Amanda Martimon
A cerca de 40 quilômetros da Rodoviária do Plano Piloto, dez famílias produtoras do Núcleo Rural Rajadinha, em Planaltina, abrem suas propriedades para visitas agendadas até 15 de novembro. Elas participam da terceira edição do Circuito Rajadinha — proposta criada em 2014 pela Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural do Distrito Federal (Emater-DF) para unir o turismo rural à venda de mercadorias da agricultura familiar.
Pássaros exóticos, produtos orgânicos e plantas ornamentais são algumas atrações do roteiro. Logo na entrada do circuito, na margem esquerda de quem chega pela DF-130 vindo da zona urbana de Planaltina (veja mapa abaixo), a família de Custódio Fernandes da Silva, de 70 anos, dá as boas-vindas. Primeira do trajeto, a Chácara Flora Brasília tem como carro-chefe a pata-de-elefante, espécie usada em ornamentação e de crescimento lento, com o caule externo e semelhante à pata do animal. Na fase adulta, chega à média de 5 metros de altura.
A mesma paciência para cuidar da planta e aguardar sua evolução é destinada aos visitantes. Os anfitriões explicam desde o processo de semeadura até os cuidados básicos. “Para ela entrar no mercado, leva cinco anos”, conta Custódio, que trabalhou em uma empresa de paisagismo de 1993 a 1999, quando adquiriu a própria terra e investiu no negócio familiar. Lá, também é possível encontrar plantas ornamentais menores, como a lança-de-ogum.
Mais adiante, é possível conhecer a Chácara Nossa Senhora Aparecida, onde Eunice dos Santos, de 55 anos, cria e vende pássaros exóticos. São 50 casais de periquitos australianos e 35 de calopsitas, além dos filhotes. Ela começou a criação em 2012, com o auxílio de profissionais do escritório da Emater-DF de Planaltina.
Para ampliar o negócio, Eunice está no segundo crédito do Prospera DF, programa do governo de Brasília que concede empréstimos para investimentos em maquinários, utensílios e insumos, por exemplo. Com o dinheiro, além de aumentar a capacidade do criatório, ela e o marido, Ângelo Lopes, de 53 anos, adquiriram máquinas e passaram a produzir ninhos.
A próxima parada do circuito é o Sítio Florida, conhecido pela Casa de Chá em que a família Castiglioni serve um farto café colonial para grupos agendados ou em datas comemorativas, como o Dia dos Pais, em agosto. Parte dos produtos servidos é oriunda de produção própria, como o iogurte natural. No espaço, também alugado para eventos, há um Museu do Leite. O proprietário do Sítio Florida, Arnoldo Castiglioni, de 65 anos, começou a produzir queijo em 1980. A Casa de Chá veio depois, em 1997.
A família também trabalha com floricultura. Em diferentes cores e tamanhos, as rosas-do-deserto são cultivadas por Arnoldo Castiglioni, que importa da Tailândia as sementes. Durante a Feira da Colônia — atividade que integra o circuito e que ocorrerá em 17 e 18 de setembro no Sítio Florida —, ele dará palestras sobre como cuidar da planta.
Nos dois dias da feira, convidados de fora do circuito também podem expor produtos. “Sempre quisemos incentivar os vizinhos a se unirem e fazerem um evento para trazer as pessoas até aqui, em vez de levar para vender fora”, conta o uruguaio radicado em Planaltina há 41 anos. A ideia se concretizou com a participação da Emater-DF.
O Circuito Rajadinha faz parte de uma proposta maior, o Caminhos Rurais do DF. A intenção é que outras regiões também criem roteiros de turismo rural. “Não queremos promover só o intercâmbio deles com os turistas. Queremos melhorar a qualidade de vida dessa população”, afirma Zaida Regina da Silva, turismóloga da Emater-DF.
Além de construir o projeto, a empresa pública auxilia os produtores com cursos de capacitação, por exemplo. A ideia é que os produtores locais passem a administrar o circuito por conta própria. “Nós montamos para eles se organizarem e depois tocarem o projeto”, explica Zaida. O agendamento das visitas é feito diretamente com os proprietários rurais, por telefone (veja arte acima).
Participantes – Na reta final do roteiro, o visitante pode parar na Freiman Jardins, onde é possível comprar ou alugar plantas. A família também oferece serviço de paisagismo. “Damos opções para o cliente e criamos o ambiente de acordo com o que for mais adequado para o evento dele”, conta Marília Freiman, de 30 anos, que seguiu os passos do pai, dono da propriedade, e se especializou em paisagismo e gestão ambiental.
Apaixonada por bromélias, Marília trata como xodó as mudas ainda nem germinadas. Ela também se dedica a tratar como pacientes as plantas que retornam de aluguéis. Para essas há até uma “casa de recuperação”, onde elas recebem cuidados extras. “Não pode estressar a planta”, defende a jovem.
Última das dez chácaras, a Isasbelas promove a integração. A dona, Lázara Sousa, de 59 anos, oferece o espaço de lazer — com churrasqueira, piscina, dois cômodos e jogos — para aluguel. Em parceria com Ilcanã Bessa, de 56 anos, moradora da região, incluiu o serviço de alimentação.
“No futuro, a gente pensa em fazer uma trilha em volta de um córrego que passa nos fundos da chácara”, planeja Lázara, que, ao se aposentar, trocou o Plano Piloto pela tranquilidade da área rural.
Agência Brasília