Marta Nobre, Edição
Os brasileiros antes sub extratos da sociedade, e que tiveram melhores condições de vida a partir dos governos de Lula e Dilma, não assistirão de braços cruzados ao impeachment da presidente afastada. O entendimento é do senador Roberto Requião (PMDB-PR). Segundo ele, a eventual queda de Dilma é uma senha para a guerra civil.
Embora pertença ao mesmo partido de Michel Temer, o senador paranaense tem feito uma defesa contundente de Dilma no processo de impeachment. “O conflito será inevitável caso o impeachment se concretize; o povo brasileiro que provou do gosto da emergência social não vai retornar submisso, à senzala social”, afirmou.
Requião criticou em especial a Proposta de Emenda à Constituição (PEC) que limita os gastos públicos por 20 anos e as reformas da Previdência Social e trabalhista que o governo Temer pretende apresentar ao Congresso Nacional. “Ou seja, vai congelar por duas décadas despesas com saúde, educação, saneamento, segurança e habitação e garantir o pagamento da dívida pública”, afirmou.
O senador do PMDB disse duvidar que “um só de nós (parlamentares)” esteja convencido de que Dilma está impedida de governar por ter cometido crime de responsabilidade. “Não são as pedaladas e a abertura de créditos suplementares que a descomungam. O próprio relator as praticou em Minas (Gerais)”, disse, em referência ao senador Antonio Anastasia (PSDB-MG), relator do pedido de impeachment de Dilma no Senado.
Requião disse esperar que o Senado não tenha de fazer o mesmo que fez com o ex-presidente da República João Goulart, que foi deposto do cargo em 1964 pela Ditadura Militar. Em 2013, o Congresso Nacional anulou a sessão legislativa que destituiu Jango, como era conhecido, do cargo e pediu desculpas oficiais à família do ex-presidente.
Emoção – Já o senador Jorge Viana (PT-AC) falou emocionado aos senadores e pediu que eles votem contra o pedido de impeachment. Em seus 10 minutos de fala, ele afirmou que a presidente afastada trouxe “argumentos necessários para que qualquer colega pudesse decidir seu voto”. “Não queremos nada nesse tribunal a não ser justiça. Se contra fatos não há argumentos, Dilma tem que ser inocentada amanhã”, afirmou.
Ele fez ainda uma referencia à defesa emocionada que o advogado de defesa, José Eduardo Cardozo, fez na manhã de hoje. “Confesso que a fala da defesa de Cardozo escreveu uma das páginas mais bonitas do plenário do Senado”, disse. Para ele, a defesa que a presidente fez ontem foi “brilhante”.
Por sua vez, o relator do pedido de impeachment, o senador Antonio Anastasia (PSDB-MG) afirmou que as “pedaladas fiscais” praticadas por outros ex-presidentes da República não foram reclamadas no Congresso Nacional porque ninguém sabia.
“Por que nos anos anteriores não foi reclamada no Congresso? Simplesmente porque ninguém sabia. As estatísticas não apuravam”, afirmou o tucano. Segundo ele, só a partir de 2013 começou-se a saber que existia atraso no repasse do Tesouro Nacional a bancos públicos para pagamentos de benefícios sociais
Sobre os decretos de crédito de suplementação orçamentária, outro item que embasa o pedido de impeachment de Dilma, Anastasia afirmou que a “questão grave” é a abertura dos decretos, não sua execução. “A autoria de Dilma é indiscutível, porque lá está sua assinatura”, declarou.