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Neurociência da Magia

Rituais espirituais têm um impacto profundo no cérebro humano

Publicado

Autor/Imagem:
Marco Mammoli - Foto de Arquivo

A neuroquímica é um campo fascinante das neurociências que estuda como o cérebro humano responde a estímulos, inclusive aquelas experiências que percebemos como paranormais ou sobrenaturais. Essas respostas, elétricas e neuronais, das atividades químicas podem ser compreendidas e medidas através de instrumentos e métodos científicos.

A Magia, por sua vez, não é apenas um mistério, mas um reflexo das relações complexas cerebrais em busca do entendimento daquilo que nos cerca e inspira. Ela nos mostra como estamos predispostos a buscar num tripé cognitivo dos mundos externo e interno a explicação para a existência do Ser, pautado nas indagações: qual é o significado das coisas; que tipo de prazer ou sensação causam no indivíduo, e, quais conexões podem ocorrer, ou tipo de dependência é criada?

Essa interação entre biologia e psicologia é o que faz a Magia, no sentido mais amplo, continuar a fascinar a humanidade. Pode-se dizer que a Magia surge quando o homem busca respostas para o que o cerca, para o que sente e para o que sonha, ou seja; para entender a si, o todo e tudo. Talvez tenha sido a primeira forma de compreender e se situar num mundo cheio de estímulos, perigos e descobertas.

Rituais espirituais têm um impacto profundo no cérebro humano, muitas vezes promovendo estados mentais de calma, pertencimento, transcendência, medo e alterações comportamentais. Esses efeitos resultam das interações complexas entre áreas cerebrais e seus neurotransmissores, moldando nossas percepções, emoções, comportamentos e percepções, levando em contas aspectos epigenéticos.

Numa perspectiva evolutiva podemos supor que os rituais espirituais podem ter sido desenvolvidos como mecanismos para fortalecer laços sociais, forjar irmandades e promover cooperação em grupos. A oferta de um conforto futuro e de justiça divina podem reduzir as incertezas da vida e do viver, aumentar a resiliência ao sofrimento individual, e em grupo, e reforçar identidades coletivas. Esses rituais e práticas formam o cimento místico, unindo grupos e povos plasmando novas etnias e identidades culturais.

Até o momento podemos dividir em cinco etapas, ou estágios, o processo da percepção do inexplicável:

A Percepção do Inexplicável ou a sensação de incompreensão é o que desafia nosso entendimento lógico ou nossas expectativas. Ele estimula, entre outras, o córtex pré-frontal que executa e organiza tarefas (flexibilidade cognitiva), regulação emocional, atenção e concentração, memória de curto prazo, autocontrole e motivação, tomada de decisões baseadas em “risco e recompensa”. O Sistema de recompensa é responsável pelos picos de dopamina quando algo “mágico” acontece, criando uma sensação de prazer ou fascinação.

A Química da Surpresa são experiências paranormais, sobrenaturais ou misteriosas que, frequentemente, provocam uma resposta de surpresa. Temos, inicialmente, associados a esses neurotransmissores, a Dopamina, ligada à sensação de prazer e antecipação de recompensas, importante na resposta à surpresa, e a Adrenalina, liberada nos momentos de espanto ou choque, aumentando a atenção e a excitação.

A Empatia, Conexão e Admiração são emoções intensas, desencadeadas por histórias ou performances encantadoras. Isso envolve a Ocitocina que promove sentimentos de conexão social e confiança, e a Endorfina, trazendo a sensação de euforia que pode acompanhar momentos “mágicos”.

As Crenças e o Papel do Sistema Límbico ou “Cérebro emocional” se manifestam quando experimentamos algo mágico, no momento em que nosso sistema límbico, que regula as emoções, comportamentos, memória e funções instintivas, desempenha um papel significativo. O hipocampo, vinculado à formação e consolidação de memórias, pode associar essas experiências a sentimentos que reforçam a crenças em fenômenos inexplicáveis.

As Alterações de Consciência estão sujeitas à algumas práticas, como meditação ou dança, liberando Serotonina, relacionada a estados de calma e transcendência e Anandamida (endocanabinoide), envolvida em estados de relaxamento e percepção alterada. A prática de rituais, de forma organizada e disciplinada, atua no sistema nervoso gerando respostas adaptativas, no mínimo, interessantes. Podemos identificar, até o momento, algumas ações características, ou fatos associados à essas práticas:

Os rituais espirituais frequentemente envolvem práticas comunitárias, como cânticos, danças ou orações coletivas, que ativam o sistema límbico, responsável por emoções, memórias e conexões. Durante essas práticas, podem estimular a liberação de Ocitocina como resposta ao contato social, sentimentos de confiança, conexão e unidade, e Endorfinas, pois atividades rítmicas ou físicas causam prazer, euforia e laços comunitários.

Meditação, oração ou respiração controlada, ajudam a reduzir o estresse, pois ativam o sistema nervoso parassimpático a diminuir a frequência cardíaca, redução do cortisol que fica elevado em situações de estresse, aumento da serotonina que traz calma, bem-estar e induz relaxamento.

A indução a estados de consciência alterada, conhecido como “êxtase espiritual” ou transcendência, que causa a ativação do córtex pré-frontal medial, levando a autorreflexão e experiências espirituais profundas, libera a dopamina, gerando sensação de conexão com algo maior ou de prazer intenso e modulação dos circuitos do córtex cingulado, trazendo percepção de significado e propósito. A repetição dos rituais espirituais cria previsibilidade, reduzindo a ansiedade e ativa o Córtex pré-frontal dorsal, percepção de controle, e a amígdala que reduz a hiperatividade, aliviando respostas emocionais intensas relacionadas ao medo ou incerteza. Os rituais frequentemente envolvem símbolos, gestos e histórias que são reforçados pela repetição e pela emoção associada. O hipocampo e a amígdala trabalham juntos para transformar essas experiências em memórias marcantes.

A prática regular de rituais pode remodelar a plasticidade cerebral, fortalecendo circuitos associados à regulação emocional e ao bem-estar. Estudos indicam que praticantes regulares de meditação, oração ou outros rituais espirituais apresentam maior resiliência ao estresse, melhoria na saúde mental e física e maior capacidade de empatia e compaixão.

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Marco Mammoli – @vitriolalquimico – Membro Conselheiro do Colégio dos Magos e Sacerdotisas/@colegiodosmagosesacerdotisas

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