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Ruas silenciosas e vazias dão duplo sentido à greve geral

Foto: José Cruz/Agência Brasil

Alexa Salomão

Acostumados aos recentes protestos, com milhares de populares tomando avenidas pelo País, a greve geral com “clima de feriado” provocou reações dúbias entre acadêmicos e analistas acostumados a observar – e interpretar – fenômenos econômicos, sociais e políticos que emergem das massas. Enquanto alguns avaliaram o “silêncio das ruas” como um sinal de baixo engajamento, outros consideraram o ato um sucesso, alegando que uma greve pressupõe a parada que se viu.

Para uma parcela dos observadores, os piquetes pontuais em ruas vazias deixaram a impressão de que a maioria das pessoas não foi trabalhar por pura falta de opção para se locomover ou medo de represália, já que na véspera se espalhou a informação de que manifestantes iriam interditar avenidas de grandes cidades e rodovias.

Nesse caso, o movimento estaria restrito à ação organizada de alguns sindicatos, corporações, grupos estudantis. Teria faltado a adesão espontânea da população, como se viu nos protestos contrários ao aumento da passagem do transporte público, em 2013, e em favor do impeachment, no ano passado.

“Não poderia haver silêncio nas ruas porque essa greve teve uma natureza diferente das greves por salários, como a dos metalúrgicos”, diz o pesquisador Samuel Pessôa, do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (Ibre/FGV).

“Fazer greve é parar porque você quer impor um prejuízo para o seu patrão; é usar um instrumento de barganha na relação conflituosa entre capital e trabalho, mas essa foi uma greve puramente política, contra algumas medidas do governo Temer: não ir para rua, nesse caso, não é greve, é feriado.”

Essa também foi a percepção do economista-chefe da Rio Bravo, Evandro Buccini, que teve ontem um dia de trabalho comum. Ficou para ele a percepção de que a mobilização deixou a desejar. “Pareceu um movimento isolado, com impacto baixo, mas se mobilizações similares se repetirem nas próximas semanas, posso reconsiderar a avaliação”, disse Buccini.

Sinal de força – O chefe do Departamento de Sociologia da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo (USP), Ruy Braga, tem análise oposta. “Não deixa de ser até certo ponto surpreendente que o movimento tenha se estruturado nacionalmente, algo que não é frequente na história do Brasil.

O “feriadão” nacional também foi interpretado por muitos como um sutil sinal de adesão da população. “A maioria das pessoas tem medo de participar desse tipo de manifestação: se ela faltar, perde o ponto”.

Porém, disse, seja qual for o motivo, o fato é que, para os padrões brasileiros, aderiu – sinalizando insatisfação. “O ponto é que a estamos assistindo a implantação de reformas que não foram referendados democraticamente e isso incomoda.

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