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Solidariedade espiritual

Renascer em Cristo de Estevam perde feio pra macumba carioca

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Autor/Imagem:
Wenceslau Araújo - Foto Reprodução/Sonho Astral

Dia desses, em uma roda de birita ecumênica – tinha cachaça de todos os matizes religiosos -, ouvi de um dos presentes que a esquerda representada pelo PT tinha negócios com o demo. Lembrando que a extrema-direita vive diariamente em função do demo, preferi o silêncio, que sempre deve ser a única resposta aos tolos. Faço meu o pressuposto dos sábios, para os quais onde a ignorância fala, a inteligência não dá palpites. Mesmo sem responder sonoramente, pensei com meus botões: melhor do que ser terrivelmente mentiroso na evangelização do bolso alheio. Enfim, pastor, padre, pai de santo e caboclo de frente cada um tem o seu. O problema é quando o preto velho da rabeira não quer deixar o posto.

Aí, só rezando um terço para as santas Almas Benditas. Foi o que fez o apóstolo Estevam Hernandes ao se tornar alvo de uma ação protocolada no Ministério Público de São Paulo, após perguntar, pejorativamente, aos participantes da Marcha para Jesus se, nos próximos anos, “o Brasil será o maior país macumbeiro do mundo ou o país mais evangélico do mundo”. Do alto de sua desinteligência crônica, o pastor ainda não percebeu que ingênuos e coitados são minoria no Brasil. E estes, ele e seu parças já conquistaram. Quanto aos da turma do deixa eu viver, eles só pagarão o dízimo quando as igrejas evangélicas permitirem o funk saliente e despudorado em suas dependências.

E o convescote dançante pegajoso terá de ser abrangente, isto é, não pode ficar restrito à cúpula e às escolhidas. Da mesma forma que os macumbeiros têm certeza de que bolsos seguem o dindim do dízimo, a pastorada deveria saber o verdadeiro significado da palavra macumba, antes de vomitar asneiras para seus seguidores. De forma geral, o termo macumba define um instrumento de percussão de origem africana. Em tom pejorativo, a palavra também acaba sendo usada para se referir tanto às oferendas e entidades religiosas de matrizes africanas, quanto às próprias religiões e seus praticantes. Sugiro aos bobalhões da Bíblia debaixo do braço que visitem uma das macumbas mais populares do país: a carioca.

Com certeza serão apresentados ao que há de melhor no quesito festas populares. E tudo sem custo extra, sem o topa tudo por dinheiro. Não há necessidade de contribuir obrigatoriamente para a construção de templos faraônicos em terrenos doados pelo Estado. Vale registrar que os centros de umbanda ou de candomblé normalmente estão localizados nos fundos da casa do babalorixá ou do ogã. Também não há pedidos de doação de escrituras de apartamentos, casas de praia, anéis de formatura, cartas de consórcios de automóveis, joias, penduricalhos da Feira do Paraguai e, quando não há nada para penhorar, serve a desavisada patroa. Tudo em nome de Jesus.

Ao contrário das igrejas dos malandreados pastores, no centro até guardanapo vira bolo no fim da “farra”. A pinga que matou o guarda é a sobra do último gurufinho (velório) da rua e os bolinhos de arroz e de carne moída de trasantontem vieram da missa celebrada na véspera pelo Frei Damião. Como suncê pode perceber, é tudo em casa. É a solidariedade espiritual, emocional e física. É misifio pra cá, misifio pra lá e a gente vai misifiando e todos se dão bem com a misifiada. E não razão para se preocupar caso alguém mande uma macumba para sua casa. Será como uma carta para o endereço errado: voltará para o remetente.

Macumbeiro não enriquece às custas do irmão da pobreza. Pelo contrário. Após anos macumbando e afastando os caboclos de cima da mulher alheia, os pais de santo metem a mão no bolso e só conseguem tirar os cinco dedos. Não há negociata escusas om o demo, tampouco acertos com Ele para divisões futuras. É tudo preto no branco. No terreiro, mais vale um galo solto do que dois no poleiro. Portanto, se um dia achares alguém falseando pregações em nome de Deus acenda uma vela para Seu João Grosso e, como fazem com nossas imagens, não chute o indigitado. Como disse nosso poeta maior (Carlos Drummond de Andrade), a confiança é ato de fé, e esta dispensa raciocínio. O recalque dos ignorantes bate na pomba e gira. Metade de mim é fé e a outra é axé. Orí eni ní um ’ni j’oba (a cabeça de uma pessoa faz dela seu rei). Saravá!

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