E aí, Lula?
Reis da Selic avisam que arrocho vai continuar com juros mais altos
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emOs recém coroados reis da Selic chegaram ao trono no edifício-sede do Banco Central empunhando cetros dourados e vestindo mantos de austeridade. Gabriel Galípolo e seus nobres diretores, senhores supremos da política monetária, mandaram nesta terça, 4, um recado salgado que ressoa pelos rincões da economia brasileira: a taxa básica de juros subirá novamente em um ponto percentual em março.
A ata do Comitê de Política Monetária (Copom) é o pergaminho que traz a má notícia. Em linguagem sóbria e técnica, descreve um cenário que já se tornou um velho conhecido: inflação persistente, preços dos alimentos em alta, projeções sombrias para os próximos meses. Um reino onde o dragão da carestia não pode ser domado sem o açoite da Selic.
No mercado financeiro, os arautos já celebram o rigor dos monarcas da moeda, convictos de que o chicote da taxa elevada é o único instrumento capaz de subjugar o espectro inflacionário. Do outro lado do feudo, o povo – trabalhadores, empresários, endividados – encara a situação com resignação e desalento. Juros mais altos significam crédito mais caro, consumo comprimido, investimentos adiados. A roda da economia freia, mas os reis seguem firmes no comando.
“É o necessário para manter o equilíbrio”, dizem os sacerdotes da ortodoxia neoliberal. Mas equilíbrio para quem? A cada subida da Selic, os cofres do Tesouro pingam mais juros para os barões da dívida pública, enquanto a economia real, o mercado de trabalho e o consumo, seguem respirando por aparelhos.
O reino segue governado pelo dogma do aperto monetário. Os Reis da Selic mandam e desmandam, atentos ao pulsar do capital e surdos ao clamor das ruas. Março se aproxima, e o próximo aumento já está escrito. O povo, como sempre, pagará a conta. E Lula, como súdito, reverencia as altezas que fazem a mesma coisa que Campos Neto. Arrocho no bolso. Desse jeito, a fila não anda nem empurrando.
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Dora Andrade é Editora de Business de Notibras