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Recusa de familiares dificulta programa de doação de órgãos

O transplante de um órgão é, em muitos casos, a única alternativa terapêutica em pacientes portadores de insuficiência funcional terminal de diferentes órgãos essenciais.

Acredito na doação, pois por meio dela somos capazes de salvar vidas e famílias, em um ato de generosidade e amor ao próximo. Defendo a doação de órgãos e tudo o que pode ser criado de positivo nesse tipo de cirurgia.

Vejo nosso sistema de forma positiva, nos oferecendo uma estrutura boa, porém acredito que muitos pontos ainda precisam ser trabalhados. Precisamos de mais equipes especializadas na atuação com os potenciais doadores, equipes destinadas somente a isso, parcerias com empresas, entre outros.

Em vinte anos de profissão, quando se trabalha na área da saúde, é comum termos que lidar com diferentes dificuldades. E posso afirmar com segurança que um dos principais inimigos do baixo número de transplantes de órgãos é a recusa familiar.

A recusa pode estar ligada a falta de informação, religião ou a outros dogmas. Defendo veemente a importância do transplante de órgãos e imponho toda essa defesa no meu projeto “Setembro Verde”.

Acredito que devemos orientar desde a época de escola, tanto no ensino público, quanto no privado sobre o que é a doação de órgãos, como ela pode mudar a vida do transplantado, qual a orientação da família. Precisamos informar essa nova juventude sobre o assunto.

Nosso país realiza 23.500 transplantes por ano, temos o Brasil como o país com o segundo maior programa de transplantes do mundo, perdemos apenas para os Estados Unidos. Ressalto que 95% das cirurgias de transplantes acontecem em hospitais da rede pública do SUS.

É comum ouvirmos certos questionamentos que indagam “Se temos toda essa estrutura, por que o nosso número de transplantes ainda é algo preocupante para a nossa sociedade?”.

Vejo que o Brasil ainda é muito carente de campanhas que falem sobre a doação de órgãos. A informação é algo fundamental para esse assunto, pois com a conscientização em grande escala o transplante deixaria de ser desconhecido, sendo debatido, desmitificando tudo o que existe em volta dele.

Campanhas com foco nesse assunto deveriam ser elaboradas o ano todo. Saber sobre a importância do transplante é quase tão fundamental, quanto saber sobre os métodos preventivos contra a Aids, por exemplo.

Outro ponto necessário para ser melhorado em nosso país é a infraestrutura que possuímos, principalmente no diagnóstico da morte cerebral e no tratamento dos potenciais doadores. Precisamos de uma estrutura abaixo dos serviços de procura de órgãos e tecidos e acima das comissões intrahospitalares de doação de órgãos e transplantes.

Para esse sistema, teríamos que contar com uma estrutura que engloba desde motoristas a médicos cirurgiões, que trabalhassem em todos os prontos socorros e UTIs, única e exclusivamente para realizar o diagnóstico do provável doador, cuidar do mesmo e fechar o diagnóstico de morte cerebral.

Nos últimos anos observou-se no Brasil e em outros países um aumento preocupante da desproporção entre a demanda de órgãos para transplante e o número de procedimentos realizados.

Esse quadro fez com que a meta de doação do nosso país não fosse atingida em 2014. No primeiro trimestre, 43% das famílias abordadas pelas equipes dos hospitais não autorizaram a doação. O número de doadores notificados caiu 1,4% e o de doadores efetivos 0,8%.

A mobilização para que essa realidade mude pode ser um divisor de águas em transplantes de órgãos no país. E isso significa salvar inúmeras vidas, uma causa muito nobre e que não pode ser preterida.

José Lima Oliveira Junior

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