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Quem vai engolir o Brasil na pátria bolivariana de Chávez?

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A inclusão do Brasil num projeto socialista bolivariano, que transformaria o continente numa pátria única – a “Grande Pátria”, de que falava Hugo Chávez -, subverte não apenas o princípio da soberania, mas sobretudo força uma unidade política artificial.

Nada temos com Simon Bolívar, que é herói de outro mundo, forjado numa mitologia política que não nos diz respeito. Vale tanto para nós quanto Tiradentes, por exemplo, para os bolivianos.

Sublimar personagens históricos para, a partir deles, criar símbolos de unidade nacional é recurso usual – e de certa forma legítimo -, vigente em todas as nações. Os norte-americanos têm seus Pais Fundadores, cultivados até hoje como fator de união cultural e política. Não há presidente que não os mencione. Idem os europeus – franceses, alemães, ingleses, italianos etc.

Temos também nossos Pais Fundadores, embora já há algumas décadas submetidos a um processo de depreciação ideológica. Mas figuras como José Bonifácio, Gonçalves Ledo, Pedro I e II, Tiradentes, Joaquim Nabuco, Duque de Caxias e Ruy Barbosa (para citar apenas alguns) estão na origem de nossa formação nacional – obra complexa e em curso, dadas as dimensões continentais e a índole multicultural do país.

Quando, porém, se afirma que “nunca antes neste país” se fez nada de relevante, e se busca anular todo o passado – dispensando-se inclusive de conhecê-lo -, empastelando seu meio milênio de história como um transe equivocado, conspira-se contra sua memória, o maior patrimônio civilizatório de qualquer nação.

Note-se que, à exceção de Caxias – e mais pelo seu papel de pacificador que de guerreiro -, os nossos Pais Fundadores são todos civis, não obstante os recorrentes golpes militares da República.

Mas não temos a tradição guerreira dos hispano-americanos. Nosso elo comum é o subdesenvolvimento, o DNA católico e o hábito de terceirizar nossas mazelas, debitando-as à conta das potências hegemônicas. No mais, nossas relações jamais foram íntimas. Somos vistos como um corpo estranho ao continente, portadores de outro idioma e de outras tradições.

O conquistador português logrou um feito em sua colônia americana que o colonizador espanhol não conseguiu: a preservação de sua unidade política.

A independência da América espanhola resultou no surgimento de diversas repúblicas que, não obstante a língua comum, não superaram suas divergências regionais. Protagonizaram guerras entre si e até hoje discutem questões de fronteiras. O único conflito regional em que o Brasil se envolveu, em resposta à invasão de seu território, foi com o Paraguai, na década dos 60 do século 19.

O Foro de São Paulo, entidade fundada em 1990 por Lula e Fidel Castro, intenta a unidade do continente a partir do elo ideológico – bolivarismo é sinônimo de socialismo -, o que é, em si, um fator beligerante, como se tem visto.

Tenta-se resolver a disparidade social pela via do populismo, desconhecendo-se o fato de que apenas a geração de riqueza pode banir – ou ao menos reduzir significativamente – a pobreza.

Não se conhece outro meio, e quanto a isso o socialismo não deixou dúvidas. O insucesso econômico e a diplomacia ideológica agravam as dificuldades. Mas, mais que isso, a tentativa de inclusão do Brasil nesse contexto – país bem mais complexo que seus vizinhos – sofre a limitação adicional de a ele não pertencer, nem histórica, nem cultural, nem politicamente.

A maior parte da população nem desconfia da existência do Foro de São Paulo e de seus propósitos. Os dirigentes do PT são cautelosos quando tratam do tema, pois querem contornar essa estranheza. Mas basta conferir sua proposta de reforma política, seu brado revolucionário continental e os caminhos que sugere para não haver dúvida quanto à trajetória pretendida, já trilhada pela Venezuela, Equador e Bolívia, entre outros.

Lula mesmo já se jactou de ter “inventado Hugo Chávez”. E Nicolas Maduro, em vídeo que pode ser apreciado no Youtube, em que saúda a vitória de Dilma Roussef, deixa clara a decisiva importância do Brasil ao projeto da “Grande Pátria” bolivariana.

O intercâmbio político entre as duas nações, que não tem correspondência no plano econômico, evidencia essa parceria saudada por Maduro. E não é casual que os dois países tenham feito de suas respectivas empresas de petróleo – a PDVSA e a Petrobras – o mesmo bordel financeiro.

São (foram), aliás, parceiras no desastroso empreendimento da refinaria de Abreu Lima (PE), nome que homenageia o único general brasileiro a aderir às tropas de Bolívar na independência hispano-americana. O bolivarismo levou as nações que a ele aderiram ao desastre econômico. O Brasil já chegaria ao clube com o desastre previamente consumado. É improvável que a meta se concretize, mas a insistência em alcançá-la promete muito barulho.

Ruy Fabiano

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