O relator da CPI da Pandemia, senador Renan Calheiros (MDB-AL), defendeu que o ministro da Defesa, general Walter Braga Netto, compareça à comissão. Segundo Renan, o depoimento de Braga Netto seria importante pelo papel que ele exerceu como chefe da Casa Civil “no momento mais grave da pandemia”, no final de março — quando o Brasil chegou a quase 4 mil mortos por covid-19 ao dia. Renan disse que a CPI tem o compromisso de investigar com responsabilidade e, para isso, é preciso ouvir o ministro.
— Não investigamos instituições ou pessoas, mas investigamos os fatos e apenas os fatos — pontuou Renan.
O vice-presidente da CPI, senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP), também é favorável ao depoimento de Braga Netto. Para o senador, já existem elementos para a sua convocação. Randolfe disse que CPI ainda vai analisar o momento mais adequado para a convocação do ministro. Ele reconheceu que são graves as denúncias de que Braga Netto comandou espionagens ilegais contra senadores, mas apontou que este não é o objeto da CPI.
O senador Alessandro Vieira (Cidadania-SE) reapresentou à CPI da Pandemia um requerimento para a convocação do ministro Braga Netto. Um pedido anterior estava na pauta da reunião desta terça-feira (3), mas foi retirado após críticas de integrantes da comissão. Quando chefiava a Casa Civil, o general teria convocado um encontro em que se discutiu a edição de um decreto presidencial para mudar a bula da cloroquina e incluir a prescrição para a covid-19.
Renan e Randolfe também cobraram a presença do empresário Francisco Emerson Maximiano na CPI. Empresário, sócio da Precisa Medicamentos, ele ganhou no Supremo Tribunal Federal (STF) o direito de ficar calado e acabou tendo seu depoimento adiado pela CPI. Randolfe classificou a viagem de Maximiano à Índia como uma forma de obstruir as investigações da comissão.
Relatório e cautela
Renan afirmou que a CPI vem avançando e aprofundando nas investigações, buscando dar as respostas que a sociedade cobra. Ele informou que o relatório final começa a ser alinhavado, mas ponderou que “nada será fechado preliminarmente, pois a cada momento acontece algo novo”. Segundo Renan, o relatório vai buscar esclarecer “tudo o que aconteceu nessa negociata infame que dificultou a aquisição de vacinas”. Ele disse que, apesar das ofertas de empresas de prestígio, o governo preferiu negociar vacinas com empresas e intermediários obscuros.
— Vamos continuar aprofundando. A expectativa que temos é de não usar os 90 dias. Vamos trabalhar para antecipar a apresentação do relatório final — declarou Renan.
O presidente da CPI, senador Omar Aziz (PSD-AM), defendeu cautela nas investigações. Ele ressaltou que a CPI está focada em trazer resultados com fatos concretos, para que não ocorra nenhuma forma de injustiça. Na mesma linha de Renan, o senador Aziz disse que CPI não trabalha com interesses pessoais.
— Não investigamos nomes, investigamos fatos. Precisamos ter muita cautela em relação aos nomes — afirmou Aziz.
Marcelo Blanco
Na visão do senador Marcos Rogério (DEM-RO), o depoimento de Marcelo Blanco é importante por ser um dos personagens que estava na conversa em que houve o suposto pedido de propina de US$ 1 por dose de vacina. O senador fez questão de destacar que entende que esse pedido de propina nada tem a ver com o Ministério da Saúde ou com o governo federal.
O depoimento do tenente-coronel da reserva Marcelo Blanco da Costa está marcado para esta quarta-feira (4), a partir das 9h. Ele foi assessor e ex-diretor-substituto do Departamento de Logística do Ministério da Saúde. Exonerado no último mês de janeiro, Blanco também teria participado do jantar quando houve pedido de propina ao Ministério da Saúde em uma negociação de compra de vacinas contra a covid-19.
Para o senador Humberto Costa (PT-PE), o depoimento de Marcelo Blanco é importante por se tratar de “um caso grave, de corrupção passiva, que não deixa de ser considerado crime por não ter sido concretizado”. Rogério Carvalho (PT-SE) disse esperar que Marcelo Blanco esclareça o que de fato aconteceu e quem esteve envolvido em possíveis ganhos indevidos.
Requerimentos
Marcos Rogério voltou a criticar a condução dos trabalhos da CPI. Segundo o senador, a comissão vem agindo com “arbitrariedade e cometendo abusos” que poderão gerar muito prejuízos. Ele reclamou que os mais de 100 requerimentos aprovados nesta terça foram votados sem clareza sobre o tipo de sigilo que deveria ser quebrado.
O senador Eduardo Girão (Podemos-CE) voltou a cobrar a convocação de representantes do Consórcio Nordeste e reclamou do que chamou de vazamentos de dados sigilosos. Ele disse que os requerimentos podem transformar a CPI em um instrumento político, “com ânsia de ódio”.