Iniciado em 2020 nos parques de Águas Claras e Riacho Fundo, o Programa de Recuperação de Nascentes chegou à área rural. Realizado pela Secretaria do Meio Ambiente e o Projeto CITinova, do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTIC), o programa-piloto, agora, vai recompor a vegetação de Áreas de Preservação Permanente (APPs) de nascentes e outras degradadas ou alteradas. As propriedades estão localizadas na Bacia do Descoberto, Serrinha do Paranoá e Córrego do Coqueiro.
Idealizada no auge da crise hídrica no DF, em 2016, a iniciativa visa contribuir para a sustentabilidade da agricultura e a segurança hídrica da região, nas principais bacias que atendem a região, a do Descoberto e a do Paranoá. A meta é garantir água em qualidade e quantidade.
A agricultora Márcia Silva Araújo, do assentamento rural Dorothy Stang, em Brazlândia, disse que o projeto supre uma antiga necessidade da comunidade de fazer o reflorestamento de um hectare de cada lote do assentamento para a preservação da nascente que existe no local. Ao todo, oito lotes do assentamento estão sendo beneficiados com o programa. “A gente espera que ajude na preservação da nascente de água que temos aqui, garantindo suprimento o ano todo,” afirmou, esperançosa.
O sonho de Márcia é ver a sua gleba receber, além da recomposição de nascentes, o programa de Sistema Agroflorestal (SAF) Mecanizadas, já implantado em outros locais selecionados, também nas bacias do Descoberto e do Paranoá, como o Assentamento Canaã, em Brazlândia.
Recuperação ambiental
Em visita ao assentamento rural Dorothy Stang, o secretário do Meio Ambiente, Sarney Filho, ressaltou a relevância das ações que promovem a recuperação ambiental. “A cada visita que faço aos projetos coordenados pela Sema, me convenço do acerto das medidas de recuperação de áreas degradadas, da proteção de nascentes, cujos resultados são palpáveis e os benefícios atingem, principalmente, os assentados e os pequenos agricultores”, afirmou.
Nazaré Soares, coordenadora do CITinova pela Sema, explica que a recuperação de áreas degradadas pelos proprietários, de acordo com o Código Florestal, é obrigatória. “Dessa forma o projeto está fornecendo uma ajuda significativa, porque além da restauração estamos capacitando o produtor para dar continuidade à manutenção dessas áreas e a estender a iniciativa a outras áreas de reservas legais para estarem regularizados, do ponto de vista ambiental”, explicou.
Tratamentos para a recomposição vegetal
De acordo com Durval Sousa, engenheiro florestal e técnico do projeto pela Equilíbrio Ambiental, estão sendo utilizados quatro tipos de tratamento para conduzir a regeneração natural:
Plantio em área total – uso de mudas de espécies nativas, com uma ou mais espécies, para recobrir toda a área do plantio e formar uma comunidade vegetal.
Nucleação – plantio de mudas de espécies nativas em núcleos, melhorando as condições do ambiente para facilitar a ocupação da área por outras espécies.
Enriquecimento – busca a diversidade de espécies plantadas em áreas onde o solo está em melhores condições, mas que possui falhas na regeneração natural.
Sistema Agroflorestal – cultivo consorciado de espécies arbóreas e agrícolas para recuperar a vegetação.
Sousa enfatiza a importância do envolvimento dos agricultores, principalmente com as agroflorestas, que podem ser uma alternativa de renda extra. Além disso, segundo ele, os produtores agregam seus conhecimentos ao projeto.
No ano passado, após o diagnóstico e identificação das áreas prioritárias para recomposição florestal, a Equilíbrio Ambiental, empresa contratada pelo projeto para a prestação de serviços técnicos especializados, realizou o plantio de espécies nativas do Cerrado em dez hectares nos Parques de Águas Claras e do Riacho Fundo.
Nesta etapa, está prevista a implantação de 70 hectares em propriedades rurais na Bacia do Descoberto, Serrinha do Paranoá e Córrego do Coqueiro.
Início do projeto
O Programa de Recuperação de Nascentes começou em fevereiro de 2020 com a recomposição vegetal de dez hectares nos Parques Ecológicos de Águas Claras e do Riacho Fundo, que contribuem para a recarga hídrica da Bacia do Paranoá. Foram plantadas 6.500 mudas de espécies do Cerrado. Os resultados nesses parques foram muito positivos, com um índice de mortalidade abaixo do esperado, de acordo com o especialista. Os resultados obtidos serão inseridos na Plataforma de Conhecimento do Projeto CITinova para ampla divulgação.
A iniciativa integra o CITinova, projeto multilateral realizado pelo Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovações para a promoção de sustentabilidade nas cidades brasileiras por meio de tecnologias inovadores e planejamento urbano integrado, com financiamento do Fundo Global para o Meio Ambiente. É executado pela Sema, em Brasília, com gestão do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma) e do Centro de Gestão e Estudos Estratégicos (CGEE).