Notibras

Quem vive preso na bolha não acha felicidade

Em nossa cultura ocidental estamos muito preocupados com o eu. Queremos que o eu seja feliz, que esteja tudo bem com o eu e fixamos nossa atenção em deixar as coisas todas melhores. Nossa preocupação com nós mesmos é tanta, que não vemos que a felicidade está para além do eu. Neste texto, quero abordar com você sobre como nos limitamos através do eu e de como podemos alcançar voos ainda maiores quando saímos da limitação do eu. Antes, quero apresentar como nossa fixação limita nossa vida, para depois relatar como podemos superar essa fixação.

Vivemos no que muitos psicanalistas chamam de uma Sociedade do Narcisismo. Narciso, da mitologia grega, era filho do deus-rio Cefiso e da ninfa Liríope. No momento em que nasceu, foi profetizado que ele teria vida longa, desde que nunca visse sua própria imagem. Resumindo a história, Narciso vê seu reflexo na margem de um rio e então se apaixona por si mesmo. Essa paixão por si mesmo nos acomete atualmente. Estamos fixados em nossa individualidade, em nossa obsessão por ter as coisas, por ter status, por satisfazer nosso ego.

Isso ocorre por causa de uma lógica de competitividade, de uma individualidade que devemos cultivar. Essa individualidade limita nossa existência, pois ao invés de colaborarmos, estamos sempre competindo. Isso retira de nós a capacidade de ajudar o outro e de, em conjunto, atingir nossos objetivos.

Ampliando e ultrapassando o Eu
Necessitamos ampliar e ultrapassar o eu. A ampliação do eu faz com que você se conecte mais às outras pessoas e outras coisas. Somos seres sociais, que vivem em sociedade. Se nos importamos apenas conosco, isso gera obstáculos em nosso caminho. Mas se nos importamos com os seres e temos a motivação de auxiliá-los, geramos méritos e nosso caminho fica mais fácil.

Outro ponto é que o eu é pequeno comparado com a rede. Rede é quando vivemos em conexão com as pessoas, com um grupo que nos ajuda e que podemos contar. Da mesma forma, esse grupo também pode contar conosco e ficamos realmente felizes pelas conquistas de nossa rede.

Viver em rede é sair do autocentramento do eu. É estar em conexão com as pessoas, entender o que elas necessitam, ajudar e ser ajudado por elas. Infelizmente, estamos perdendo esse tipo de sabedoria. Sabedoria, porque o que mais importa no mundo são os seres que nele habitam e não as coisas que foram inventadas.

Estamos concentrados em agradar o eu, quando na verdade deveríamos entender que a felicidade habita no benefício aos seres. Essa felicidade é algo que nasce em nós no momento em que a praticamos. Muitas pesquisas já demonstraram que a felicidade está ligada à gratidão e ao ato altruísta. Essas ações promovem felicidade ao ser. Mas mesmo assim, insistimos que são as coisas que nos geram felicidade. Nossa felicidade fica condicionada à próxima compra, à próxima viagem, ao próximo prazer imediato.

A felicidade está além do prazer do eu, ela está na realização e no esclarecimento do ser. Parece batido falar que estamos confundindo ser com ter, mas atualmente essa afirmativa é muito assertiva. Precisamos sair de uma felicidade condicionada para uma felicidade autogerada, surgida em nossas ações e motivações. A minha felicidade depende de como nós estamos.

Sair da versão mobile