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Retrocessos de Dilma podem comprometer avanços no Brasil

O senador Humberto Costa (PT-PE) escreveu artigo (veiculado pelo Uol) com o objetivo de apontar o suposto vazio do discurso político de Eduardo Campos, pré-candidato presidencial da aliança PSB/Rede/PPS/PPL. Segundo o ex-ministro da Saúde, Eduardo “vende um “novo Brasil” como se vivêssemos numa propaganda de TV”.

Costa é verborrágico, mas não apresenta um único argumento que aponte para o suposto caráter publicitário da pré-candidatura de Eduardo. A “prova” seria a semelhança do discurso do ex-governador pernambucano com o de Barack Obama na campanha de 2008. Costa reproduz uma frase dita então pelo atual presidente americano. “[O povo] se levanta e insiste em novas ideias e nova liderança, uma nova política para um novo tempo.”

O senador petista pergunta então ao leitor se ele acha que essas palavras são de Eduardo Campos. “Não”, responde Costa, “elas foram ditas por Barack Obama em 2008, quando ele disputou pela primeira vez a Presidência dos Estados Unidos”.

A hercúlea tarefa de desconstruir o adversário político faz o parlamentar pernambucano omitir deliberadamente aquilo que todo conterrâneo seu sabe e o Brasil começa a conhecer: Eduardo deixou o governo de Pernambuco com a maior taxa de aprovação entre seus pares de outros Estados.

Sua gestão, focada na superação das carências locais, foi reconhecida pela ONU como exemplar, e a sua disposição para compartilhar essa experiência com o Brasil permitiu o  encontro com a ex-ministra Marina Silva para se incorporar à pauta da sustentabilidade, de reconhecer que o desenvolvimento social e econômico do país exige também o cuidado com a preservação de seu patrimônio ambiental.

O pré-candidato do PSB à presidência não tem apenas o “discurso do novo”. Eduardo está, de fato, comprometido com a defesa de uma nova forma de fazer política. Reconhece as conquistas econômicas e sociais obtidas durante os governos do PSDB e do PT, mas acredita que não é possível governar o país distribuindo pedaços do Estado.

Sabe que as políticas públicas não podem ser concebidas e executadas apenas para a perpetuação de um grupo no poder. Conhece os riscos criados por uma lógica de governança puramente eleitoreira.

As consequências do fisiologismo hoje em vigor estão à vista de todos. É uma política que compromete o futuro de empresas como a Petrobras e a Eletrobrás, coloca em risco a estabilidade fiscal do país e estimula a inflação. Alta de preços que ameaça a renda do trabalhador.

Nenhuma das pré-candidaturas até agora colocadas tem a densidade política da aliança criada em torno de Eduardo Campos. Desde o anúncio da aliança entre o Partido Socialista Brasileiro e a Rede Sustentabilidade, os principais esforços acontecem na discussão do futuro programa de governo. Foi criada uma plataforma aberta a todos os eleitores, que abriga sugestões dos mais variados setores de nossa sociedade.

Já foram realizados quatro grandes encontros regionais para discutir as diretrizes programáticas. E há duas semanas começaram a ser realizadas oficinas sobre temas específicos, como políticas econômica e energética, reunindo alguns dos mais renomados estudiosos brasileiros. Há outra pré-candidatura comprometida a esse ponto com a construção de uma agenda estratégica para o Brasil?

De fato, ao contrário do que afirma o senador, o partido que se especializou em esvaziar o discurso político em favor da lógica publicitária foi o PT.

Voltemos à frase de Obama. “uma nova política para um novo tempo”. O eleitor paulistano sabe bem quem copiou quem. “O homem novo para um tempo novo” foi o mote usado pelo publicitário João Santana para vender a candidatura de Fernando Haddad à prefeitura de São Paulo. O mesmo Santana que fez as últimas campanhas de Lula e hoje se dedica à tortuosa tarefa de convencer o eleitor brasileiro das excelências do governo Dilma.

O governo “revolucionário” de Costa tem, na verdade, a marca do retrocesso. Na economia, abandonou os fundamentos da estabilidade e provocou a desindustrialização. Na política, estimulou o fisiologismo e o patrimonialismo. Na energia, deixa o país com o risco do racionamento à porta. Na questão ambiental, as taxas de desmatamento se ampliaram. Na segurança pública, o medo domina a vida das pessoas. Na infraestrutura, as péssimas estradas e os portos ineficientes provocam perdas para nossos exportadores.

Novamente pela “criatividade” de João Santana, a “revolução silenciosa” do petista agora ganhou sua vertente do terror, presente nos processos políticos discricionários. Em vez de se expor ao debate sobre os desafios do Brasil, o PT usa a publicidade partidária para ameaçar o eleitor com “fantasmas” que só estão no imaginário de quem teme a alternância democrática na condução do país.

Nesse cenário, dá para entender porque 74% dos eleitores brasileiros querem mudanças. Infelizmente, para o senador Humberto Costa, todos devem ser uns frouxos.

Rodrigo Rollemberg

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