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Revolução, agitação, confederação… 200 anos da morte de Frei Caneca

A sugestão, em tom de desafio, veio da professora Cláudia Neu. A Chefia de Redação passa o comando e uma breve pesquisa permite-me enaltecer a história de Frei Caneca. Daqui a exatos 30 dias será lembrado o bicentenário da sua morte.

Transportar-se para o 13 de janeiro de 1824 não é apenas honrar a memória de um homem que chegou a proclamar a Confederação do Equador e tombou no Forte das Cinco Pontas, no Recife. É, acima de tudo, revisitar questões que permanecem atuais, como a centralização do poder, a desigualdade e a busca por justiça social. Joaquim do Amor Divino Rabelo é um símbolo de resistência e um lembrete poderoso de que a luta por um Brasil melhor nunca termina.

Figura central na Confederação do Equador, movimento republicano que eclodiu em 1824 como resposta ao autoritarismo do governo de D. Pedro I, Frei Caneca, um intelectual, orador e ferrenho defensor da autonomia das províncias, defendeu um Brasil mais justo e igualitário que, passados 200 anos, não chega. Mesmo diante de perseguições e ameaças, ele manteve sua posição firme, pagando o preço mais alto por sua coragem.

A viagem é imaginária, com roteiro de poetas de literatura de cordel e de repentistas que circulam pelo Nordeste, desafiando Deus e o Diabo na Terra do Sol; vimos sob o calor escaldante do Recife, entre becos de pedra e ânimos em brasa, Frei Caneca erguer sua voz. Não uma voz qualquer, mas a melodia da liberdade, o sussurro de uma pátria que ainda não sabia seu nome.  Ele não carregava apenas o peso do hábito, mas o peso de uma nação que sonhava. Era o padre, o jornalista, o revolucionário. O homem que ousou acreditar que os laços podiam ser rompidos, que o jugo imperial não era destino, mas escolha.

O Brasil daquele 1824 era um corpo em febre, dividido entre a promessa de independência e a realidade de um trono que se alargava pelo continente. Frei Caneca, com sua pena afiada e a Bíblia no peito, transformou-se em um farol. Na Confederação do Equador, viu-se a faísca de um sonho coletivo, onde Pernambuco e seus irmãos do norte buscavam escrever sua própria história. Mas como todo sonho revolucionário, o preço foi alto.

Escreve o cordelista Antônio Pedro:

No altar do Nordeste nasceu, Sob o sol que queima e refaz. Frei Caneca, voz de brado e fé, Levantou-se contra o jugo mordaz. Oh, pátria que ainda rasteja, Por que temes tua própria mão? Se a liberdade é mãe que enseja, Por que cingir-te à servidão?. No Recife ouviu-se o clamor, De um povo que ansiava por luz. A Confederação foi seu ardor, Mas o império cruzou-lhe a cruz.

Carlos José, repentista, apresenta a réplica:

Preso, humilhado, Frei Caneca não se rendeu. Quando lhe ofereceram o perdão em troca do silêncio, respondeu com o aço de sua convicção. A vida não vale mais que a liberdade. E assim, no dia 13 de janeiro de 1825, encontrou sua morte. As balas de fuzil que lhe atravessaram o peito não calaram sua voz. Ao contrário, ecoaram pelos vales e montanhas do Brasil, inspirando gerações que viriam a seguir.

Calou-se o homem, mas nunca a ideia, Que vibra no vento e no chão. Frei Caneca vive onde a luta semeia, No sonho ardente de uma nação. E assim, sua cruz torna-se guia, O mártir ergue-se em memória. A Confederação, que não foi um dia. Permanece viva em nossa história.

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