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Renan vira Indiana Jones contra reino da pandemia

Lutar por um ideal ou por um objetivo é digno, bíblico e louvável, pois demonstra o desejo do ser humano em sonhar com dias melhores. Indigno, desproposital e indecoroso é “trabalhar” dia e noite para atacar, derrubar ou evitar uma pessoa, seja ela opositora contumaz, adversária ocasional ou apenas um calo no sapato apertado. Seja qual for a intenção, na avaliação de qualquer leigo essa insistência denota algumas hipérboles atravessadas e interessantes. De um lado, alguém está morrendo de medo, quem sabe chorando um oceano de lágrimas. Mais sereno e aguardando os acontecimentos, de outro há um grupo estourando de rir porque já viu esse filme mais de mil vezes. Pode parecer perseguição, mas falar em medo nesses dois anos e quatro meses de governo é pleonasmo, isto é, pura redundância, repetição ou tautologia para os mais eruditos.

O preâmbulo e as figura de linguagem servem somente para tentar encontrar respostas que expliquem a desnecessária e doentia persistência do Palácio do Planalto e apoiadores do presidente da República em não querer Renan Calheiros (MDB-AL) relator da CPI da Covid-19. Tentar (e perder) liminar ou recorrer ao sobrecarregado Supremo Tribunal Federal com o argumento de que ele é pai de um governador que pode ser investigado é verborragia de apavorados. É o mesmo que pedir a uma criança para não mais comer doces por estar melada. Aliás, falar em melado perto do senador alagoano é mais uma repetição de ideias. Todavia, fazer disso um cavalo de Troia, um símbolo de conflito no imaginário popular, é demais para os que sabem – e querem – discernir.

Não há razão lógica para impedir um senador de relatar uma comissão parlamentar de inquérito. E não importa a negritude de sua história, tampouco as formosuras de seu passo recente. Os alagoanos mais inteligentes sabem do que estou falando. Entretanto, como senador, o regimento interno da Casa lhe permite até mesmo a santificação. E, a depender do resultado da CPI, ela não estão tão longe. Ainda por conta do azedume do texto final, também corre o risco de ser demonizado e jogado às traças nas areias de Cruz das Almas, uma das praias do litoral norte de Maceió. Ele sabe que não é a melhor, mas é a que lhe sobrará caso só encontre malfeitos do capitão no desastrado controle da pandemia, cujas estatísticas são cada vez mais medonhas e contrárias a tudo que pregam os negacionistas: 14,7 milhões de infectados e 400 mil mortos.

Vale ressaltar que, até aqui, fracassaram todas as investidas bolsonaristas para tirar Renan do posto que já assumiu. E fracassarão todas as futuras tentativas, inclusive a que está sob avaliação do STF, a pedido dos senadores Eduardo Girão (Podemos-CE) e Jorginho Mello (DEM-RO). Mais uma ação para o arquivo morto denominado chover no molhado. A improbabilidade da vitória não reduz a importância e a profundidade da análise feita por parlamentares, jornalistas, analistas políticos e leigos na matéria. Deve haver algo de muito podre no reino da pandemia. De tão apodrecida, a mercadoria já deve virado pó, mas os fiéis e enclausurados súditos tentam de tudo para esconder pelo menos o cheiro. O que se espera é que mais essa CPI não termine somente aquecida em forno brando.

Improvável, mas não impossível. Seria a desmoralização generalizada, o que seria uma bobagem para o que já se produziu no Congresso Nacional desde sua criação e instalação, respectivamente em 1824 e 1826. Aliás, relembrando a sina cantada por Ulysses Guimarães (“Se você está achando a atual legislatura ruim, aguarde a próxima”), podemos tentar uma analogia com a CPI da Covid-19. Mais alvissareiro nos limitarmos à semelhança funcional. Como a melhor coisa do Brasil são os brasileiros, o ideal é que continuemos acreditando que as pessoas são inerentemente boas ao nascerem. Em resumo, ainda podemos inverter o enigma da existência e, quem sabe, um dia seremos invejados por termos nascido tupiniquins. O show não pode parar. A CPI pode ser um bom palco.

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