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Rio roubado por Cabral, Witzel, Pezão e Garotinho agora vive bem e em ‘Paes’

Do alto de sua sabedoria, um poeta me disse uma vez que o rio corre para o mar, o pobre para o rico, o velho para o jovem, o fraco para o forte e a vida para a morte. Nada mais lúcido e lógico. Faltou dizer que, apesar de cheio de encantos mil e de ter recuperado a hegemonia do futebol nacional, o Rio de Janeiro será sempre o purgatório da beleza e do caos. A cidade realmente não é para amadores. No entanto, ainda é a única das que conheço que não conseguiu expulsar a natureza. A vida é muito curta para não morar pelo menos um dia no Rio. Eu não moro mais, mas, mesmo de longe, eu vivo de namoro com o Rio. Por lá, chova ou faça sol, é sempre 40 graus.

É a cidade dos contos, das piadas, dos poetas, dos boêmios, das favelas, dos sambistas e pagodeiros, das madrugadas cheirando a birita, das moças em pé nas esquinas, da malandragem armada e da bandidagem eleita democraticamente sendo presa por roubar dinheiro público. Alegria e Rio de Janeiro ainda são sinônimos? A bem da verdade, acho que já foram. Deixaram de ser quando os políticos resolveram liberar o crime organizado para assumir o asfalto, desde que as lideranças criminosas financiassem suas eventuais campanhas.

O problema é que esses políticos e a associação com o crime passaram a ser permanentes. Como explicar, por exemplo, que, em pouco mais de sete anos, seis governadores ou ex-governadores do Estado foram presos ou afastados do mandato. Wilson Witzel, Luiz Fernando Pezão, Sérgio Cabral, Anthony Garotinho, Rosinha Garotinho e Moreira Franco já experimentaram dos aprazíveis aposentos penitenciários que alguns deles inauguraram. É o princípio básico da lei de causa e efeito, que é a relação entre dois eventos consecutivos.

Mais triste do que a violência na cidade são as piadas criadas por despeitados, invejosos ou mesmo por aqueles que, como eu, acham o Rio de Janeiro lindo, maravilhoso e inigualável, mas irrecuperável do ponto de vista da segurança. Uma pena, mas verdade nua e crua. Entre as piadas, as mais profundas são, obviamente, aquelas que são a cara da cidade e tristemente envolvem os governadores bandidos e banidos pelo povo. Uma das mais hilárias remete a uma suposta indagação de um menino à mãe.

O moleque quis saber desde quando a roubalheira acontece no Rio de Janeiro. Sem pestanejar, a genitora responde que tudo começou com Cabral. Querendo mais detalhes, o fedelho perguntou sobre a faixa de idade em que ele, o precursor da bandalheira com dinheiro público, começou. Ainda Garotinho, afirmou a mãe. Curioso até o pé da alma, o garoto emendou: “E como ele roubava? Era com a mão grande?” Não filho! Era com o Pezão”, disse a paciente mãe. Encerrado o interrogatório de filho para mãe, acho que faltou a mãe dizer que agora está tudo em Paes.

Lembrando um outro sábio poeta, o Rio de Janeiro faz a alma do brasileiro cantar. É lá que tem o Cristo Redentor com os braços abertos sobre a antiga Guanabara. É o Rio onde a morena vai sambar e seu corpo balançar. Em outro Tom, o mesmo Jobim cunhou uma das mais famosas teses a respeito da Cidade Maravilhosa: “Viver no Rio é uma merda, mas é bom. Viver em Nova York é bom, mas é uma merda”. Quem discorda? Que me perdoe a Paulicéia desvairada, mas discordar do Rio é coisa de louco que teima em querer ser um sujeito normal. Antes de cair na folia, vale lembrar que Flamengo, Fluminense e Botafogo, os três últimos campeões brasileiros, são do Rio de Janeiro. Esperem que o Vascão vem aí…

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*Wenceslau Araújo é Editor-chefe de Notibras

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