Rio-Petrópolis é hoje a mais violenta das 10 rodovias federais que cortam o estado
Publicado
emFrancisco Edson Alves
Pelo menos um assassinato a cada dois dias e meio. Essa é a rotina macabra que motoristas são obrigados a conviver nas dez rodovias federais que cortam o estado do Rio de Janeiro. Nos 1.470 quilômetros dos trechos fluminenses dessas estradas, conforme estatísticas da Polícia Rodoviária Federal (PRF), 152 pessoas foram vítimas de homicídios no ano passado, 61 a mais que em 2014. A mais perigosa é a BR-040 (Rio-Petrópolis), no trecho da Rodovia Whashington Luiz, na Baixada Fluminense, onde no último dia 9, na altura de Santa Cruz da Serra, o presidente da Editora Vozes, frei Antônio Moser, de 75 anos, foi assassinado a tiros durante tentativa de assalto.
No dia seguinte, X., de 45 anos, motorista de uma transportadora, sofreu tentativa de assalto no mesmo local onde Moser foi executado por desconhecidos. “Os bandidos estavam num Corola e num Cruiser. Acelerei e consegui escapar por uma agulha, mas o meu veículo foi atingido por dois tiros. Graças a Deus saí ileso”, relatou a vítima, em registro feito na 60ª DP (Campos Elíseos).
De acordo com quem trafega pela Washington Luiz, com frequência, tiroteios, arrastões e sequestros-relâmpago são comuns. “Meu irmão foi rendido próximo a Duque de Caxias na semana passada e só foi liberado uma hora depois na Favela do Lixão. Ano passado, meu primo também foi vítima de sequestro. Além de roubado, foi espancado e quase morreu”, lamentou o advogado R., de 42 anos.
Nessa mesma via, a subida da Serra de Petrópolis virou uma armadilha, principalmente para caminhoneiros. “Já fui assaltado duas vezes naquela região. Somos obrigados a subir devagar e, sem policiamento, viramos presas fáceis para as quadrilhas que roubam cargas”, testemunha Messias Lima do Amaral, de 32 anos, reclamando do preço do pedágio. “Pagamos caro para não termos segurança alguma”, desabafou.
A PRF afirma que além da BR-040, os outros pontos mais críticos em relação à violência são a BR-116 (Rodovia Presidente Dutra), em toda a extensão da Baixada Fluminense, e Rodovia Niterói-Manilha (BR-101), em São Gonçalo. Em nota, a PRF destaca a ousadia dos bandos. “Em quase todas as ocorrências há enfrentamentos, com bandidos atirando contra os policiais”, diz o texto.
A Polícia Civil não informou sobre o andamento de investigações de assassinatos nas rodovias. Sobre a morte de frei Moser, a Delegacia de Homicídios da Baixada Fluminense (DHBF) ainda não tinha pistas dos matadores até sexta-feira.
Em 12 meses, 470 veículos roubados
Nas dez rodovias federais do Rio, 470 veículos foram roubados e recuperados ano passado, 196 a mais que em 2014. Embora, segundo testemunhas, assaltos a motoristas e, inclusive, passageiros de ônibus, sejam diários, poucos registram os casos. Nos últimos dois anos, pouco mais de 120 vítimas procuraram delegacias.
“Os 19 mil petropolitanos que descem e sobem a serra todos os dias estão apavorados. São reféns do medo, numa rodovia que cobra o segundo pedágio mais caro do país (R$ 11,20)”, critica Fernando Varella, diretor da NovAmosanta, uma Ong que cobra mais segurança e mobilidadade urbana. A Concer, concessionária que administra a BR-040, alega não ter poder de polícia para coibir crimes.
PRF prende 897 em um ano
A PRF conta atualmente com 750 policiais nas estradas federais do Rio, o equivalente a um para cada dois quilômetros de malha. Em 2015, esse efetivo foi responsável pela prisão de 897 acusados de diversos tipos de crimes (o dobro do ano passado), incluindo homicídios, roubos e furtos de veículos, exploração sexual e tráfico de drogas.
“O efetivo ainda não é o ideal. Mas, se necessário, a Coordenação Geral de Operações, em Brasília, reforça o policiamento, com grupos de respostas rápidas”, informou nota da assessoria de comunicação da corporação, que conta com um helicóptero no Rio.
Ainda conforme a nota, 800 alunos estão sendo formados na Academia Nacional da PRF, em Santa Catarina. Eles irão atuar nas fronteiras, mas parte do grupo será enviado para o Rio.
De acordo com vítimas, os bandidos usam, além de fuzis e pistolas, armas de choque elétrico para imobilizar motoristas. Y., 50 anos, conta que estava em um ônibus da linha Barra-Mansa-Rio há duas semanas, quando dois bandidos, um deles com uma lanterna elétrica, anunciaram um assalto no entroncamento entre a Avenida Brasil e a Via Dutra, no Trevo das Margaridas. “Demorei a tirar o relógio e recebi uma descarga elétrica. Desmaiei na hora”, relata Y.
O Dia