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Quem policia policial que mata por suposta crise de ansiedade ou insanidade?

A moda nas polícias do Brasil é dizer que a tropa está doente e precisa urgentemente de apoio psiquiátrico. Pela ordem, os maiores reclamantes são os policiais de São Paulo, Rio de Janeiro, Distrito Federal, Bahia, Pernambuco, Ceará e Rondônia. Não duvido e, por absoluta falta de conhecimento dos bastidores das corporações, não questiono. O que me preocupa são as demais categorias e, principalmente, os pagadores de altíssimos impostos. Os recolhedores de tributos não têm segurança e, caso fiquem doentes, não têm onde se tratar adequadamente.

Não estou prejulgando, tampouco tentando reduzir o direito de alguém ficar doente. O que não me parece lógico é o tema ressurgir sempre que um membro da corporação comete um ilícito. Tem sido assim com os PMs paulistas, fluminenses, brasilienses, cearenses, baianos e pernambucanos que jogam inocentes de pontes e que agridem e achincalham famílias e transeuntes indefesos e, mais recentemente, com o delegado brasiliense que, por conta de um suposto surto, atirou para matar na mulher, na empregada e em uma recepcionista de hospital particular. Interessante, mas o indivíduo com esse tipo de patologia raramente faz mal a si mesmo. Mata os outros.

A literatura médica informa que os surtos não acontecem de uma hora para outra. Eles são anunciados paulatinamente. Então, por que as chefias não os internam antes que eles matem inocentes? Pior é mantê-los doentes e armados. Me parece uma inversão total de valores. Pagos para garantir o direito de ir e vir do cidadão, os policiais ou estão doentes, aposentados precocemente ou extrapolando nos seus direitos de policiar. Aliás, quem me garante que a doença adquirida por determinados policiais não está vinculada à barbárie que cometem em nome da lei que afirmam perseguir.

Não estou prejulgando, tampouco tentando reduzir o direito de alguém ficar doente. O que não me parece lógico é o tema ressurgir sempre que um membro da corporação comete um ilícito. Depois de jogar inocentes de pontes, agredir e achincalhar famílias e transeuntes indefesos e de proteger publicamente o crime organizado, PMs paulistas, fluminenses, brasilienses, cearenses, baianos e pernambucanos recorrem a laudos duvidosos atestando transtornos psicóticos. Foi assim com o delegado brasiliense que, por conta de um suposto surto, esta semana atirou para matar na mulher, na empregada e em uma recepcionista de hospital particular. Interessante, mas o indivíduo com esse tipo de patologia raramente faz mal a si mesmo. Mata e esculhamba somente os outros.

Com salários acima da média, plantões diferenciados, sistema de saúde próprio e armas à disposição, do que se queixam os agentes de segurança? Refazendo a pergunta, por que os médicos, enfermeiros, professores, engenheiros, garis, jornalistas, porteiros, vigilantes privados, comerciantes, comerciários e camelôs, entre outras categorias, não adoecem tanto quanto os policiais? Até adoecem, mas não reclamam tanto. Primeiro porque não têm mecanismos decentes de saúde para atendê-los. Depois, porque, conforme o nível e a força da reclamação, correm o sério risco de serem perseguidos, agredidos e presos por aqueles que, adoecidos pelo “excesso” de trabalho, só respeitam os iguais. Às vezes, nem os iguais.

Normalmente, os profissionais fora da carreira policial têm plantões muito mais corridos e estressantes do que qualquer agente das polícias Federal, Rodoviária Federal, Civil e Militar. O mais grave é que, para alcançar o patamar salarial dos “tiras”, boa parte dos trabalhadores de atividades menos corporativas precisa complementar renda com mais uma ou duas fontes. E, obviamente, essas fontes precisam ser limpas para evitar a covarde repressão policial. Mais uma anomalia. Na população brasileira, a maior doença é a certeza de que nossa polícia mede seus esforços de modo proporcional ao poder aquisitivo da vítima e, em alguns casos, pelo volume de multas aplicadas no trânsito.

Vivemos hoje um surto coletivo que chamamos de realidade. Na ausência incompreensível do Estado, resta recorrer a um pensamento filosófico para tentar entender o que vivemos: “Alguns homens são moralmente contrários à violência. O problema é que eles são protegidos por homens que não são”. Enquanto os policiais surtam, os contribuintes saem de casa para estudar, trabalhar ou simplesmente pagar impostos, mas não sabem se voltam. É claro que a epidemia psicótica dentro dos quartéis e delegacias merece atenção do Poder Público. Reitero, no entanto, que o diagnóstico não é diferente nos hospitais, nas escolas, nos supermercados, nos escritórios, no Congresso Nacional, nas ruas e nos presídios denominados de residências. É por isso – somente por isso – que defendo saúde para todos. No Brasil da polarização sem nexo, não é só a Polícia que adoece.

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