Hamed Seabra
Faz algum tempo, anos já, escrevi um artigo sobre os benefícios da sistematização de solos em relação aos lençóis freáticos (os depósitos de água subterrâneos que alimentam nascentes e poços). Em um evento sobre CAR – Cadastro Ambiental Rural, no anexo IV da Câmara dos Deputados, tive a oportunidade de conhecer o atual secretário de Agricultura e Desenvolvimento Agrário do Distrito Federal, José Guilherme Tollstadius Leal, e, da plenária (mais tarde, pessoalmente), propus a realização da tal sistematização.
Para status de Governo, por mais apertado que seja o orçamento, não é lá grande coisa o valor investido: basta, apenas, um engenheiro agrimensor ou técnico em agrimensura, auxiliado por um mateiro acompanhado do seu equipamento e uma máquina escavadeira – pá carregadeira e retroescavadeira. Melhor, ainda, se juntar uma patroladeira (motoniveladora) para realizar as obras necessárias nas estradas de chão.
Com esse, digamos, “kit básico”, bastaria realizar as intervenções necessárias nas áreas rurais – no nosso caso, do DF – com o nivelamento de estradas e saídas de água laterais, os escoadouros ou famosos “bigodes”, desviando as águas das enxurradas para “baciões” ou “panelões”, locais em que, em repouso, se infiltram lentamente no solo rumo aos lençóis freáticos.
Nas áreas ou propriedades rurais, sobretudo em terrenos mais ondulados, as retroescavadeiras, ou até mesmo simples arados de discos, seriam utilizados na feitura de curvas de nível ou terraceamentos. Essas estruturas, simplíssimas, são suficientes para impedir o escoamento superficial das águas das chuvas, sobretudo as torrenciais, de modo a evitar-se a erosão superficial laminar com o consequente assoreamento dos corpos hídricos – os córregos, rios, nascentes, lagos, tanques e por aí vai – além, é claro, de, novamente, forçar a infiltração das águas contidas nos terraços e curvas de nível para que penetrem nas camadas inferiores do solo, juntando-se às amigas primeiras, lá nos lençóis freáticos.
Trabalhos e trabalhos já foram divulgados e publicados na mídia, que mostram, categoricamente, os auspiciosos resultados que simples barragens – e, aí, podem se incluir os terraços e curvas de nível – promovem nas nascentes e lençóis freáticos, com franca elevação do seu nível de água e o consequente rebrote dos “olhos d’água”, bem como a elevação do nível nos poços e cacimbas.
Em última análise, o por quê desse breve comentário: em Brasília e, por consequência, em todo o Distrito Federal, já se fala em racionamento de água nas torneiras residenciais, em função da elevada queda nos níveis de água que abastecem as populações urbanas da nossa capital. E, se o Governo tivesse a preocupação de realizar as ações preventivas aqui mencionadas – a simples sistematização de solos, aparelhada com patrulha mecânica e técnicos qualificados – os níveis das reservas hídricas de Santa Maria, no Parque Nacional de Brasília, e da Barragem do Descoberto, na divisa com Águas Lindas de Goiás, com total certeza, não teriam baixado tanto como tem ocorrido nos últimos meses. Mesmo com a redução dos índices pluviométricos, como ocorreu neste último período.
Os consumidores residenciais e comerciais não teriam contas amargas a pagar. E os produtores rurais, então, até agradeceriam de joelhos!