Entra dia, sai dia, vem ano e volta ano e nada muda no Brasil, particularmente no Congresso Nacional. Munidos de bombas ainda mais destruidoras do que as dos terroristas mequetrefes comandados por Jair Messias, deputados e senadores estão irritados com as exigências do ministro Flávio Dino para liberar as emendas parlamentares. Querendo liberdade para mamar, eles ameaçam não votar o pacote fiscal de Fernando Haddad caso Dino não libere geral. É o mesmo terrorismo tentado por Bolsonaro para impedir a posse de Luiz Inácio. A diferença é que a solução passa obrigatoriamente pelo dinheiro público. Se chover cascalho na Câmara e no Senado tudo estará resolvido.
É o Brasil da safadeza política nacional. O Natal ainda não chegou, mas suas excelências já estão em ritmo de carnaval. Emparedado pelos senhores da honestidade, Flávio Dino deve mudar de ideia, o que garantirá aos nossos mamadores profissionais um gordo e feliz Ano Novo. Por enquanto vilão da história, o ministro do STF acabará sendo o culpado por tanta alegria. No fim do conflito, Dino certamente se tornará o novo amigo oculto dos congressistas. Ou seja, cairão os novos critérios de transparência e de rastreabilidade, o PIX voltará ao bolso furado de suas eminências e, a partir da chegada à conta bancária, que se exploda o povo e todos os seus sonhos, anseios e obras. Morram de inanição.
É o modus operandi da rapaziada do voto. Como dizia aquele ex-presidente que renunciou antes de ser acochado pela turma do meu pirão primeiro, metade do Congresso é incapaz, e a outra metade é capaz de tudo. O lado bom é que os livros de história do século XXII mostrarão o Congresso Nacional como o almoxarifado da corrupção. O almoxarife certamente seremos nós, eleitores do século XXI, que, mesmo tomando no caneco, não temos força para isolar os homens e mulheres mais perigosos do Brasil. Se alguém duvida, leiam as críticas da maioria da casa dos horrores à proposta de corte de gastos. Os donos do mundo correram para se unir ao empresariado contra qualquer tentativa de reduzir suas benesses e a de seus financiadores.
Por exemplo, questionam a aprovação da isenção do Imposto de Renda para quem ganha até R$ 5 mil com renúncia de receita, mas, pelo menos por enquanto, não admitem taxar grandes fortunas. É o que chamamos de legislar em causa própria, na medida em que, após um ou dois mandatos, eles viram afortunados nababos. E que se dane o bem-estar social. O mercado atacou o pacote com bombas de efeito moral. Atacou porque a proposição enfrenta privilégios e beneficia quem mais precisa. Sei que é do interesse de poucos, mas, aprovada pelo Congresso, a isenção do Imposto de Renda beneficiará 36 milhões de brasileiros. Como contrapartida, 100 mil super ricos finalmente serão taxados.
Nada mais justo. Aliás, justíssimo. Por que um professor tem de pagar 27,5% de IR e o diretor de banco não? Será por isso que chamam Luiz Inácio de comunista? Eis a razão pela qual o gigante adormecido chamado povo não comenta, mas prefere ouvir e atender ao chefe da facção que domina sua comunidade a respeitar um político, principalmente os atrelados ao atraso. Também conhecidos por eleitor, o cidadão com um mínimo de consciência espera boas notícias, embora saiba que a chegada de um projeto de lei popular no Parlamento significa a imediata negociação sobre um pacote de emendas. É o velho mantra de que emenda é o que interessa, o resto não tem pressa. Está aberta a temporada do toma lá, dá cá.
Tudo dentro da normalidade. Afinal, boa parte da produção dos parlamentares é simulação. O lado positivo do presentão de Flávio Dino é podermos dizer que o fracassado flerte com o golpe zerou a possibilidade de avanço do projeto que tenta anistiar terroristas, inclusive os mentores do acintoso motim planejado pelo governo passado no Palácio do Planalto. Hoje, deputados e senadores estão mais preocupados em botar os nossos na reta da tesoura do governo. Fechados até para sinal de wifi, nos deles nem a gordura do olho gordo daquele ex-presidente sem limites que até tentou matar para recuperar o poder. Portanto, vejamos pelo lado bom. Pode ser que, enquanto os ratos se lambuzam com as emendas, sobre algum remendo na conta do governo para os famintos camundongos. Eita Congresso fuleiro. Parece aquela casa recheada de madames e comandada por soldado de puliça.
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*Wenceslau Araújo é Editor-Chefe de Notibras