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Nuvens

Rosana, discreta, deixa que paixões explodam como vulcões

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Autor/Imagem:
Cadu Matos - Foto Produção Francisco Filipino

Rosana avançava envolta em uma nuvem de silêncio.

Falavam com ela, não respondia. Em geral porque, tinha certeza, não se interessaria pelo que a pessoa tinha a dizer. Outras vezes até tentava, mas logo dava de ombros e desistia. Conversar com alguém era tão difícil, tão arriscado, dava margem a tantos mal-entendidos…

Avistou a mulher na calçada oposta, a uns 200 metros, vindo em sua direção. Movia-se, linda, magnífica e majestosa, em meio a uma pesada nuvem de erotismo. Rosana quase podia sentir a intensa carga elétrica que roçava os lóbulos de suas orelhas, sua nuca, seu pescoço, os bicos de seus seios, suas coxas e adjacências… Ficou excitada, e sabia que estava longe de ser a única. Todos sentiam o impacto de sua presença: homens, mulheres, até mesmo pré-adolescentes de ambos os sexos.

“Quando ela encontrar alguém dando choques, que nem ela, a coisa vai explodir”, pensou. Tentou avisar a desconhecida sobre os riscos de um encontro desses, mas o silêncio se tornara sua segunda natureza. Deu um suspiro e continuou andando.

E então, de uma rua transversal, surgiu um homem de uns 30 anos, mergulhado em uma nuvem de desejo. Ele fizera sexo virtual com uma amiga mas não chegara ao clímax. Agora, subindo pelas paredes, caminhava olhando em todas as direções, à procura de uma fêmea tesuda, qualquer uma.

Rosana tentou avisar o desconhecido sobre os riscos do encontro que se aproximava, mas o silêncio se tornara sua segunda natureza. Deu um suspiro, deteve-se e ficou observando o avanço dos dois, cada vez mais perto um do outro.

Como previsto, voaram faíscas quando as nuvens de erotismo e desejo se chocaram. Os corpos nem chegaram a se tocar; bastaram olhares, línguas umedecendo lábios, para uma profusão de relâmpagos ser desencadeada. Eles tocavam o solo, nos pés dos futuros amantes, subiam para o espaço e voltavam, terríveis, com explosões ensurdecedoras. Mataram algumas pessoas no bairro, apavoraram todas as demais.

Ela e ele nem ligaram. Passada a primeira saraivada de raios, foram para um hotel onde seus corpos aplacariam o desejo que os consumia. Rosana, que observava tudo isso, deu um sorriso, murmurou “Sejam felizes, seus loucos!” e caminhou de volta para casa. Em silêncio, como convinha.

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