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Radicalismo que tiraniza e mata também gera derrotas eleitorais

Todo ser humano que já debateu política sabe que é quase impossível convencer interlocutores. Embora remota, essa possiblidade existe. O problema são os indivíduos aparentemente normais, mas com crenças bem próximas do fundamentalismo. Esses não admitem contra argumentação, principalmente quando envolve questão ideológica. Será que vivemos situação parecida no Brasil de nossos dias? Com certeza. Não aceitar erros crassos ou eventuais de determinados mandatários é o mesmo que comprar como verdade absoluta a tese de que eles são mitos, salvadores da pátria ou mesmo acima de qualquer suspeita.

Infelizmente, faz muito tempo não temos um presidente com esse perfil. Acho até que nunca tivemos. No entanto, nada do que já fomos nos lembra o atual estágio do país. Para conceituar extremismos, é fundamental registrar alguns estudos. Um deles, realizado por psicólogos da Universidade de Cambridge, na Inglaterra, identificou uma relação entre o modo como o cérebro processa informação e a ideologia dessas criaturas. Elas são inflexíveis, intransigentes e não imaginam considerar a opinião ou a maneira de pensar dos demais. Esquecem, porém, que o radicalismo nasce de uma visão simplificadora do mundo, que busca soluções rápidas para problemas simples.

O estudo esclarece que sujeitos que favorecem medidas extremas, como o uso de violência para defender suas ideias, tendem a ter uma performance pior em tarefas que exigem raciocínios mentais elaborados e soluções complexas. Além disso, também apresentam habilidades de regulação emocional frágeis e enorme dificuldade em perceber que, às vezes, se enganam. Só às vezes, mas não importa. Relevante é que raramente reconhecem que estão errados. Em resumo, é impressionantemente radical o excesso de confiança que os mais radicais têm em sua própria opinião. Acabam conceituados no dicionário informal como seres espirocados. Ocasionalmente também me sinto um desses. Entretanto, antes de qualquer ação, procuro lembrar que não estou só nesse mundão de Deus.

Opto pelo aconselhamento dos pensadores e cravo minha inspiração no alicerce da energia, da verdade e da coragem, jamais da revolta. Lembro, por exemplo, na sorte da maioria dos compatriotas que não acreditaram nas lorotas sobre a pandemia. O fanatismo daqueles que subestimaram o vírus pode tê-los incluído na macabra relação de quase 650 mil brasileiros vítimas de uma tal “gripezinha”. É a natureza humana cobrando a razão em lugar da emoção ou das ordens de aprendizes de feiticeiros. Infelizmente, os sábios e os ponderados estão em extinção em boa parte do planeta, particularmente no Brasil. Mas deve ter algum por aí. Pensemos direitinho, escolhamos com cautela e tentemos evitar a consolidação do amadorismo ditatorial. Apesar de não terem força alguma, são elementos que se acham invencíveis.

E não são. Pelo contrário. Vladimir Putin, agora meio-irmão do capitão, é a prova inconteste de que, aliada ao fanatismo exagerado, a sede de poder acaba gerando abandonos ou derrotas inesperadas. Quem sabe as duas coisas. Enquanto escrevo, ouço a canção Espelho, um clássico da MPB, de autoria de João Nogueira e Paulo César Pinheiro. Antes de concluir a narrativa, paro para refletir sobre um dos versos da música e volto a discorrer a respeito dos extremistas. Não tenho medo deles, mas recorro a uma hipotética indagação anedótica a Deus quando da criação do mundo, especialmente da Terra Brasilis: “O Brasil vai ter tudo: rios, mares, terras férteis, gente bonita, futebol vencedor e muita comida (?), mas vocês verão o povo que vou botar lá. Em síntese, “meu medo maior é o espelho se quebrar”.

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