Mesas vazias e pedidos mais magros são uma realidade cada vez mais frequente nos bares a restaurantes brasileiros. No segundo trimestre de 2015, o faturamento do setor caiu 6,34% em termos nominais (ou seja, sem descontar a inflação) na comparação com os três primeiros meses do ano, e um a cada quatro estabelecimentos já operam no vermelho, segundo dados da Associação Brasileira de Bares e Restaurantes (Abrasel).
“No terceiro trimestre, o número de empresas com prejuízo continuou crescendo e deve chegar a um terço”, afirma o presidente-executivo da entidade, Paulo Solmucci Júnior. “Muita gente que começou o ano ganhando dinheiro agora está zerada, e a chance de fechar o ano com déficit é grande.” Se esse cenário continuar, alerta o executivo, o risco é que muitos empresários decidam fechar as portas, com consequente aumento no número de demissões no setor.
Alta do desemprego, queda na renda das famílias e inflação elevada são alguns dos fatores que pressionam o bolso dos brasileiros, que decidem priorizar despesas essenciais e economizam nas refeições fora de casa. Além disso, há um “fator preventivo”, segundo o presidente da Abrasel. “O cliente está empregado, mas está com medo do que vem por aí. Então, ele corta gastos.”
No restaurante Maraton, no bairro Santa Cecília, em São Paulo, o empresário Antonio Correia assiste a uma combinação curiosa. O movimento cresceu no último mês e meio, já que o quilo a R$ 39,90 é um dos mais baratos da região. Mas o faturamento não subiu como era esperado: ficou no zero a zero. “Diminuiu a quantidade de comida que a pessoa coloca no prato. Esses dias fechei uma comanda de menos de R$ 7. A menina comeu menos de 200 gramas”, conta.
A dieta forçada, principalmente entre mulheres, é para fazer o vale-refeição durar até o fim do mês, imagina Correia. Em compensação, os custos do restaurante não param de aumentar. O quilo da carne ficou até R$ 8 mais caro, e os gastos com itens de hortifruti subiram quase R$ 500 por semana. “A gente precisa garimpar para poder comprar sem prejudicar o produto.”
Em todo o Brasil, a crise atinge de maneira mais intensa os locais onde o tíquete médio consumido por cliente vai de R$ 30 a R$ 70. Nesses casos, a queda no faturamento chega a 30%. Nos mais caros, o movimento está estável graças a seu público cativo. Já nos estabelecimentos onde o gasto médio é menor que R$ 20, há avanço de até 15%.
“Há um fluxo migratório. O consumidor enfrenta a crise buscando opções mais acessíveis, cortando bebidas, sobremesas e escolhendo pratos e restaurantes mais baratos”, analisa Solmucci Jr. Diante do quadro nada favorável, o número de trabalhadores no setor caiu 4,64% entre abril e junho contra o primeiro trimestre deste ano, e a previsão é cortar ainda mais, aponta a Abrasel.
O empresário Valter Luiz Sanches, sócio há 15 anos do restaurante Genuíno, na Vila Mariana, demitiu cinco funcionários desde o fim de 2014. O movimento não diminuiu, mas as pessoas têm gastado menos. No primeiro semestre deste ano, o tíquete médio estava em R$ 70. Agora, caiu para R$ 59.
Até o fim do ano, Sanches espera queda de 10% no faturamento em relação a 2014. “Ainda estou no azul, mas setembro não foi tão bom quanto agosto, que já tinha sido pior que julho. Está ficando preocupante”, diz o empresário, que reclama da alta de custos e da impossibilidade de reajustar preços, sob o risco de “afugentar” clientes. “Cortei do cardápio itens mais caros que não têm muita saída. Também reduzi estoque, estou fazendo compras menores”, conta Sanches, que aposta em promoções para atrair clientes.
Um sinal favorável, de acordo com a Abrasel, é que 49% dos empresários ouvidos declararam ter investido no segundo trimestre. No Genuíno, Sanches investiu em água de reúso, lâmpadas LED e instalação de timer para desligar automaticamente alguns aparelhos durante a madrugada. “O custo está maior, preciso economizar.”