Em permanente estágio de ebulição, boa parte dos 214,3 milhões de brasileiros precisa ser estudada com profundidade e certa urgência. É a parcela que acredita piamente nos bordejos psicodélicos do mito, sonha acordada com o caos, flerta com o golpe, mas vê fantasmas em todos os lugares para os quais aponta o nariz. Pior é a certeza de que, a exemplo do Brasil que tanto dizem amar, evoluíram o bastante nesses últimos três anos e meio para se acharem superiores. Não cresceram – nem nós – sequer um mil réis. No entanto, igualzinho expressiva parcela dos magistrados nacionais, se acham deuses. Na verdade, quase todos têm certeza disso.
Não acreditam em nada que seja contra eles. Por exemplo, as consultas populares do Datafolha ou de qualquer outro instituto de pesquisa jamais estão certas. Às vezes, também tenho dúvidas passageiras e pontuais, mas, sinceramente, duvido muito mais daquelas programadas apenas para agradar o ego de sua excelência, a divindade do Palácio do Planalto, e de seus apoiadores empedernidos. São sempre dois pesos e duas medidas. No festival de mentiras atordoadas liberadas a partir do púlpito mitológico, felizmente a verdade tem vencido com relativa folga. O ministro das Comunicações, Fábio Faria, que o diga.
Semana passada, logo após a divulgação dos 48% de Lula contra os 27% de Jair Messias, o primeiro genro de Senor Abravanel foi às redes sociais e por duas vezes tentou desacreditar o instituto. Sofreu duas derrotas. Ou seja, o feitiço atingiu em cheio o aprendiz de feiticeiro. Por meio do Twitter, na empreitada inicial apresentou quatro opções (Datafolha, Papai Noel, Pinóquio e Duendes) e perguntou aos usuários da rede em quem eles acreditavam. A opção Datafolha foi a vencedora com quase 70% das respostas. Na segunda, ironizou o resultado e fez pouco caso da instituição pesquisadora, mas, como na primeira incursão, recebeu o troco com a rapidez de um raio.
Na verdade, independentemente de suas posições ideológicas, a rapaziada do Twitter foi além. Recuperaram uma comemoração de 2020, quando ele (o ministro) soltou fogos após o mesmo instituto indicar à época um aumento da popularidade do atual mandatário. Perdeu feio de novo. Aliás, o governo e seus defensores sofrem diariamente esse tipo de desconstrução. Falam e são desmentidos em segundos. Essa prática pode até não ser entendida com uma sinalização de derrota, mas é feio e, como diz o velho ditado, água mole em pedra dura tanto bate até que fura. Acho que começou a furar. O povo de maricas mudou. A poção mágica do feiticeiro não assusta mais.
Ainda sobre o Datafolha, semana passada fiquei abismado com um desses memes produzidos exclusivamente para amenizar a dor dos fanáticos de carteirinha. O texto encomendado dizia que nem Lula acredita no instituto. “Se ele acreditasse, iria para as ruas cair nos braços de seus eleitores. Se não vai é porque sabe que não tem ninguém na rua esperando por ele. Bolsonaro tem”. Arre égua!!! Fora a turma do cercadinho e o pessoal que o acompanha a pulso ou por conta de alguns trocados, quem?
O fato concreto é que, embora renegue as pesquisas, o reduto bolsonarista, principalmente o político, tem se borrado com os dados. Setores dos defensores chamados raiz parecem menos dispostos a disponibilizar o lombo para o açoite. São aqueles arrependidos, cujos nervos estão à flor da pele. Antes da simpatia a Bolsonaro, Lula, Simone Tebet, Dória ou Tiririca, o eleitor é um ser humano com numerosas necessidades. Entre elas, a principal atende pelo apelido de barriga cheia. Ninguém aguenta quando o ronco do estômago sobe para a cabeça. O resumo da ópera é que o governo Bolsonaro está pendurado no lustre.
*Mathuzalém Júnior é jornalista profissional desde 1978