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Patriotas de varandas

Rejeição, veneno difícil de curar, deixa Bolsonaro com pé na cova

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Autor/Imagem:
Wenceslau Araújo - Foto Isac Nóbrega

Uma das feridas emocionais mais profundas, a rejeição é um sentimento doloroso e difícil de aceitar. Sensação ainda pior é quando, para não ser rejeitado, o homem trai a si mesmo. Nesse estágio, ele faz qualquer coisa para conseguir a aceitação dos demais, quando, na verdade, gostaria de agir de forma totalmente diferente. A pessoa que experimenta a falta de afeto ou de querência pode associar, em algum momento, outros tipo de emoção, com destaque para o abandono, o fracasso, a provação moral, a indesejabilidade social, a busca de aprovação e alguns lampejos de otimismo. O resultado desse processo é a agressividade, mecanismo de defesa natural frente a uma situação nada agradável.

Embora faça mal para o coração e para a alma, nem sempre o rejeitado é suficientemente maduro para perceber que a rejeição transforma o amor em dor e a felicidade em tristeza. Aí surgem o ódio, a vilania, os xingamentos, o desrespeito e as ameaças. Está pronto o quadro mais cristalino de algo irreversível. Em outras palavras, é um veneno difícil de se curar. Trágico e lamentável, mas tudo a ver com a atual quadra vivida pelo Brasil, particularmente pelos brasileiros. Na disputa presidencial em curso, dois candidatos têm chances concretas de vitória. Os demais são cavalos paraguaios. Um deles permanece silenciosamente como menino mijado. Com a máquina na mão e um potencial que perdeu exclusivamente porque não soube mantê-lo, o outro lembra um cachorro correndo atrás do rabo.

Achou que a Pátria Amada ainda estava na Idade da Pedra e que, a qualquer momento, poderia subordinar quem quisesse. Esqueceu, principalmente, que a democracia é o governo do povo, pelo povo e para o povo. Desde a posse, tratou apenas do seu povo, a turma do cercadinho, cujo rancor, ódio, fúria, desamor e repulsa às coisas boas do país ajudaram a sedimentar a rejeição ora sofrida. O terrorismo protagonizado pelo chefe de governo e disseminado pelos patriotas de varandas não será em vão. O achincalhe da nação deve levar o candidato do golpismo ao fatídico segundo lugar. Caso ocorra, será por absoluta falta de humildade. Ouviu durante e após a campanha que ser humilde é saber perder, mesmo quando se quer ganhar. No entanto, não lembrou que, na vida, a diferença entre ganhar e perder está nos detalhes.

Sem mais delongas, os números mostram que, apesar dos bilhões despejados pelo governo federal na economia nacional, o presidente candidato permanece com altos índices de rejeição. Pesquisa do Instituto FSB, contratada pelo Banco Pactual e divulgada nessa segunda-feira (25), revela que Luiz Inácio se mantém à frente com 44% das intenções de votos, contra 31% de Jair Messias. Sempre contestados pelos bolsonaristas mais raivosos, a distância entre um e outro subiu de 9 para 13 pontos percentuais. Isso quer dizer que o povo está enojado de esmolas às vésperas de uma eleição. Também expressa a máxima de que não precisa ser mágico para ser um bom governante.

Cansado da pobreza, da fome, da violência, da corrupção e das mentiras oficiais sobre serviços de saúde e educação, o cidadão brasileiro quer propostas definitivas para o Brasil. Auxílio disso e daquilo são importantes, mas desnecessários caso sejam adotadas medidas reais para minimizar a dificuldade econômica da população. Por enquanto, nada além de discursos mirabolantes, demagogos e com data de validade. Quanto ao presidente falastrão, vale lembrá-lo que o eleitor não espera nada diferente de quem anda fazendo tudo igual. Não tenho vocação para marqueteiro, mas, se a intenção é ter algo que está fugindo das mãos, faça o que nunca fez. Honre o mandato, governe e tente evitar o cúmulo da rejeição.

Se ele não sabe ou ainda não descobriu o que está fazendo na Presidência, então por que achar que merece um segundo mandato? Valho-me da inteligência alheia para, mais uma vez, cobrar sensatez do mandatário. Como disse o imortal Gilberto Gil ao jornal britânico The Guardian, com uma visão retrógrada, reacionária e autoritária, o presidente brasileiro se opõe a qualquer tipo de avanço. “O que esperar de uma pessoa que prefere abrir um clube de tiro a uma biblioteca?” Lamentável, mas temos hoje a imagem que merecemos no cenário internacional. Depreciados e rejeitados pelos mais ricos, realmente estamos bem próximos do primitivismo, da descivilização e da esquizofrenia política. Rui Barbosa é quem estava certo. Chegamos à barbárie sem atingirmos o apogeu como nação.

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