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O Lado B da Literatura

Renan, nerd, escritor, advogado e, diz Ceci, um galã bem charmoso

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Autor/Imagem:
Cassiano Condé - Foto Acervo Pessoal

Dizem por aí que certas vidas dariam livros. A dele, por exemplo, já rendeu quatro — dois publicados, um prestes a ver a luz do dia e outro sendo cuidadosamente lapidado, como quem afia uma espada antes da batalha final. E olha que ainda nem mencionamos o currículo de advogado, a alma de poeta ou o coração nerd.

Ele é o tipo de cara que você encontra num rodízio de pizza, disputando a última fatia de calabresa com a própria irmã, e logo depois, mergulhado em um tratado de filosofia estoica como quem busca respostas para os dilemas da alma. “O problema não é o mundo, é como a gente olha pra ele”, diria ele, entre um gole de café e um biscoito (sim, biscoito, porque é carioca e nisso não há debate).

A infância? Recheada de histórias. Não aquelas de infância difícil, não — ele cresceu cercado por amor, bons livros e péssimos videogames dos anos 90 que o ensinaram, desde cedo, a não desistir fácil. Sua família, aliás, é seu pilar. “Se eu escrevo, é porque fui muito bem lido pela vida”, brinca, enquanto organiza mentalmente um poema que vai direto pro Instagram mais tarde, ou pro Notibras, onde já é presença.

Sobre a advocacia, ele fala com brilho nos olhos, mas também com as cicatrizes de quem já lidou com muitas causas que mais pareciam episódios de drama jurídico com roteiro da HBO. Entre audiências e petições complexas, ele descobriu que, no fundo, tudo é narrativa. “Um bom advogado é meio escritor, meio filósofo, meio psicólogo — e ainda precisa almoçar em quinze minutos.”

A filosofia? Um refúgio e uma lente. Gosta especialmente dos pensadores que mergulham fundo na condição humana. “São os únicos com quem gosto de debater depois da meia-noite”, ri, enquanto assevera “Ah, e Daniel Marchi, que vez ou outra dialoga comigo pelo WhatsApp sobre poesia e razões internas”. Talvez, por isso, seus livros tragam sempre um toque existencial — mesmo quando está falando de fantasia.

Ah, os livros… O primeiro, um compilado de poesias que tocavam temas como amor, perda e os labirintos internos. O segundo, uma não-ficção que nasceu quase sem querer, durante um período de inquietação intelectual. O terceiro, ainda inédito, é um reencontro com os versos que o formaram. E o quarto, um romance de fantasia, é sua aventura mais ousada até agora — e talvez a mais pessoal.

– “Eu queria criar um mundo onde a dor tivesse forma, e a coragem também”, confidenciou certa vez. E criou. Um universo em que o protagonista luta contra forças externas e internas, cercado por mitos, deuses e dúvidas — tudo inspirado, quem sabe, em um certo advogado-poeta que também tem seus monstros e suas influências na vida.

Hoje, entre atendimentos, textos e devaneios, ele vai seguindo. Caseiro por vocação, apaixonado por séries, games e boa música, ele é aquele tipo raro de ser humano que consegue ser muitas coisas — e ainda assim, manter-se inteiro. Ou quase. Porque, como ele mesmo diria: “Ser inteiro é coisa de robô. Ser humano é ser fenda. E é pela fenda que a luz entra.”
E ele ri. Porque sabe que isso vai entrar na autobiografia.

Dizem por aí que todo grande herói tem uma origem modesta. No caso dele, a modéstia foi dividida com risadas altas na mesa do jantar, videogames jogados até tarde e muita leitura. Ah, e esportes – acha que a vida é só comer coisa gostosa?

Desde pequeno, entre uma mordida e outra num sanduíche de queijo com mortadela e uma tentativa frustrada de salvar o mundo com um controle de PlayStation nas mãos, ele já ensaiava frases de efeito. Algumas viraram poemas, outras só serviram pra fazer a mãe dele rir. A infância foi recheada de amor familiar, pipoca e uma fantasia quase messiânica de que um dia escreveria um livro tão bom quanto aqueles que ele devorava nas férias.

– “Você se lembra do primeiro texto que escreveu?”, pergunto.

– “Claro. Tinha seis anos. Era sobre uma barata que se elegia presidente. Mas, infelizmente, perdeu para um rato corrupto. Um clássico da literatura infantil marginalizada”, ele responde, rindo do próprio passado.

Formou-se em Direito como quem cumpre uma profecia. Não porque queria usar terno todo dia, mas porque aprendeu desde cedo que justiça e poesia são irmãs distantes — e às vezes até se encontram numa petição bem escrita.

Aliás, escrever é onde ele se sente mais em casa. São quatro livros nas costas num processo que ele descreve como “lapidar diamantes imaginários enquanto come pizza doce de Kinder Ovo”. Sim, porque ninguém pode ser profundamente sensível com o estômago vazio.

– “E qual é a rotina de criação?”, pergunto, interessado.

– “Basicamente, eu sento com um café, olho para o nada, me distraio com uma música do Queen, penso numa citação de algum escritor, tangencio sobre algo que estou sentindo, e quando percebo, já se passaram 2 (duas) horas e estou com 5 textos prontos. Às vezes cinco e meio”, ele ri. “No meio da madrugada, as ideias surgem entre um processo e outro, entre soundtrack de The Witcher 3 e o sono que não chega. Gosto de pensar que os personagens me visitam. Às vezes sentam no sofá, tomam um chá, e dizem: “me escreve direito dessa vez.”

Hoje, divide seu tempo entre as ações judiciais, os delírios poéticos, os textos que publica no Notibras, e as batalhas hercúleas do romance de fantasia que está escrevendo – fora o tempo que se dedica a Julliane, sua namorada. Diz que escrever um livro é como ser um deus num mundo onde até o caos é planejado — e que, mesmo assim, seus personagens ainda conseguem surpreendê-lo.

Nerd assumido, caseiro convicto e um vaidoso sem remorso, ele olha para trás com gratidão e um pouco de surpresa. “Nunca pensei que ia fazer tanta coisa antes dos 30. E olha que ainda não cheguei lá. Literalmente, acabei de fazer 28”. (Renan faz aniversário no mesmo dia do talentosíssimo poeta Augusto Frederico Schmidt, 18 de abril).

-‘’E você sempre quis ser escritor?'”

A pergunta bate como um raio no meio da entrevista. Sorri. Pensa em responder algo filosófico, mas a verdade é mais engraçada:

-“Quis ser ator, marinheiro, médico, biólogo… e domador de dinossauros. Mas não dá pra competir com a paixão que a escrita provoca.”

Nasceu no Rio, criança caseira e metida a cientista maluco. Inventava máquinas com sucata, organizava julgamentos entre bonecos e lia bula de remédio como quem lia Tolkien. A família? Base de tudo. Sua mãe lhe ensinou a falar, seu pai a observar. Sua irmã… bem, ela ensinou a correr mais rápido que a confusão.

-“E a advocacia, como entrou na sua vida?”

– “Como todo bom nerd que se preze, a paixão veio por exclusão: se não podia ser um cavaleiro de ouro, pelo menos podia lutar por justiça com toga e gravata. E, sinceramente? A vida real tem seus vilões e reviravoltas, mas também seus finais justos. Ou quase. Hoje sou advogado, sim. Mas também sou poeta, escritor, contador de causos.”

-“E como é sua relação com o público leitor?”

-“Lanço meus textos no Instagram como quem solta garrafas no mar. E no Notibras, encontro um porto. Lá, cada poema é um bilhete escrito no verso do cotidiano. Tenho prazer em brincar com as palavras como quem joga Mortal Kombat com o Scorpion: com estratégia, emoção e um pouco de apelação.”

-“Algum momento da sua vida que te marcou?”

-“Quando estive de frente para todos que amo, olhei para eles e disse: obrigado até aqui. Eu consegui o que eu queria”, ele fechou os olhos e riu. “Eu estava descendo as escadas, olhando para todos os amigos e familiares, enquanto meu nome era dito entre tantos outros formandos. Ali, eu percebi que um dos arcos mais lindos da minha vida tinha acabado.”

Pergunto a ele sobre qual era o seu sonho de infância, e ele prontamente responde, deixando no ar:

– “Eu queria ser exatamente isso aqui. Mas com superpoderes.”

Por último, indago o que vem daqui pra frente, e ele me responde com humor:

– “Ah, isso depende de quantos biscoitos tiver na despensa… e de quantas histórias ainda quiserem sair da minha cabeça.”

…………………….

Cassiano Condé, 81, gaúcho, deixou de teclar reportagens nas redações por onde passou. Agora finca os pés nas areias da Praia do Cassino, em Rio Grande, onde extrai pérolas que se transformam em crônicas.

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