Gustavo Porto
O ex-ministro da Agricultura e coordenador do Centro de Agronegócios da Fundação Getúlio Vargas (GV Agro), Roberto Rodrigues, disse, em entrevista ao Broadcast Agro, que o setor agropecuário precisa ser menos dependente do Estado. Ele argumenta que o agronegócio nacional está bastante avançado para precisar da intervenção estatal. E criticou o modelo de discussão das demandas do setor por meio das câmaras setoriais que, segundo disse, marginalizou o agronegócio.
Rodrigues admite que ele próprio “tem muito a ver com essa” postura do agronegócio porque, como liderança setorial, trabalhou “a vida inteira” para defender o apoio estatal. “Está claro que um dos problemas que o agro teve até hoje no Brasil, do ponto de vista de políticas públicas insuficientes, foi exatamente o fato de a gente estar sempre defendendo políticas públicas para o setor.”
O ex-ministro defende que a posição sobre assuntos do agronegócio seja ampliada e que o setor busque plataformas mais amplas. “Temos de discutir um ajuste fiscal para o Brasil e não para o agro; um crédito para empresariado brasileiro e não para o agronegócio brasileiro; melhoria na logística para toda a atividade produtiva, reformas tributária e trabalhista completas”, disse Rodrigues. “Nós não somos produtores rurais brasileiros; somos brasileiros e produtores rurais.
Então, o Brasil vem antes e, se iniciarmos uma nova discussão com essa visão, de tratar os problemas do Brasil e incorporá-los ao agro, a solução será benéfica ao agro”, acrescentou.
Rodrigues avaliou que a possível restrição de recursos públicos, já anunciada pelo ministro da Agricultura, Blairo Maggi, também pode ajudar o setor a reduzir a dependência estatal. Ele lembrou que praticamente um terço do financiamento agrícola hoje vem de papéis comercializados pelo setor financeiro, como as Letras de Crédito do Agronegócio (LCAs), que têm parte dos recursos destinada ao crédito rural. “Já há uma redução da dependência privada do Estado.”
O ex-ministro classificou como “muito bom” e “muito articulado” o diálogo do setor agropecuário com o novo governo Michel Temer e também com Maggi, “um ministro da Agricultura que conhece o setor e gestão pública”. Rodrigues elogiou a coordenação e a relação entre os ministérios importantes para o agronegócio – Fazenda, Agricultura e Relações Exteriores -, mas alertou que só com a definição do processo de impeachment da presidente Dilma Rousseff haverá uma visão clara de como serão os processos no governo. “De qualquer forma, é evidente que um novo governo instalado depois do impeachment tem de tomar decisões e medidas muito duras, que não são populares, simpáticas e, portanto, isso trará desconforto político ao governo.”