Golpistas covardes
Quem vai chorar a primeira lágrima pós-denúncia?
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emEmbora seja quase um paradoxo, a covardia é a arma dos fracos. É paradoxal porque, por atitudes ou por omissão, uma pessoa covarde é capaz de coisas abomináveis. Os covardes normalmente se atraem por afinidade. O que eles não alcançam é que, baseados em interesses individuais, todos traem e, consequentemente, se destroem. Felizmente, somente os fortes conquistam. Filosofias à parte, ninguém duvida de que, como acontece com a maioria dos covardes, depois das frustrações e do fracasso de suas ações às escondidas, chega o chororô, os pedidos de arrego, as juras de inocência e, principalmente, a silenciosa evacuação.
Tudo isso precede a denúncia, a condenação e a insuspeita prisão. Via Betano ou qualquer outra casa do gênero, estou aguardando apostas sobre o primeiro debulhamento de lágrimas. Quem apostar naquele que fugiu para não assistir o monte de bosta que seus liderados descarregaram no telhado da República corre o risco de ficar milionário. Arriscar nos nomes daqueles dois senhores estrelados que deveriam dar o exemplo também é um bom palpite. Soube por fontes seguras que as bancas não estão aceitando nenhum tipo de lance no 171, número de Valdemar Costa Neto, o presidente do PL, partido que abriga os ilustres covardões.
O Brasil do bom senso sabe separar o joio do trigo. Afirmo isso porque, voluntariamente, visitei igrejas, terreiros de macumba, filas de banco e de hospitais públicos e dormi em casas de lenocínio, de modo a avaliar o posicionamento das moças de vida difícil durante os períodos de recreio. Não percebi em nenhum desses recintos sentimentos negativos em relação às Forças Armadas. Pelo contrário. A ira era dirigida à dúzia e meia de incompetentes que não conseguiram governar como prometeram e, à base do ódio e da violência, tentam repetir um levante que também sucumbiu pela torpeza de seus propósitos.
Tão nocivos como as cobras, que picam e fogem, os covardes se escondem nas sombras para fugir do seu próprio destino. Quando conseguem, se perdem no momento em que, ironicamente, se fecham as cortinas que eles pensavam escancarar. E aí que surge o medo da escuridão, o temor da lei e o pavor do encontro com os demais covardes que tentou encorajar. Como disse o brasiliense Vital Ramos V. Junior, “kids-graça de militares” são os oficiais que preferiram conspirar contra a democracia a cumprir com seus deveres constitucionais de defensores da pátria.
Felizmente os covardes se entregam. Além de encontrá-los comungando aos domingos e feriados, é fácil notar um deles principalmente nos consultórios urológicos, nos quais se conta de tudo para o sisudo e, às vezes, protuberante profissional, principalmente no momento introdutório. É claro que, levado pelo êxtase dedal, pode ser que eles inventem coisas e sigam o modelo de todos os que não olham o interlocutor de frente, se escondem atrás da opinião alheia e, de acordo com o toque, choram copiosamente ao primeiro sinal do prazer frustrado. Não à toa eles foram surpreendidos em pleno Novembro Azul.
A vergonhosa prisão de quatro oficiais de ponta do Exército é apenas a ponta do iceberg que pretendia congelar de vez a democracia brasileira. Muita coisa ainda está por vir. Mais vergonhoso foi descobrir que, covardemente, o golpe que eles tramaram, incluindo a morte do presidente e do vice-presidente eleitos, foi executado pelas ações de idiotas que, também covardemente, os senhores fardados usaram como escudo. Tudo para atender à excelência que nunca teve mérito. Como toda covardia tem um preço, o dos golpistas é a obrigação de aceitar o fortalecimento do cidadão que eles tentaram vencer depois de vencidos. Vida longa ao rei e cana duríssima para os covardes da dita dura.
*Wenceslau Araújo é Editor-Chefe de Notibras