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Quem não tem o que dizer combate o comunismo onde não há comunista

Embarcando na tese popular de que cobra que só rasteja não engole sapo, venho tentando encontrar uma resposta sadia para minha consulta a respeito daqueles políticos que, preocupados somente com o ego, dormem, acordam, sonham e respiram somente a próxima eleição. Não pode ser normal um cidadão que, sem qualquer escrúpulo ou conhecimento de causa, esquece o histórico negativo da política brasileira e viva exclusivamente pela perpetuação no poder. O que é mais lamentável e desanimador em uma sociedade plural como a nossa não é o fato dela acreditar em falsos políticos, mas sim de se identificar com eles.

Infelizmente, o Brasil de hoje é refém de políticos mal-intencionados, os quais se multiplicam conforme a vontade do eleitor. Como um câncer metastático, a maioria deles se utiliza do radicalismo para envolver incautos, ingênuos ou terroristas fantasiados de patriotas que, como eles, não estão nem aí para as consequências de seus atos. Apenas para ilustrar, os deputados e senadores com um mínimo de consciência sabem que a pendenga inventada contra o Supremo Tribunal Federal é só para inglês ver.

Não é novidade para ninguém que, em todos os segmentos da vida, cutucar o vespeiro com vara curta significa picada na certa. Como boa parte dos congressistas deve à Justiça, eles são sabedores de que, no caso das agressões casuísticas dirigidas ao STF, o castigo talvez esqueça o cavalo, chegue à jato e os pegue antes que alcancem a primeira curva à direita. A tese deles é simples: enquanto a jurupoca não pia, melhor atacar para tentar se defender. O fato é que estão perdendo tempo as excelências que se acham com poderes suficientes para modificar as regras do jogo com o jogo sendo jogado. Nem os generais de 1964 tentaram tal aberração.

As manifestações belicosas na direção dos ministros do Supremo e do atual ocupante do Palácio do Planalto são absurdamente encomendadas. Quem duvida que me aponte uma outra fonte. Por essa razão, sou obrigado a voltar ao início da narrativa para lembrar a todos que evoluir dói, mas é uma dor necessária. Ninguém precisa mudar, apenas crescer mental, filosófica e socialmente. Ao longo de minhas escrevicências, vi de políticos presos que se reelegeram a políticos soltos que ainda serão presos. Também vi políticos presos e soltos que não se emendaram.

Como pena máxima, nenhum deles foi eleito ou reeleito. Alguns floresceram. Outros pereceram. Os que não se transformaram acabaram sofrendo as duras consequências da evolução. Resumindo, tudo evolui. Aquilo ou aquele que não melhora e se aprimora está sujeito à queda. É impossível progredir sem mudanças. Os que preferem as mentes atrofiadas são naturalmente incapazes de mudar alguma coisa. Com perdão antecipado àqueles que, por falta de discurso renovado, se mantêm contra às próprias sombras, novamente associo o ex-presidente Jair Bolsonaro ao que há de mais atrasado na política nacional e mundial.

Como disse no início da resenha, não pode ser normal um cidadão com desejos naturais de recuperar a batuta presidencial ser proprietário de um único mote para contra-atacar seu adversário predileto. Em suas explanações reservadas, familiares, públicas, recreativas, religiosas e até funerárias não podem faltar seus dois ingredientes favoritos: o livramento das “dores do comunismo” e o fim de “Lula ladrão”. A condição sine qua non para livrar uma nação do comunismo é sua existência. Como no Brasil o termo comunista é somente uma invenção de quem tem pouco ou nada a acrescentar, fica o dito pelo não dito. Quanto à derrubada de Lula, o moço terá de esperar pelo menos até 2030. Se resistir até lá. É o tal do discurso vazio. Tudo a ver com o elefante no telhado. Ele sabe que está lá, mas não imagina quem o colocou e não sabe como descer.

*Armando Cardoso é presidente do Conselho Editorial de Notibras

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