Os médicos do Hospital Geral de Massachusetts, nos Estados Unidos, alcançaram um marco histórico na medicina ao transplantarem um rim de porco geneticamente modificado para um homem de 62 anos que sofria de insuficiência renal avançada.
O procedimento cirúrgico, somente agora revelado, foi realizado no dia 16 de março. O sucesso da cirurgia marca um avanço fundamental no fornecimento de órgãos viáveis para pacientes em extrema necessidade, principalmente aqueles em estado terminal.
O rim veio de uma empresa de biotecnologia especializada em órgãos projetados compatíveis com humanos. Aproveitando a tecnologia de edição genética CRISPR-Cas9, os estudiosos modificaram os genes dos porcos, eliminando três deles envolvidos na produção de carboidratos direcionados ao sistema imunológico humano.
Emmanuelle Charpentier, da Unidade Max Planck para a Ciência de Patógenos, e Jennifer Doudna, da Universidade da Califórnia, ganharam conjuntamente o Prêmio Nobel de Química de 2020 pelo desenvolvimento do método CRISPR/Cas9 para edição de genoma. O que era dúvida, agora indica que a hemodiálise está com os dias contados.
Sete genes humanos foram introduzidos nos órgãos para prevenir complicações imunológicas que poderiam levar à rejeição. Além disso, fragmentos de DNA viral conhecidos como retrovírus endógenos, que representam riscos para os humanos, foram desativados nos genomas dos porcos.
Antes do transplante, o receptor Rick Slayman, foi submetido a dois tratamentos à base de anticorpos e recebeu medicamentos imunossupressores para evitar a rejeição de órgãos.
Leonardo V. Riella, diretor médico de transplante renal e professor de cirurgia expressou otimismo quanto ao destino do procedimento médico, prevendo um futuro onde a diálise se tornará obsoleta.
“Só no MGH (hospital onde foi feito o transpante), há mais de 1 m8il 400 pacientes em lista de espera para transplante renal. Infelizmente, alguns destes pacientes morrerão ou ficarão doentes demais para serem transplantados devido ao longo tempo de espera na diálise. Estou firmemente convencido de que o xenotransplante representa uma solução promissora para a crise de escassez de órgãos”, afirmou Riella.
O paciente, que sofria de diabetes tipo 2 e hipertensão, estava em diálise há sete anos antes de ser submetido a um transplante de rim humano em dezembro de 2018. No entanto, o órgão transplantado apresentou sinais de falência cinco anos depois, o que levou ao retorno à diálise em maio de 2023, acompanhada de complicações graves que necessitavam de visitas hospitalares frequentes.
“Sou paciente do Mass General Transplant Center há 11 anos e tenho o mais alto nível de confiança nos médicos, enfermeiros e equipe clínica que cuidaram de mim”, disse Slayman.
Segundo ele, quando o primeiro rim transplantado começou a falhar em 2023, a decisão de recorrer à equipe médica do MGH foi de total confiança. “Não queria apenas cumprir meus objetivos de melhorar a qualidade de vida, mas também prolongá-la”, pontuou.
Seu nefrologista, Winfred Williams, e a equipe do Centro de Transplantes propuseram um transplante de rim de porco, discutindo detalhadamente com ele as vantagens e desvantagens desse procedimento.
Embora não seja o primeiro transplante de rim de porco para humano, esta conquista baseia-se em esforços anteriores, com tentativas realizadas em indivíduos com morte cerebral sustentados por aparelhos de suporte vital. Um transplante mais recente, realizado por Robert Montgomery na NYU Langone Health, em julho de 2023, permitiu que os rins funcionassem por mais de um mês sem rejeição ou infecção.
Este feito médico segue uma linha de sucessos desde o primeiro transplante de órgão humano em 1954 até o primeiro transplante peniano do país em 2016.
Com mais de 100 mil americanos à espera de transplantes de órgãos e 17 que morrem diariamente devido à escassez de doações, soluções urgentes são imperativas, especialmente no meio de projeções de aumento de casos de doenças renais terminais nos EUA, de 29 para 68 por cento.
“O sucesso contínuo desta cirurgia renal inovadora representa um verdadeiro marco no campo do transplante. Também representa um avanço potencial na resolução de um dos problemas mais intratáveis em nosso campo, que é o acesso desigual dos pacientes de minorias étnicas à oportunidade de transplantes renais devido à extrema escassez de órgãos de doadores e outras barreiras baseadas no sistema (médico-hospitalar)”, disse Winfred Williams.