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Sem luz própria

Recado a um sujeito oculto que acha que é o que já foi

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Autor/Imagem:
Sonja Tavares - Foto Reprodução/X

Assim como no futebol, onde a segunda colocação é sinônimo de crise, degola de técnico e dispensa de craques, na política a perda da coroa significa muito mais do que voltar a ser uma pessoa comum. É o curso natural da vida, mas, além da morte prematura, derrotas nunca imaginadas costumam transformar ex-protagonistas em desconfortáveis e crônicos impotentes. Desde que não assumam publicamente a imbrochabilidade, nem sempre essa impotência envolve o amor. Ela pode ser decorrência da dor, do pavor ou do temor. É o que sentem os velhos.

Eles têm interesse por algo, mas o que chega ao algo já não responde mais. Encravou. Virou uma tranqueira. Metáforas à parte, mas continuando metaforizando, o apego à soberba e à superioridade em qualquer segmento da vida de cara elimina o senso, exacerbando a intranquilidade e obrigando ex-poderosos a fazer de tudo para não largar o osso. Viram unhas encravadas, proxenetas de donos de partidos, considerados reprodutores imediatos e que podem garantir crias servis e obedientes. Seres como esses já foram pessoas incomuns, de ponta.

O problema é não admitir a hipótese de voltar a ser um cidadão comum, pagador de imposto como todos os brasileiros. Cuidam da vida dos outros como se fosse a sua, esquecendo a advertência do Ministério da Saúde sobre a possibilidade dessa prática gerar esquecimento de que deixou de ser o que já foi. Tudo em nome da reconquista ou do poder paralelo. A ideia é impor, induzir e oferecer nomes para acertos políticos que podem gerar futuros bons negócios. Sem pudor algum, massageiam egos alheios, porque imaginam que, a curto ou médio prazos, os massageados podem trazê-lo de volta à ribalta.

Não sabem e não desejam saber que o caminho de ninguém pode ser encontrado com a chave de outra pessoa. É triste, mas é a desculpa dos esfarrapados, aqueles que não têm luz própria. Enfim, o que fazer para mostrar aos incapazes que, às vezes, a derrota inesperada pode representar para a maioria o gosto penetrante e adocicado do livramento? Alguém precisa informá-lo que política e o imponderável não se afinam. O raio só cai duas vezes no mesmo local quando a inteligência artificial se molda à emocional.

Comprovadamente não é o caso, pois o sujeito oculto não dispõe sequer do predicado exigido para a função que ele vai morrer afirmando que lhe tiraram na marra. Donos de uma expressiva bancada no Congresso Nacional, os caboclos neopentecostais do Alcorão evangélico não poupam elogios. Chegam a anunciar que, mais que um mito, ele é o enviado de Deus à terra para salvar supostos incautos e perdidos na selva vermelha do comunismo comandado barbudamente e com um pouco mais de inteligência pelo Exu Tranca Rua. Os que ainda o reconhecem como líder hoje estão mais preocupados com suas próprias vidas.

É do jogo a sociedade gradativamente eliminar quem se acha craque, mas não vislumbra possibilidade de deixar a reserva. É como se os antagônicos sugerissem ao povo para amar o próximo, porque o anterior não deu certo. Aceite o banco e, se puder, lembre-se de que você só não será eliminado tão cedo dos grupos do Supremo Tribunal, da Receita e da Polícia Federal. Não fique triste ou desanimado. Não culpe o país e os nordestinos por seu fracasso. Em breve, o que está ruim pode ficar pior. Portanto, se recolha e deixe a vida lhe levar. Quanto aos eventuais sucessores, o que o eleitor espera é que, no mínimo, tenham mais sabedoria.

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