80 integrantes este ano.

Passista – A passista da Unidos da Vila Planalto e do Lago Sul, Ana Cláudia Sousa, que esperava o momento de entrar no palco com sua escola, diz que a iniciativa é uma forma de estimular as comunidades a não abandonarem a tradição, mas aponta alternativas que devem ser promovidas ao longo do ano, e não somente durante o Carnaval.

“Ajudar nos barracões de todas as escolas, incentivar a galera a tocar bateria e a ter mais baterias, porque às vezes a gente toca com a bateria emprestada. Além de ser bom para o Carnaval, isso é bom até para integrar as crianças de rua, é uma inclusão”, sugere.

A massoterapeuta Luciana Oliveira, que curtia as apresentações antes de participar do desfile da Associação Recreativa Cultural Unidos do Cruzeiro (Aruc), também dá dicas para o samba brasiliense tocar de uma forma mais ritmada. “Oficinas nas escolas, divulgação melhor da parte do governo, além da verba, que não está sendo liberada totalmente. Investimento é o principal, porque R$ 100 mil não dá nem para começo de conversa”, explica ela, que há 20 anos faz parte da Aruc.

Desde o ano passado, um grupo de trabalho foi criado com a participação do governo distrital e representantes das escolas de samba com o objetivo de encontrar soluções para o financiamento da folia. O GDF alega que ainda não é possível confirmar se haverá ou não desfile em 2019, mas a intenção das conversas, que devem continuar nos próximos meses, é gerar sustentabilidade às agremiações, inclusive por meio de editais lançados não apenas na época do Carnaval.

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