Inócuo ou pouco além do que a maioria dos brasileiros e o mundo já sabiam, o relatório final da CPMI do 8 de Janeiro pode até acabar em pizza, mas conseguiu desmascarar de vez Jair Messias, os militares e os agentes públicos golpistas. Também recolocou definitivamente o bolsonarismo no esgoto de onde jamais deveria ter saído. Responsáveis direto pelo covarde e despudorado ataque à democracia, os bois, as antas e os ratos estão devidamente nomeados. Por meio de fake news encomendadas e de discursos de ódio acertados previamente pela cúpula do então governo, os animais manipularam massas e por pouco não levaram o Brasil ao abismo.
Com a aprovação do relatório, o que deve ocorrer ao longo desta quarta-feira (18), tudo dependerá da Procuradoria-Geral da República, agora sem o engavetador Augusto Aras. Caberá à PGR decidir se acata ou não os 61 pedidos de indiciamento, inclusive e sobretudo o de Bolsonaro, citado 268 vezes no documento de 1.333 páginas. Considerado pela relatora, senadora Eliziane Gama (PSD-MA), como o articulador e mentor intelectual da invasão das sedes dos Três Poderes, o “capetão” poderá ser condenado a 29 anos de prisão, caso seja condenado pelos crimes de associação criminosos, violência política, abolição violenta do Estado Democrático de direito e golpe de Estado.
A deslavada mentira de que o 8 de janeiro foi um autogolpe de Luiz Inácio foi para as cucuias, embora faça parte de um relatório paralelo da oposição, cujo texto somente será lido se o plenário da CPMI rejeitar a obra apresentada pela senadora maranhense. Parafraseando o atual presidente do Supremo Tribunal Federal, ministro Luiz Roberto Barroso, finalmente o eleitor nacional tem a faca e o queijo na mão para entender a razão da máxima de que malandro é malandro e mané é mané. Acuados no canto do ringue desde a instalação da comissão, os bolsonaristas tentaram de tudo para incriminar Lula e Flávio Dino, ministro da Justiça, o gordinho inteligente que infernizou (e inferniza) a vida e a alma dos seguidores do mito de periferia.
Os carpados triplos, os rabos de arraia e as cabeçadas de Dino no baixo ventre dos falsos patriotas ajudaram Luiz Inácio a evitar o último suspiro do caranguejal que serve de esconderijo para as desdentadas serpentes da oposição. No inquestionável texto, Eliziane Gama vai ao encontro do povo com um mínimo de inteligência e afirma que o 8 de janeiro “não foi um raio repentino num dia claro de sol. As nuvens carregadas que anunciavam a tempestade começaram a se acumular muito tempo antes”. Ou seja, não foi um acidente de percurso. Bolsonaro e sua turba premeditaram as invasões e as depredações de bens públicos. Deram com os burros n’água, mas é deles a máxima culpa pelo fracasso do ocorrido.
Quase tudo do que está posto no relatório final da CPMI dos Atos Golpistas já consta dos inquéritos abertos pela Polícia Federal. Novidade é a exposição ao inferno dos profetas fardados e dos santinhos do pau oco que sonhavam com o comando eterno, mesmo que não soubessem para que serviria tanto poder. Construíram um Cavalo de Tróia, colocaram lenha na fogueira, mas não conseguiram se enfiar por inteiro dentro do bicho. Deixaram as patas e o rabo de fora e provavelmente serão tosquiados em breve. Os bons tempos anunciam sua volta. O Brasil não está mais dividido em dois como esteve por quatro intermináveis anos.
Envolvidos até a medula na violência das manifestações da Praça dos Três Poderes, pelo menos cinco ex-ministros aderiram às condutas criminosas de Jair Messias, conforme consta do relatório de Eliziane Gama. Não citá-los faz parte do meu ritual apocaliptico de não reverenciar vassalos. O que é deles está guardado a sete chaves, as mesmas que, se o Brasil ainda for sério, os guardarão por bons pares de anos. Resumindo, os quatro meses e meio de investigação não foram em vão. A CPMI não ficou no zero a zero. Pelo menos politicamente os “is” receberam os pingos de forma correta. Agora, o Deus acima de tudo e de todos, que já se encarregou de pôr ordem na casa, tomará conta no inferno de todos os que fomentaram o golpe, particularmente do presidente e do almirante que se dispuseram a participar dele. Atocha, pois quem ri por último sempre ri melhor!!
*Mathuzalém Júnior é jornalista profissional desde 1978