Tânia Monteiro
Preocupado com notícias divulgadas no fim de semana com inúmeras ilações sobre sabotagem envolvendo a queda do avião do ministro do Supremo Tribunal Federal, Teori Zavascki, na última quinta-feira, em Paraty, o presidente Michel Temer convocou o ministro da Defesa, Raul Jungmann, e o comandante da Aeronáutica, brigadeiro Nivaldo Rossato, para se informar sobre a investigação que está sendo realizada pela Força Aérea e sobre os prazos de conclusão dos trabalhos.
As primeiras informações repassadas ao presidente foram de que quando as condições climáticas são ruins, como aconteceu na hora do acidente, quando chovia forte, a falta de equipamentos de auxílio de instrumentos no aeroporto de Paraty, aumenta os riscos da operação naquela região, onde há registros de inúmeros acidentes. Embora todas as avaliações estejam sendo feitas e nada seja descartado, as informações chegadas ao Planalto até agora dão conta de que o que houve foi realmente um acidente. A avaliação de militares é de que houve desorientação do piloto por conta do mau tempo, mas a Aeronáutica evita qualquer avaliação preliminar sobre as causas do acidente.
No início da manhã desta segunda, em entrevista ao jornal O Estado de S.Paulo, o comandante da Aeronáutica, o brigadeiro Nivaldo Rossatto, declarou que “o ideal é que ninguém fosse para aquela região quando o tempo estivesse ruim porque lá a operação é apenas visual e o aeroporto não opera por instrumentos”. Segundo ele, o aeroporto de Paraty “fecha com facilidade e é comum aumentar o risco para este tipo de operação, já que ele está no meio de morros, e sem auxílio de navegação”.
Questionado se há previsão de que sejam feitas melhorias no aeroporto de Paraty, o comandante lembrou que isso “depende de muitos fatores”. Esta, no entanto, não é uma decisão da FAB. O comandante lembrou que existem dezenas de aeroportos similares ao de Paraty no Brasil mas, ao comentar as condições da região, observou que o movimento de helicópteros e aviões lá é grande , assim como o número de acidentes.
Na reunião realizada no Planalto pouco antes da hora do almoço e que durou cerca de meia hora, Temer foi informado de que não há prazo para o fim das investigações e que, desde o fim de semana, os técnicos tentavam recuperar o gravador de voz que havia sofrido danos devido ao contato com a água do mar. O equipamento precisa passar por processo de secagem para que se tenha certeza de que todos os dados e vozes poderão ser integralmente recuperados. Mais tarde, Temer foi avisado que os técnicos do Cenipa – Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos conseguiram recuperar “em perfeito estado” todas as gravações feitas nas cabines com os últimos 30 minutos de voo. Na conversa da manhã, Temer pediu “celeridade” às investigações, “sempre observando todas as regras e normas legais” exigidos.
Como o tempo de voo entre o Campo de Marte, de onde partiu o avião transportando o ministro Teori para Paraty, é de pouco mais de 40 minutos, praticamente toda a conversa do piloto foi preservada com a recuperação do conteúdo de voz da caixa-preta do King Air. O avião decolou às 13h01 e caiu pouco depois das 13h30. Também foram recolhidas no Departamento de Controle do Tráfego Aéreo (DECEA), as conversas mantidas entre o piloto e os controladores, no período em que o avião estava passando pela área que é monitorada, antes de entrar na região sem cobertura de radar, nas proximidades de Paraty, onde o voo só pode ser feito de forma visual pelo piloto.
No final da manhã desta segunda, o comandante disse ainda ao presidente Temer que além da fita do gravador, há muitas outras análises a serem feitas nos equipamentos e destroços. Informou, por exemplo, que sequer o motor do avião havia sido retirado dos destroços. Tudo que foi recuperado estava sendo transportado para o Rio de Janeiro, onde será estudado. Além do motor, todas as demais peças da aeronave serão devidamente submetidas a testes e análises. Os exames dos equipamentos estão sendo feitos no Rio e em Brasília, onde fica o laboratório de análise e leitura de dados do Cenipa.
A caixa-preta tem “duas partes”. A primeira é o gravador em si, que armazena os dados da aeronave e é altamente protegido. Como estava preservado, o equipamento já estava sob análise. Já a segunda, chamada de “base”, contém cabos e circuitos que fazem a ligação com o armazenamento de dados e a gravação das conversas. Essa parte foi “secada” e recuperada com sucesso pelos técnicos da FAB.
O brigadeiro Rossato fez questão de ressaltar que as investigações da FAB, diferentemente das outras feitas pela Polícia, visam apenas buscar as condições que levaram ao acidente para que se possa evitar que outros ocorram. Ele reiterou que seu pessoal “não se precipita nestas conclusões” e que tudo está sendo analisado, depoimentos inclusive que falam das fortes chuvas na região, gravações do Decea, enquanto estava na área monitorada, avaliação dos destroços. “Dependo das informações que tiverem, eles fazem mais ou menos rápido essa investigação. Estamos trabalhando desde o primeiro dia”, comentou.
O comandante não soube dizer qual foi o ultimo contato do piloto com o controle aéreo da área do Rio de Janeiro e se ele comentou estar enfrentando algum problema.”Não tenho essa informação. Isso é da investigação”, declarou ele, acrescentando que “os contatos serão apresentados pelo Decea, todas as conversas até o ponto que ele sai da frequência e passa a fazer voo visual”.