Roleta russa com nove jovens cria suspense com os suicidas de Raphael Montes
Publicado
emLeandro Nunes
Nove jovens adentram um porão para participar de um jogo. Ao final, nenhum deles sai vivo. Fique tranquilo, isso não é um spoiler, mas apenas o começo da trama de Suicidas, romance de suspense do escritor carioca Raphael Montes.
Em seu livro de estreia, universitários ricos da elite carioca se juntam para uma partida de roleta-russa. E é o nome desse jogo mortal que batiza o título da montagem de César Baptista que retorna em cartaz nesta sexta-feira, 8, nos Parlapatões. O livro foi apresentado ao diretor pelo ator Hélio Souto. “Quando li, percebi que a história era muito teatral e a ideia de montar um suspense policial nos palcos poderia ser bem interessante”, explica Souto. Para Baptista, o desafio da montagem foi compreender como manejar os três eixos narrativos – o encontro das mães, o momento do jogo e um diário.
O diretor admite que seu interesse em participar do projeto se deve também às experiências vividas como assistente de direção nas adaptações de A Pedra do Reino (2006), dirigida por Antunes Filho, e Crônica de Uma Casa Assassinada (2011), por Gabriel Villela. “Pude acompanhar o método desses grandes diretores e, baseado nisso, procuro trilhar um caminho.”
No caso de Suicidas, como principal característica de um bom suspense, as informações podem ser comparadas à iscas que servem tanto para atrair quanto para despistar. A figura responsável por essa função é Ale, o narrador-personagem e autor do diário. Segundo o diretor, ele tem um perfil semelhante a Bentinho, personagem machadiano de Dom Casmurro. “A história é acompanhada por esses pontos de vista.” E dá uma dica: “Desconfie de tudo”.
O ator Dan Rosseto, que interpreta Ale, defende que o objetivo do jovem ao participar do jogo é o de escrever um livro. “Para isso, ele passa a peça registrando todos os acontecimentos.” Aos poucos, ele age como um filtro que compartilha segredos para os diferentes interlocutores. “Algumas narrações são para o público, outras exclusivamente para alguns personagens ou para todo o elenco, que reage de acordo”, explica Rosseto. “César foi muito inteligente e contemporâneo ao trabalhar essa ‘narrativa do narrador’.”
Tal resultado só foi possível devido ao modo de trabalho “quase artesanal” do diretor. “Embora eu tivesse o rumo na cabeça, o trabalho era escrever as cenas, entregar para os atores, levar para o palco e ver se funcionava”, enumera Baptista. “Por vezes, certas cenas não funcionavam e era preciso retornar ao texto original.” No início, a primeira versão da peça tinha quase três horas. A saber, o livro tem 487 páginas. “Agora, estamos com pouco mais de uma hora e meia.”
E como Roleta-Russa se trata de uma investigação, Rosseto conta que o diretor conseguiu criar até mesmo um certo mistério no elenco. “Ele me entregou a última cena dois dias antes da estreia”, conta. “Foi fiel ao livro, mas, naquele dia, ensaiamos à portas fechadas.”