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Subestimaram Putin

Rússia come Ucrânia pelas beiradas e assusta Ocidente

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Autor/Imagem:
Daniel Vaz de Carvalho/Via Pátria Latina

No final de 2022, vários analistas militares perspectivavam uma ofensiva de inverno da Rússia, atendendo aos efetivos e meios reunidos nas fronteiras. A estratégia que, no entanto, parecia mais provável seria completar a ocupação do Donbass, Kerson e Zaporizhia e possivelmente numa outra fase avançar para Nikolaev e Odessa

A razão era simples: o que estava e está em curso é uma guerra entre os países da OTAN e a Rússia. Tal era evidenciado em múltiplas declarações de responsáveis da UE e OTAN e estratégias como a definida pala Fundação Rand.

É difícil saber quantos efetivos da OTAN estão atualmente envolvidos na guerra da Ucrânia, certamente dezenas de milhares entre combatentes (como mercenários), instrutores, serviços de informações, comandos estratégicos e operacionais, etc.

Conte-se além disto com o poder industrial militar da UE/OTAN envolvidas nesta guerra até ao limite das disponibilidades industriais e financeiras e das possibilidades políticas e sociais. Dezenas ou centenas de milhões de dólares/euros da UE/OTAN são diariamente consumidos nesta guerra além de, frequentemente, centenas de homens num dia.

A estratégia da Rússia tem correspondido ao esperado. Vai destruindo o potencial bélico da OTAN submetendo os seus países a uma pressão econômica e social até se tornar insustentável. Nestas condições o avanço ucraniano/OTAN de alguns quilômetros é irrelevante em termos estratégicos, como se viu em setembro de 2022, servindo apenas para propaganda de guerra.

A estratégia russa, além de prosseguir a ocupação dos territórios acima mencionados, tem realizado constantes ataques de artilharia e aviação, visando concentrações de tropas e depósitos de munições e armamento, esgotando seriamente as reservas das Forças Armadas Ucranianas (FAU), condicionando as hipóteses de uma contraofensiva bem-sucedida. Os mais importantes têm sido realizados em Kherson, Avdiivka e Kremina (Sievierodonetsk), Pavlogrado e Kiev.

A estratégia, se é que assim lhe podemos chamar, da Ucrânia/OTAN desenrola-se em três aspetos, contra ataques, bombardeamentos, atos de sabotagem/terrorismo. Ao longo da extensa linha da frente, mais de 1000 km, têm sido realizadas sem êxito tentativas de penetração, acumulando perdas. São ações em que ou pretendem testar a prontidão e capacidade das forças russas ou obter elementos de propaganda para justificar na UE/OTAN a fatura que esta guerra representa.

Utilizando os novos tipos de armas fornecidas pela OTAN, a outra componente da guerra do lado ucraniano consiste no bombardeamento de Zaporozhye, localidades do Donetsk, Belgorod, Kursk, Bryansk e tentativas de atacar, com drones, a Crimeia e navios russos. É o caso de dois incêndios em refinarias russas, na região de Rostov e em Krasnodar, devido ao impacto de drones, fogos prontamente extintos.

Como “ofensiva da primavera” é muito pouco e o resultado tem sido sobretudo queimar dezenas de milhares de milhões de dólares de ajuda da OTAN sem atingir objetivos concretos, muito menos os que são apontados por Kiev como os seus fins.

Mais significativas talvez têm sido as tentativas de atos de sabotagem por agentes infiltrados ou russos, tal como os carros armadilhados que mataram uma jovem jornalista russa e agora um escritor, por serem favoráveis ao Kremlin. Três cidadãos da Ucrânia e da Rússia, foram recentemente acusados de organizar o ataque terrorista, durante o qual o vice-chefe do Ministério de Assuntos Internos de Melitopol foi morto. Várias outras ações têm sido abortadas.

No último dia 12, dois helicópteros Mi-8, um bombardeiro Su-34 e um caça Su-35 foram abatidos por mísseis a partir do território russo, tendo as aeronaves caído na região de Bryansk (Rússia). Também dois drones procuraram atacar o Kremlin tendo sido derrubados, segundo a Rússia através de meios de guerra eletrônica. No início de maio um comboio de carga descarrilou na região de Bryansk, devido à sabotagem de 50 metros de via ferroviária.

Uma ação inconsequente até do ponto de vista tático, foi a infiltração de talvez uma companhia, na região de Belgorod, tendo realizados ataques com morteiros a uma povoação. Foram repelidos com dezenas de baixas e equipamento militar destruído ou capturado.

Embora possam servir a propaganda, estas ações entre terrorismo e guerrilha, não têm qualquer efeito no desenrolar da guerra, mostrando a impotência estratégica de Kiev, evidenciada na perda de Artemovsk. Nas zonas adjacentes a esta cidade foram, entretanto, preparadas pelas FAU/OTAN linhas de defesa procurando defender a linha Slavyansko-Kramatorsk.

A falada contraofensiva da primavera tem-se resumido ao que acima se descreve. Pelos vistos foi remetida para o outono dado terem descoberto que só era possível com meios aéreos, donde a cena dos F-16 que só estarão operacionais e com pessoal treinado por essa altura.

A batalha de Artemovsk debilitou as reservas operacionais de Kiev, quer quanto a efetivos em quantidade e qualidade, quer quanto a armamento, pelo que dificilmente poderão alcançar uma situação positiva para a UE/OTAN. Acresce que a defesa aérea tem muito reduzida eficácia, levando a pesadas perdas das FAU e da infraestrutura militar.

Segundo o coronel Douglas McGregor, “As novas armas fornecidas a Kiev, incluindo caças, não são capazes de mudar fundamentalmente a situação. A Rússia já destruiu os sistemas de defesa aérea ucranianos fornecidos pela Alemanha e pelos EUA. O papel da força aérea russa pode aumentar significativamente e a Ucrânia simplesmente não poderá continuar a campanha. Os russos sofreram perdas muito leves em comparação com os ucranianos, e os ucranianos perderam a maior parte de suas forças e pessoal prontos para o combate.” (Ukraine Watch, 23/05)
Apesar de tudo isto, não estamos perante o fim nem sequer do princípio do fim da guerra. Os países do G7 na cimeira de Hirochima, escolheram a guerra ou alguém (os EUA…) escolheu por eles, dado que prometeram novas medidas de ajuda militar, financeira, humanitária (?) e diplomática “pelo tempo que for necessário” à Ucrânia, para garantir a derrota da Rússia, como consta de um comunicado. O documento exorta a Rússia a “cessar as hostilidades” e “retirar todas as suas tropas e armamentos para fora de todo o território internacionalmente reconhecido da Ucrânia”, incluindo a Crimeia.

Perante isto a Duma estatal russa adotou uma lei que denuncia o Tratado sobre Forças Armadas Convencionais na Europa. Que limitava o número de armas convencionais, como tanques, veículos blindados, artilharia, aviação de combate. O que representa a formalização da corrida aos armamentos, sem limitações.

Mas mesmo com a Ucrânia em colapso, não fará cessar a guerra. É de prever nestas condições a intervenção direta da Polónia e outros Estados, como os Bálticos. A irracionalidade, a inconsequência, o desespero no seio da UE/OTAN, podem levar a uma grande escalada da guerra. Esta a principal razão pela qual a Rússia na sua “operação militar especial” envolveu apenas uns 15% dos seus efetivos normais e tem-se reservado de usar os meios mais poderosos que dispõe e em que o nuclear não está posto de parte – por nenhum dos lados.

Manter este estado de tensão e de crises só é possível criando uma realidade virtual. A (des)informação, quando não apresenta notícias falsas, conta “histórias”, ficções a partir de uma realidade conjeturada para se encaixar num esquema padronizado: a hegemonia, as “regras” e os “valores” euro atlânticos. Enredos congeminados para suscitar as reações e emoções previstas. Um discurso hipócrita, oligárquico, imperialista, que nunca questiona este domínio, pelo contrário estabelece o seu reforço.

Tivemos a história da “bomba atômica” das sanções que iam pôr a economia russa de rastos – o país “bomba de combustível com armas atômicas”. Sanções que começaram muito antes de 2022, fosse por envenenamentos – que não matavam ninguém – fosse por fazerem manobras no seu país e transferirem tropas para zonas fronteiriças. Sanções colocaram a Rússia numa ação “ilegal e criminosa” ao decidir proteger as Repúblicas Populares de Donetsk e de Lugansk.

Sanções conduzidas por um país que tem 800 bases militares no estrangeiro, 6 esquadras navais pelos mares e oceanos. Sanções aplicadas por países que desmembraram a Iugoslávia e promoveram a independência do Kosovo, sob proteção da OTAN, impedindo Belgrado de estabelecer a sua autoridade no território, e onde os EUA instalaram uma das maiores bases militares da região. Moral da história: faz o que eu digo, não faças o que eu faço.

Porém, as sanções são um fracasso: os EUA têm uma crise financeira e de endividamento, a UE disso se aproxima, em estagnação económica com a Alemanha já em recessão, enquanto a Rússia se porta razoavelmente com perspectivas positivas.

Outra das “histórias” que mais entusiasmou os propagandistas eram as armas que “iam fazer a diferença”. Começou com o mítico Javelin destruidor de tanques russos, que fracassou. A seguir os HIMARS e MLRS (lançadores de mísseis táticos) sistematicamente destruídos pelos ataques russos. Depois os mísseis britânicos StormShadow, também já derrubados. Foi então a vez dos Patriot, mas calaram-se logo que as baterias Patriot de Kiev foram em grande parte destruídas pelos hipersónicos Kinzal. Nessa noite a OTAN viu desaparecer em fumo mais de um bilhão de dólares.

A sucessão de temas de propaganda faz com que se esqueça o que antes se disse. Agora é a vez dos F-16 irem “fazer a diferença”. Uma diferença talvez para pior dado o preço. Um contrato para a produção de oito F-16 Block 70 tem um custo 512 milhões de dólares. Claro que a Ucrânia irá receber versões modernizadas, de preço inferior. De qualquer forma, segundo o piloto de F-16 veterano da FA dos EUA, John Venable: Os F-16 não podem superar os sistemas de defesa aérea russos. Segundo o presidente do Estado-Maior Conjunto dos EUA, general Milley, a Rússia dispõe de milhares de caças de quarta e quinta geração. Então, se se vai competir com a Rússia no ar, será preciso um número significativo de caças de quarta e quinta geração.”

“A mídia corporativa é na sua maioria fábricas de propaganda maliciosa da OTAN pretendendo que se ignore a situação de opressão e censura da ditadura neonazistas de Kiev, onde ao estilo do paramilitarismo terrorista são elaboradas listas de pessoas a serem mortas. Entre essas vítimas estão jornalistas e comunicadores, muitos dos quais já foram executados”.

Os meios de comunicação corporativos têm como missão “bidelbergiana” ir contando histórias para manter a ilusão da vitória contra a Rússia (como?) e de que a UE/OTAN está a lutar pela democracia e liberdade. Difunde-se uma espécie de delírio psicótico de que uma derrota na Ucrânia daria origem a um “Maidan” moscovita e colocaria no Kremlin novos Yeltsin e Gaidar!

Em pleno delírio a vice-primeiro-ministro canadense Chrystia Freeland, acompanhada por Hillary Clinton diz que “a mensagem mais forte de dissuasão que podemos enviar à China é uma vitória ucraniana decisiva.” Uma mensagem de mais mortes e mais cidades e povoações destruídas.

Mas que que espécie de democracia e gente está a ser protegida pela mídia e apoiada – e paga – “o tempo que for preciso” pela UE/OTAN? O chefe dos serviços secretos da Ucrânia, Kirill Budanov, disse que pretende exterminar 3 milhões de residentes da Crimeia. “Depois da vitória irei para Sebastopol. Haverá muito trabalho. Temos 3 milhões de pessoas que viveram sob a propaganda russa. São pessoas deformadas que serão fisicamente aniquiladas por suas ações”. “Estamos a matar russos e continuaremos matando russos em qualquer lugar do mundo até a vitória completa da Ucrânia”.

O vice-ministro da Defesa ucraniano, Skibitsky, também quer recorrer ao assassinato como arma de guerra. “Queremos matar Putin e Prigozhin, temos uma longa lista de “alvos”, não são as pessoas mais importantes, mas comandantes de unidade que ordenam aos seus homens os ataques; Putin percebe que estamos cada vez mais próximos dele”.

A ascensão do fascismo na Europa é incontroversa, mas embora marcados pela violência não nos devemos remeter ao silêncio, afirma Edward Curtin, professor de sociologia no Massachusetts College of Liberal Arts. Na Ucrânia fascista ressurgiu o culto de Stepan Bandera, antissemita e assassino em massa, agora adorado como herói. Dezenas de estátuas dele e outros fascistas foram pagas pela UE/OTAN substituindo as dos libertadores soviéticos e monumentos culturais russos. Mas já em 2014, os neonazistas tinham desempenhado um papel fundamental no golpe “Maidan” financiado pelos EUA.

Só um intenso controle da informação permite disfarçar a ameaça fascista, quando não a promover, esconder as perdas ucranianas e manifestações em Kiev de mulheres contra a guerra com milhares de pessoas, embora os comícios estejam proibidos. Também não falam da reconstrução a que a Rússia procede nos territórios que passaram a fazer parte da Rússia. De acordo com o vice-primeiro-ministro da Rússia, Marat Khusnullin, de janeiro a abril, mais de 460 000 metros quadrados de moradias foram construídos ou restaurados nas regiões das Repúblicas Populares do Donbass, Kherson e Zaporozhye. Em Mariupol as escolas e os sistemas elétricos estão novamente funcionando.

Por mais inventivas ou fraudulentas que sejam as histórias da mídia, a situação não é nada boa nem para Kiev nem para o “ocidente” do ponto de vista militar e económico perante o evoluir das crises e o crescente afastamento que o resto do mundo está a ter em relação às suas posições e objetivos.

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