O uso da Justiça por políticos inescrupulosos, embora à revelia do Poder Judiciário, para jogar a sujeira por debaixo dos tapetes, é uma prática imoral que vem sendo abandonada ao longo dos tempos. Mas há quem goste de ressuscitá-la. Foi o que fez o ex-secretário de Saúde do Distrito Federal, Rafael Barbosa, em ação impetrada contra Notibras no Tribunal Regional Eleitoral.
No dia 24 de julho de 2014, Rafael Barbosa, agora candidato a deputado federal pelo PT, pediu ao TRE-DF, e foi atendido, a exclusão de matéria em Notibras que denunciava a extensão da Máfia dos Alvarás para o âmbito da Secretaria de Saúde. Na petição, o ex-secretário usou muitas meias-verdades. E, pior, faltou com a verdade.
Paralelamente à ação em que requereu a retirada do ar da matéria sobre a Máfia dos Alvarás, Rafael Barbosa também pediu, embora negado num primeiro momento, direito de resposta. Numa segunda ação, o candidato obteve êxito. O texto, de responsabilidade do requerente, foi publicado na íntegra, ficando em destaque por mais de 48h, conforme decisão judicial.
Foi tempo suficiente para a Direção de Redação de Notibras, em leituras sucessivas, analisar o texto editado. E concluiu-se, no dever jornalístico de questionar e buscar a verdade acerca de tudo que mereça suspeita, que Rafael Barbosa dera um tiro no pé. Usou palavras soltas e argumentos vazios. E nossos repórteres foram em busca da verdade.
Vamos aos fatos. No texto original do direito de resposta protocolado no Tribunal Regional Eleitoral no dia 24 de julho, Rafael Barbosa anunciava sua decisão de pedir ao Corregedor-Geral da Secretaria de Saúde, que investigasse os fatos denunciados por Notibras. Prometia, também, providências semelhantes junto ao Ministério Público e Polícia Civil.
A interpretação que se faz, consideradas as palavras do ex-secretário, é a de que Notibras estava errado e que Rafael Barbosa mostraria a verdade.
A promessa de Rafael Barbosa, porém, se perdeu em meio as muitas inverdades que ele tem dito sobre Notibras. Procurado insistentemente na quarta-feira 6, na quinta-feira 7 e nesta sexta-feira 8, Flávio Dias de Abreu, Corregedor-Geral da Secretaria de Saúde, não atendeu nossos repórteres.
Supostamente, uma fuga do Corregedor para falar sobre uma investigação inexistente, dando margem ao velho ditado popular, segundo o qual promessa de político, na maioria dos casos, é sinônimo de mentira.
Mas a questão no âmbito da Secretaria de Saúde não parou nas infrutíferas tentativas de ouvir Flávio Dias de Abreu. A Assessoria de Comunicação Social foi acionada. Não soube, porém, informar sobre o pedido de sindicância propalado por Rafael Barbosa.
Corporativismo a parte, jornalista respeita jornalista. Sob reserva e com a garantia de a fonte ser mantida sob sigilo, foi dito que não havia nada de oficial sobre o assunto. E como Pôncio Pilatos, o informante lavou as mãos, sem que jogasse, antes, o abacaxi para ser descascado pelo grupo que assessora a campanha do candidato Rafael Barbosa.
– Não temos o contato dele (Rafael Barbosa). Como a nota com direito a reposta foi elaborada pela assessoria dele, vocês deveriam procurá-los diretamente e não a nós, pois o Rafael não é mais secretário de Saúde, confidenciou um funcionário da Ascom.
O caminho da busca da verdade é árduo, mas não intransponível. O passo seguinte foi procurar o Ministério Público. Lá foram revirados todos os protocolos. E nada do pedido de investigação a que se referira Rafael Barbosa em seu direito de resposta.
A terceira e última via da investigação, na tentativa de esclarecer o que prometeu o ex-secretário, foi a Polícia Civil. Uma surpresa já esperada. A exemplo da Corregedoria-Geral da Secretaria de Saúde, e do Ministério Público, também na esfera policial não havia nada que confirmasse as palavras do ex-secretário.
Os repórteres de Notibras bateram nas portas da Delegacia Especial de Repressão ao Crime Organizado (Deco) e na Delegacia Especial de Repressão aos Crimes contra a Administração Pública (Decap). Nada, absolutamente nada, em termos formais, para investigar, a pedido de Rafael Barbosa, as denúncias de Notibras.
A conclusão é a de que o agora candidato a deputado federal faltou com a verdade em seu direito de resposta ao se referir à Máfia dos Alvarás instalada na Secretaria de Saúde. Promessa é vista como um ato moral por excelência. Talvez por isso, pela palavra não ser cumprida, exista tanta corrupção e tantos escândalos.
A opinião de Notibras é a de que a sociedade deve buscar candidatos que mostrem um caminho justo, e que não deturpem verdades, procurando ganhar tempo até conseguir a sonhada imunidade parlamentar. Não bastasse isso, há de se considerar que, a continuar séria como é, a Justiça colocará muita gente na cadeia. Os mensaleiros petistas são um exemplo.
Elton Santos e José Seabra