A Polícia Civil e o Ministério Público do Distrito Federal estão investigando a origem e a veracidade da gravação de um telefonema onde os interlocutores supostamente falam de casos amorosos e negociatas em licitações públicas. São citados nomes de deputados, como o de Celina Leão, presidente da Câmara Legislativa, e os de Robério Negreiros e Rafael Prudente, filhos de famílias que detêm o monopólio da mão-de-obra terceirizada na capital da República.
A voz masculina é a de Índio, conhecido no mercado como um dos diretores da Soberana Empresa de Segurança e Serviços Gerais. Índio teria fortes ligações com Leonardo Prudente, dono da 5 Estrelas. Prudente é adversário político e concorrente de Robério Negreiros, pai, dono da Brasfort. Quem ouviu a gravação não conseguiu associar o nome da interlocutora ao de nenhuma mulher que ocupe posto relevante no mercado ou no próprio governo de Brasília.
A gravação sinaliza que foram feitos acordos prévios para licitações que serão realizadas nos próximos dias em Brasília, nas áreas de segurança, limpeza e conservação. Um dos contratos seria para o Departamento de Trânsito. Outro, para a Polícia Militar. Também fica entendido que deputados estariam negociando um projeto de lei para ‘disciplinar’ a prestação desses serviços.
A gravação, a que Notibras teve acesso com exclusividade, também tenta desmoralizar Robério Negreiros, em que os interlocutores falam de uma foto que teria sido montada, onde o deputado estaria praticando sexo anal, na condição de ativo. No telefonema, Índio dá a entender, porém, que a imagem é falsa.
Leia a seguir a transcrição da gravação. Mais abaixo, a íntegra do áudio.
– Alô.
Oi!
Deixa eu te falar… Eu não consigo falar com você… Agora que eu tô vendo suas mensagens. Eu não consigo falar com você agora. Eu tô vendo que você tem outro telefone. Eu vou estar sempre te ligando de outros números diferentes com esse telefone, então você espera. Então quando falar alô, se você não reconhecer minha voz, você me liga. Eu vou te falar o seguinte, ela não está fazendo isso. Eu tô atrás desse camarada. Segura um pouquinho. Agora tá até a Polícia Federal envolvida.
– Então por que ela tá me ligando?
Não é ela.
– É sim, a voz é!
Vai por mim, não é. Não é. Vai por mim que não é. Não é. Entendeu?
E… e… segura um pouquinho. A gente vai resolver isso tudinho. Deixa eu só pegar o cara. Não adianta você falar assim ó: dá um jeito nisso, resolve isso. Eu não sei quem é que tá fazendo isso.
– Ué, então fala que foi eu, índio. Acaba com tudo isso de uma vez.
Nãããoo, nãããão.
– Eu vou ser sincera com você: eu conheço a voz da sua mulher. Ela não me ligou dos números. Ela me ligou restrito. E foi ela que falou comigo, entendeu? Então pode ser que ela não teja fazendo isso, mas ela está por trás disso. E ela me ligou sim. Então assim: tudo que essa pessoa quer é me afastar de você. Então você pode acabar com isso. Você vai lá na delegacia e fala que sou eu que tô fazendo isso. (Índio tenta interromper) Joga um processo em cima de mim entendeu? E aí o que você pode fazer…
Não, não porque eu sei que não é… Escuta, presta atenção…
– Aí o que você pode fazer: pega esse documento onde diz que sou eu a culpada e manda via Whatsapp para essa pessoa. Essa pessoa vai ficar feliz. Essa pessoa vai espalhar em todos os grupos… (Índio tenta interromper) e eu tenho certeza que ela vai parar com isso.
Escuta, escuta… deixa eu falar uma coisa para você… o negócio é que você não deixa eu falar. Deixa eu explicar uma coisa para você. Não adianta… O mal é que você tudo responde pra esse cara. E você enche a bola dele lá. Entendeu?
– Eu comecei agora, né? Eu comecei há pouco tempo. Eu comecei há pouco tempo.
Escuta, escuta… Deixa, deixa… Quando ele for falar você vai fazer… passa o dedo e aí vai ter escrito bloquear, bloquear como spam… bloqueia como spam que vai lá para operadora. A operadora, quando ela encher a caixa dela, ela vai fazer um contato com você que tá bloqueando, porque quando você bloqueia aparece o número que você bloqueou. Então quando você bloqueia e aparece lá para a operadora, vai encher a caixa da operadora. O que que vai acontecer? A operadora vai te chamar e perguntar o que você quer… o que você quer tomar, o que você quer tomar. Ai você fala: eu quero abrir uma ação judicial, eu quero uma coisa contra essa pessoa. O pessoal da inteligência das operadoras é que vão (sic) correr atrás. Isso vai só me ajudar, entendeu? Eu vou pegar. Não adianta você falar assim: você que tem que dá um jeito nisso. Só tem um jeito: eu matar todo mundo e nascer todo mundo de novo, porque eu não sei quem é. Eu tenho uma, uma certeza de quem é… 90%, porque essa pessoa vacilou. Ela vacilou porque lá, quando ela entrou no wi-fi e identificou, só que ela vacilou, porque todas as mensagens que você recebe. Eu tô aqui com um monte de segurança falando comigo. Eu falei ó: eu não quero saber de nada de mensagem eu tô aqui para (aúdio de difícil compreensão). Eu não quero saber de mensagem. Então essa pessoa vacila. Não existe crime perfeito. Não existe crime perfeito. Ela vai cair. Agora eu preciso de tempo. Agora você não converse com ele. Não converse. Se a vitima é eu, é você, é meu filho, é todo mundo… não conversa. Quando ele colocar no grupo, tu entra no grupo e fala bem assim: pessoal, esse telefone não é do Índio, essa pessoa tá comprando chip pré pago e colocando no cpf dele, esse cpf não é meu, entendeu? Então… não faça isso. Não converse, não converse porque vai cair, vai cair e eu te mostro que a Policia Federal é que tá no caso, pronto… não responda, não mande mensagem, não grave vídeo, não grave áudio, não mande nada, entendeu? Segura um pouquinho, tá ok?
– Segura quanto tempo mais? Um ano? Dois anos?
E.e.e.e.euu não consigo falar quanto tempo para você. Pode ser até amanhã, eu não sei, pode ser até terça-feira, pode ser até segunda, eu não sei, não sei… segura. Segura um pouquinho. Agora, não responde, porque… deixa eu te perguntar um coisa: que dia é hoje?
– Sei lá que dia é hoje.
Sexta, sexta, sexta, sexta… O que que o William Bonner falou ontem de importante no Jornal Nacional?
– Ahh Ídio eu não tenho visto jornal, eu não tenho visto novela. Na verdade eu não tenho visto nada, por que?
Ok, ok, vamo (sic) lá. O que você viu hoje no jornal de ontem que foi bom, de uma coisa boa que aconteceu no jornal? Seja no Jornal de Brasília, no Correio Braziliense, Globo?
– Que foi bom?
Tem alguma coisa boa?
– Que foi bom?
É… alguma notícia boa…
– Nenhuma.
Então pronto. Se você não lembra o que aconteceu ontem, esquece, esquece isso tudo. Só entre no grupo… Faça aquilo que você fez naquele grupo, começa a adicionar pessoas.
– Não, eu não vou fazer mais não Índio.
(Índio tenta interromper a fala)
– Cê sabe por que? A única pessoa que está sendo prejudicada, moralmente sou eu. Você não está sendo prejudicado.
Nããããoo, nãooo.
– É sim. Você não está sendo prejudicado moralmente em coisa nenhuma. Você continua com seu eventos, você continua com a sua empresa (Índio interrompe dizendo escuta, escuta, escuta, ó ó ó…) Você continua com seu casamento.
Eu não vou acabar com a minha vida porque eu tenho minha consciência tranquila. Erramos? Errei, errei? Errei! Erramos, eu tenho minha consciência tranquila de que nós erramos, entendeu? Agora calma aí. Eu não vou bloquear minha empresa. Eu não vou acabar com tudo que eu construí ou não que eu vou construir, eu não vou deixar de trabalhar porque esse cara quer. Ele agora aqui, mandou privado, naquele 186 não sei o quê, falando que se eu colocar a Adriana para trabalhar, entendeu? Ele vai acabar comigo. Vem aqui no estádio para você ver a Adriana aqui trabalhando, entendeu? Eu não me submeto, eu não fico com nenhum chantagista. Eu ponho. Vem, vem procê ver: tá todo mundo aqui trabalhando, taqui. Eu não vou me rebaixar pra esse cara. Eu não vou me igualar com ele nem a pau e nem vou responder ele. Ele vai… Tudo que ele põe pra você ele põe no privado pra mim. Entendeu? Então você tem que ver o que ele fala no grupo.
Ele mandou pra você a foto deu (sic) sentado numa cadeira, entendeu? com as pernas pra trás no encosto, não é meu. Essa barriguinha não é minha, né?! Eu, eu, eu em pé encostado numa cadeira, com a barriga no encosto da cadeira, com a bunda pra cima e a foto do Robério Negreiros me enrabando. Ele mandou isso pra você?
– Não.
Botou num grupo, botou num grupo com todo mundo. Botô Sandro, o Jozafá da federação, a Kesia. Não tem nem a segurança. Todo mundo que está na minha agenda. Todos. O Sandro, o Paulinho da bilheteria digital, ô ô Medelin. Todos, todos que tão na minha agenda. Ele botou essa sacanagem toda. E eu nem respondo. Tá lá, eu encostado com a barriga encostada no encosto da cadeira e a foto do Robério Negreiros, deputado…
– Eu falei, eu falei com o deputado, você não falou nada com ele. Você tá mentindo pra mim, Índio.
Eu peço para ele não falar nada com ninguém ó, tudo que eu passar pra você, você não fala. Eu conversei com a Celina, conversei com o Rafael, entendeu?
EU conversei assim. Eu não converso com o Robério, mas com a Celina e com o Rafael eu converso. Entendeu? Então eu não tenho que… Eu só falo pra ele ó: eu tô passando isso aqui pra você, mas não foi eu que falei pra você, tá ok? Eu tô te ajudando. Tanto é que o projeto do seguranças da secre… , da, do, dos postinhos, dos quartéis, eu passei pro Rafael.
– Eu sei que você passou. Você passou antes de acontecer tudo isso.
Não, passei essa semana agora. Passei quarta-feira passada. Tá autos dele, ele falou assim… presidente… aquele projeto tal, vamo colocar pra frente, eu falei só se for agora. E ele falou comigo na terça, na quarta-feira 12:00 nós almoçamos lá no Cruzeiro Center e eu passei pra ele…
– Então você mentiu mais uma vez pra mim, porque lá atrás você falou que tinha passado pra ele. Na verdade, você mente muito pra mim.
Eu passei, não não não… você que tá falando isso…
– Eu perguntei pra você: Indio você tem o telefone do Rafael pra mim? Eu não sei o que eu queria falar com ele. Você virou pra mim e falou que não tinha.
Eu te passei, passei, não, não… Eu passei o telefone do (áudio de difícil compreensão) passei por Whatsapp pra você sim. Não fala isso não que eu passei. Eu dei um print na minha tela e passei para você.
– Mas eu tenho todas as conversas do Whatsapp. Eu vou ler uma por uma e vou mostrar pra você. Eu vou provar pra você que você falou que não tinha.
Eu só não passei o telefone…
– Celular.
Particular dele. Não passei o telefone particular dele. Eu passei o celular da Cristina, a secretária dele e o telefone fixo do gabinete.
– Não foi não…
Foi, foi, foi sim.
– Você passou para outra pessoa.
Vamos fazer o seguinte: não responda. Eu vou passar o número do telefone que você quiser, arrumar alguém que consiga fazer alguma coisa. Quanto mais ajuda melhor. Tá bom? Eu vou te passar.
– Eu quero conversar com você. Eu quero olhar dentro dos seus olhos e quero ouvir de você. Você já falou o que eu quero saber.
Eu te falo, pode deixar. Deixa eu acabar esse jogo de hoje, tá bom? A gente conversa.
– Eu vou aguardar, Indio… porque assim…
Tá ok.
– Você não vai poder ficar brincando o tempo todo.
Fica tranquila… Brincando desse jeito?
– Eu acho que você tá é lucrando com tudo isso.
Ahhh tô.
– É que nem a pessoa mesmo disse: você joga no… como é que é: tá tudo no seu cpf, no cpf da sua mulher, para você chegar, jogar na justiça e tirar dinheiro, dinheiro, é o que a pessoa faz.
Esse é outro assunto que a gente conversa depois. Deixa eu separar os seguranças aqui que vão abrir os portões 17h30, tá bom?
– Tá.
Não responda. Não mande áudio. Não mande vídeo. Tá bom?
– Mas então você fala com ela para parar de me ligar.
Não é e eu vou te provar que não é.
– É sim.
Tá bom, tchau….
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