Notibras

Reynaldo, o homem mais forte do mundo, encarava (se preciso) até tigre

A primeira vez que me deparei com Reynaldo, tive certeza de que ele era o homem mais forte do mundo. Seu físico, aos meus olhos de menino, parecia tão poderoso, que não duvidaria que poderia enfrentar até mesmo um tigre, caso um desses enormes felinos resolvesse aparecer por aqui, talvez fugido de algum zoológico ou circo. Mas eis que, enquanto admirava a fotografia desse Tarzan dos longínquos anos 1950, meu neto, de seis anos, pareceu intrigado com meu sorriso saudoso.

— O que foi, vovô?

— Vovô tá olhando umas fotos antigas, Pedrinho.

— Posso ver?

Coloquei o menino no colo. Ele, sem seguida, pareceu se encantar com o retrato do Reynaldo erguendo meu pai sobre a cabeça.

— Quem é?

— É um homem chamado Reynaldo, que aqui está levantando meu pai.

— Ele jogou o seu papai no chão?

— Não. Eles eram amigos. Estavam apenas posando para fotografia.

— Hum… Vovô, o seu papai também era fortão?

— Um pouco, mas não que nem o Reynaldo.

Essa inesperada cumplicidade infantil conseguiu unir meu neto àquele pivete de tantas décadas atrás. Passamos toda a tarde grudados, cheios de histórias para contar um para o outro. Pedrinho arrancava-me gargalhadas há tanto esquecidas. É engraçado como gente miúda tem essa capacidade de transformar os velhos em seres humanos mais gentis e menos pretensiosos em relação aos próprios feitos.

Ensinei meu neto a jogar botão. Danado como ele só, o moleque me aplicou uma goleada e, suspeito, me deixou marcar um gol por conta da amizade que desfrutamos naquele momento. E eu que pensava que era o maioral. Que nada! Pedrinho conseguiu entender como era aquele jogo, que até lhe dei todos os meus jogadores para que ele pudesse brincar com seus amigos.

Quase um mês após esse dia, o guri veio me visitar. Eufórico, me contou que seus colegas e ele estavam brincando de botão nos finais de semana. E já pensavam em criar um torneio, com direito até a prêmio, que seria um pote de sorvete para que todos se refrescassem.

Enquanto meu neto e eu conversávamos, minha filha e o marido, pai do Pedrinho, pareciam entretidos com o bolo de laranja comprado na padaria. Nisso, meu genro percebeu o álbum de fotografias sobre a estante e, então, começou a folheá-lo. Não tardou, o sujeito começa a rir.

— O que foi, papai?

— Já viu essa foto, filho?

O pai do meu neto, finalmente, apontou para fotografia do Reynaldo.

— Ah, papai, esse aí é o Reynaldo. Sabia que ele é o homem mais forte do mundo?

— Quem? Esse frangote?

Minha filha não deixou de perceber as feições de desgosto que o Pedrinho e eu fizemos. E. tentando contornar a asneira dita pelo marido, emendou:

— Olha quem fala, o senhor que ostenta essa barriga enorme. Pois saiba você que o Reynaldo era capaz de enfrentar até um tigre.

………………………………….

Eduardo Martínez é autor do livro “57 Contos e Crônicas por um Autor muito Velho”.
Sair da versão mobile