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Mamãe era assim

‘Quem tem filho grande é elefante. Grupo 12!’

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Autor/Imagem:
Eduardo Martínez - Foto Produção Irene Araújo

Mamãe era um doce quando queria. O problema é que, tirando o chamego que tinha pela minha irmã caçula, todos os outros eram tratados como quase estranhos. Não que ela não nos reconhecesse como filhos, pois sabia de cor o nome de todos nós. É que minha mãe não era muito afeita a dengos, talvez por conta da criação que tivera, que a fez dura que nem pedra.

Laurentina Gomes. Gomes por conta do padre que a acolheu na porta da igreja. Mamãe, recém-nascida, foi deixada embrulhada em trapos. O religioso até pensou em cuidar da criança, mas a idade avançada o impediu. Tanto é que, meses após ter acolhido mamãe, o homem não mais se levantou. Tiveram que chamar outro padre às pressas para rezar missa.

Minha mãe acabou no orfanato e, apesar de ainda ser bebê, não teve a sorte de ser adotada. Não que fosse feia, era até bonita, como provam alguns raros retratos. É que, como mamãe sempre fala, ela não nasceu com a cor da moda. Preta retinta, foi jogada para o final da fila até que completou 18 anos e foi atirada no mundo.

Trabalhou em casa de família, comeu o pão que o diabo amassou. Não sofreu chibatadas, é verdade, mas os olhares, muitas vezes silenciosos, a cortaram nas carnes. Precisava sobreviver e ficou calada, até que a sorte lhe sorriu diante de uma banca de bicho.

Apostou no cachorro, deu veado na cabeça. Tudo parecia perdido, não estava. Mamãe fez amizade com o apontador, o Binha, que gostava de se fantasiar de mulher no carnaval. Ele arranjou emprego para mamãe, que, desde então, cresceu na contravenção. A única mulher gerente na região.

Levou tempo, mas todo mundo passou a conhecer a Dona Laura. Após quase 40 anos no ofício, muita gente graúda foi no seu velório. Rafael, meu marido, era um dos mais comovidos. Chorava como um bebê diante do caixão.

— Dona Laura, a senhora sempre foi como uma mãe pra mim.

Se mamãe pudesse ouvi-lo, certamente diria:

— Quem tem filho grande é elefante. Grupo 12!

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