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Renato Russo viu apocalipse político há mais de 30 anos

O velho manuscrito de Renato Russo, a que Notibras teve acesso

Wemerson Santos
Colaborou Rebeca Seabra

O que Patmos, Polícia Federal, Ministério Público, STF e Renato Russo têm em comum? Há três meses, nada; hoje, porém, muito.

Vale lembrar que a Polícia Federal e a Procuradoria-Geral da República acabam de desnudar ainda mais o banditismo político que domina a paisagem do Congresso Nacional. Até aí, mais do mesmo. Nos últimos dias, no entanto, a operação Patmos, capitaneada pelas duas instituições, ganhou ares rarefeitos ao ser anunciada como o “apocalipse político”. O que Renato Russo tem em comum com isso? Muito.

Recém-lançada no mercado musical, escrita pelo icônico Renato Russo e até então inédita, “Apóstolo São João”, trata justamente de um apocalipse: o brasileiro. A letra veio a público pelas mãos de Giuliano Manfredini, filho do cantor e compositor, que guardava o manuscrito a sete-chaves, e entoada pela banda “Urbana Legion”, projeto criado pelos músicos dos grupos Tihuana, Charlie Brown Jr. e Bula.

A letra, escrita há mais de 30 anos, traz à tona pequenos déjà vus sobre o atual cenário político e social por qual passa o Brasil – com escândalos de corrupção tomando conta da discussão nacional.

Bebendo ou não dessa fonte, Polícia Federal e Procuradoria-Geral da República, colocaram na rua a Operação Patmos, nome curto de uma pequena ilha da Grécia, no mar Egeu, conhecida por ser o local onde o apóstolo João foi exilado, segundo o livro bíblico. Ali, João recebu as revelações do apocalipse.

Patmos – Longe das ilhas gregas, desta vez quem recebeu as revelações do apocalipse foram os brasileiros, que assistiram e ouviram atônitos mais uma face pútrida da política partidária revelada em detalhes pela Operação Patmos.

A origem da nova operação vem da Lava Jato, mais ampla e longeva investida de combate à corrupção no Brasil. Deflagrada pela Polícia Federal, sob a batuta de Edson Fachin, relator da Lava Jato no Supremo Tribunal Federal, a pedido da Procuradoria-Geral da República, a Patmos centrou nomes ligados a Michel Temer.

O centro da investida é a delação dos donos da JBS, maior grupo de produção de proteína animal do mundo, Joesley e Wesley Batista. Os empresários gravaram Temer avalizando o pagamento de propinas ao preso e condenado Eduardo Cunha, em troca de seu silêncio. Saíram das delações, ainda, provas da entrega de dinheiro para emissários do presidente e de Aécio.

Apóstolo – Pela avaliação de alguns observadores sociais, neste momento, um trecho de “Apóstolo São João” soa bastante familiar para os brasileiros após as revelações de “Patmos”. Basta ler (ou ouvir): “Eu estava desligado / E não deu para prevenir”.

E enquanto novas operações policiais continuam a borbulhar na cena política brasileira, tem muita gente conferindo e aplaudindo a nova canção da genial velha safra de Renato Russo.

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