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Sol acabrunhado

Rosas, se falassem, diriam que são perfeitas

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Autor/Imagem:
André Montanha - Foto Reprodução/Folha de Vitória

Vira e mexe, o homem sai em busca da perfeição. Impossível, responde minha amiga Ia, a um meu questionamento. O que mais se aproximaria do perfeito, repliquei, seria o milagroso achado de uma agulha num palheiro de proporções imensas como silos que armazenam grãos de soja.

Ia me transporta a palavras de minha avó. “Não tem perfeito sem defeito”. É verdade. Se para alguns algo é certo, para outros pode parecer diferente. Sorrindo, fixo os olhos no brilho dos olhos dela, e cito Cartola. As rosas não falam, mas se tivessem esse dom, diriam que são perfeitas. “Inclusive no perfume que roubam de ti”.

Essa busca fremente por excelência e aprimoramento, vem desde a Grécia. Era a época dos deuses do Olimpo e sua jornada constante na tentativa de alcançar a perfeição como sinal de vitória.

Não sabiam os míticos atenienses, espartanos e seus vizinhos, porém, que a imperfeição faz parte da condição humana, e muitas vezes, é nas falhas que encontramos oportunidades de crescimento e aprendizado.

Até para servir de uma ilustrativa inspiração, pondero com Ia que a verdadeira beleza está na singularidade e na autenticidade de cada indivíduo. Portanto, ao invés de buscá-la, enfatizo, devemos valorizar nossa jornada, a resiliência e a aceitação de nós mesmos. E minha amiga concorda.

Já que citei o poeta que escrevia como quem acaricia pétalas cobertas pelo orvalho, não posso deixar de lembrar Renato Russo, no refrão da música Perfeição. “Venha, meu coração está com pressa/Quando a esperança está dispersa/Só a verdade me liberta/Chega de maldade e ilusão/Venha, o amor tem sempre a porta aberta/E vem chegando a primavera/Nosso futuro recomeça/Venha, que o que vem é perfeição.

Voltando à Grécia antiga, onde – lembro como ensina a mitologia -, os deuses faziam suas esculturas com corpos verossímeis aos seus modelos, masculinos e femininos. Havia, porém, um desarranjo nisso. É o exemplo de Hefesto, (deus da metalurgia) o criador da cadeira de rodas. Ele tinha um corpo disforme, imperfeito perante aqueles que se diziam perfeitos, como os próprios Zeus, Hera, Poseidon, Atena, Ares, Deméter, Apolo, Ártemis, Afrodite, Hermes e Dionísio.

Sinônimo e antônimo, perfeição, como se vê, nem no Olimpo tinha lugar. Hoje é modismo pessoas com corpos bem definidos e musculosos, em muitos casos de famosos, que respiram academias, crossfit, fisiculturistas. Mas nós, reles mortais, que temos outra conduta e outros costumes, devemos nos ater apenas ao que sentenciou o filósofo Descartes: “Penso, logo existo”.

Resumindo, sugiro uma reflexão a Ia: a busca da perfeição, mesmo que não seja alcançada, deve estar na valorização do exercício da nossa mente, para nos aprimorarmos cada vez mais.

Ia mais uma vez sorriu. E o sol, que a tudo assistia, escondeu-se por trás de nuvens, entendendo que o brilho dos olhos de minha amiga ofuscava os seus raios.

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