As redes sociais alimentam ininterruptamente e com ênfase crescente a fantasia da intervenção militar para erradicar definitivamente o câncer da corrupção que destruiu o País e segue em plena evolução para neutralizar os efeitos esperados pela vitória da direita conservadora nas eleições de 2018.
Alguns fatores precisam ser analisados com profundidade e pragmatismo, antes de se formar juízo de valor sobre a viabilidade, a efetividade e as consequências de um ato de tal gravidade, considerando, fundamentalmente, os erros cometidos com a experiência de 1964, que permitiu o retorno de praticamente todos os inimigos da Nação à cena política, redundando no desastre que nos arrastou rumo ao precipício.
O principal fator a ser considerado é a razão para que essa medida seja adotada, a qual é patente, ao ser exposta diariamente nas redes sociais e nos noticiários da TV, evidenciado o escárnio flagrante dos agentes políticos e jurídicos, através de atos espúrios inadmissíveis que insultam e agridem a cidadania e a dignidade dos brasileiros.
Imperioso é existir o convencimento e o engajamento do agente interventor, que hoje não demonstra, por indecisão, cautela ou estratégia, o ímpeto de agir decisivamente contra os transgressores ou a disposição de assumir o risco de imputar ao País as eventuais consequências de uma atitude dessa natureza, num mundo globalizado, cujos aspectos geopolíticos não guardam relação com aquela conjuntura que envolveu a revolução democrática de 1964.
Outras variáveis decisivas são o momento e a forma como será desencadeada a ação, já que, naquele memorável confronto, a quase totalidade dos seguimentos da sociedade civil clamava pela intervenção e participou diretamente da sua evolução, destacando-se o empresariado, a Igreja, a quase totalidade da mídia e, especialmente, a classe média, culminando com a Marcha da Família com Deus pela Liberdade.
É preciso estabelecer a medida certa dos resultados a serem alcançados para evitar a interrupção do processo e impedir o ressurgimento das distorções que deram origem ao desastre que ocasionou a tragédia atual.
As ações a serem implementadas após a sua consumação precisam estar definidas com exatidão, pois o cenário nacional e internacional, somado aos obstáculos políticos a serem vencidos não admitem a mínima margem de erro ou indecisão.
Diferentemente da Revolução de 64, é preciso garantir o banimento irreversível da vida pública para os protagonistas do caos.
Tudo isso são conjecturas para o indesejável desenlace de uma intervenção militar.
No entanto, o que o Brasil necessita realmente é uma profunda intervenção cívico-institucional.
As condições para que isso ocorra são quase inatingíveis, pois os agentes incumbidos dessa responsabilidade são os próprios contraventores, os quais teriam que cortar na própria carne, mas o patriotismo e a renúncia não fazem parte do seu juramento ético-profissional.
Periodicamente, procuram demonstrar hipocritamente a falsa intenção de adotar medidas nesse sentido, utilizando as comissões para aprovarem temas de interesse do cidadão, na certeza de que não terão respaldo do plenário.
Um exemplo recente de dar engulhos foi a atitude repugnante do submisso presidente do Senado, Rodrigo Pacheco, que afirmou “não acreditar em hipótese alguma que proposta que revoga PEC da Bengala avance no Congresso”. Ao contrário, admitiu que “existe a possibilidade de ser analisada outra PEC: a que aumenta de 65 para 70 anos a idade máxima de indicados para tribunais”.
Novo episódio teatral será encenado neste 8 de dezembro, com a PEC que determina o cumprimento imediato de pena após condenação em segunda instância, após mais de um ano paralisada Câmara dos Deputados.
Essas quimeras formam o conjunto perfeito da impostura com a PEC do foro privilegiado, hibernando há mais de três anos no Senado Federal.
Enquanto isso, seguimos cabisbaixos em direção ao cadafalso, cantando o Hino e enrolados na Bandeira Nacional.
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