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Locomotiva nos trilhos

Rejeitado por 4 anos, Nordeste dá volta por cima e impulsiona Brasil

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Autor/Imagem:
Wenceslau Araújo - Foto de Arquivo

Comparado a galinhas por um fio d’uma égua da alma sebosa, os nordestinos estão dando a volta por cima e mostrando ao país que são muito mais capazes do que apear do poder um presidente que jamais se orgulhou do povo da região. Na verdade, sempre que pode, ele e os membros do Partido das Lombrigas (PL) cagaram na cabeça dos nativos daquele pedaço do país. Dessa vez, a resposta em forma de castigo montou em um jegue, mas chegou de jato nas eleições de 2022. Azar do cidadão, cujo sonho da eternidade acabou em pesadelo justamente no voto dos até então invisíveis nordestinos.

Os tempos são outros. Em recente reunião em Brasília, economistas e dirigentes do setor produtivo de todos os rincões brasileiros atestaram a força e o poderio do Nordeste na transformação social do país. A perspectiva real é de que, juntos, os nove estados da região poderão se tornar a locomotiva do crescimento brasileiro nos próximos dez anos. Para se ter ideia da medição oficial, no primeiro trimestre deste ano o crescimento regional foi da ordem de 3,2%, contra 2,5% do Brasil. Como não sou do ramo, o que me cabe na defesa do latifúndio nordestino é bem mais didático.

Para começo de conversa, em que lugar do mundo os governantes e o povo – não necessariamente nessa ordem – conseguem organizar festas temáticas de 15, 20, 30 ou 72 dias? Onde? Onde? Onde? No Nordeste, é claro! Quem no Brasil e no mundo não espera ou não conhece as praias maravilhosas, o Carnaval de Salvador, as festas juninas de Campina Grande e de Caruaru, o Bumba-meu-boi do Maranhão, o Reisado de Pernambuco, os shows de humor do Ceará, a adoração de Zumbi, em União dos Palmares, a congada do Piauí, o Boi de reis do Rio Grande do Norte e o Lambe Sujo de Sergipe? Quem? Quem? Eu e todo mundo!

Mas o Nordeste de quase 60 milhões de habitantes não vive somente de festas. A política sempre fez – e faz – parte do DNA do povo local. Não à toa, a região de 1,5558.000 km² já produziu oito presidentes da República, dois deles alagoanos e os primeiros pós-Império. O nordestino não compra bonde, não inventou o avião, não tem, Ipanema e Arpoador tampouco um viaduto como o Minhocão. No entanto, foi na Bahia que Cabral aportou para descobrir o Brasil. É nas terras nordestinas que o povo cabra da peste planta e tudo dá. É lá que nenhum “infeliz das costa oca” se cria

Também foi por lá que a turma se insurgiu, mostrou a mandioca, rompeu barreiras montadas pela Polícia Rodoviária Federal, mostrou o dedo médio para a turba denominada “patriotas” e, mesmo contra o Sul e o Sudeste Maravilha, seguiu Caetano, Gal e Gil, elegendo mais um conterrâneo arretado. Foi um tapa de luvas na cara de pau de um monte de abestado que ainda não descobriu que nordestino não aperta, mas “arroxa”; não quebra nada, mas tora; não é sortudo, mas cagado; não conserta, mas “imenda”; e jamais dá a volta, mas “arrudeia”.

É esse o povo com o qual parte dos brasileiros até hoje faz “zuada”. Naquele dia 30 de outubro de 2022, o nordestino disse com todas as letras ao Brasil enrabichado com o golpe que novamente estava com os pneus “arreiado” pelo homem de Garanhuns. Encabulado com os acontecimentos desembestados do “capitão”, o nordestino acordou virado e disposto a dar o troco. Quebrou o pau contra um Silvaney da vida, gritou oxente, deu uma carreira e um carão no então dono da bagaceira presidencial, tomou uma calibrina e creu nos Mané. Amigado com a esperança, mostrou ao Brasil que não basta se embrulhar de verde e amarelo. É preciso se orgulhar pelo país na mesma proporção em que os nordestinos tudim cantam de galo, pois têm orgulho da nordestinidade.

*Wenceslau Araújo é Editor-Chefe de Notibras

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